》A Ásia acorda para o fim da tutela Ocidental – Expresso Noticias
Vamos ao assunto:
Enquanto o Ocidente distribui sanções, a Ásia, em silêncio e com pragmatismo, redesenha o mapa do poder global. O aperto de mão entre Narendra Modi e Xi Jinping não é apenas um gesto diplomático; é o som audível da rachadura na ordem mundial que conhecíamos
A cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) desta semana deveria ser observada com máxima atenção por todas as chancelarias ocidentais. Ela não representa apenas mais um encontro de líderes, mas a consolidação de um fato geopolítico inegável: a Ásia está buscando, e encontrando, seu próprio eixo, livre da tutela e das pressões de Washington e seus aliados. A aproximação entre Índia e China, duas nações que somam quase um terço da humanidade e que carregam um pesado histórico de desconfianças, é o sintoma mais potente dessa nova era.
O catalisador para este momento, ironicamente, veio do próprio Ocidente. Apenas cinco dias antes do encontro entre Modi e Xi, Washington, em um ato de soberba imperial, anunciou tarifas de 50% sobre produtos indianos. O motivo? Uma represália às compras soberanas de petróleo russo por Nova Déli.
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A Casa Branca, acostumada a ditar as regras do jogo e a punir quem ousa desobedecê-las, parece não ter compreendido que suas ações não geram mais submissão, mas sim reagrupamento. Ao tentar isolar a Índia, os Estados Unidos a empurraram diretamente para os braços da China, acelerando um realinhamento estratégico que vinha se desenhando em fogo baixo.
A resposta indiana foi cirúrgica e carregada de significado. Ao se encontrar com Xi, o primeiro-ministro Narendra Modi foi enfático ao afirmar que a relação entre Nova Déli e Pequim deve ser guiada pela “autonomia estratégica” e não interpretada “a partir da perspectiva de terceiros países”.
A mensagem é um torpedo na linha d’água da diplomacia ocidental, que há décadas se especializou em enxergar o mundo como um tabuleiro de xadrez onde as nações asiáticas são meros peões a serem movidos em seu grande jogo contra um ou outro adversário. Modi e Xi estão, na prática, virando o tabuleiro e afirmando que jogarão seu próprio jogo, com suas próprias regras.
É claro que as profundas diferenças entre os dois gigantes não desaparecerão com uma única cúpula. A ferida aberta pelo confronto militar de 2020 na fronteira do Himalaia, as preocupações indianas com a mega-barragem chinesa no Tibete e o persistente apoio de Pequim ao Paquistão são obstáculos reais e complexos.
Contudo, o que se viu em Xangai foi uma demonstração de maturidade política raramente vista. Ambos os líderes, Xi Jinping e Narendra Modi, concordaram publicamente que a disputa fronteiriça, embora séria, não deve definir a totalidade de uma relação vital.
Eles entenderam que, diante da pressão externa e da instabilidade global provocada por políticas comerciais agressivas, a cooperação é mais do que uma escolha: é uma necessidade estratégica para a sobrevivência e a prosperidade de suas nações.
O pragmatismo superou a animosidade histórica. A retomada de voos diretos, a suspensão de restrições a exportações chinesas e, de forma emblemática, a declaração do embaixador chinês de que Pequim “apoiará firmemente a Índia” diante das tarifas americanas são os tijolos com os quais se constrói essa nova arquitetura de poder.
O que está em jogo aqui é o próprio conceito de soberania. A OCX, reunindo potências como China, Rússia e Índia, além de nações da Ásia Central e do Oriente Médio, firma-se como um fórum onde os interesses regionais são discutidos e defendidos sem a necessidade da chancela ocidental. É a busca por um mundo multipolar, onde o desenvolvimento econômico e a segurança coletiva não dependam dos humores de Washington ou Bruxelas.
O Ocidente, em sua arrogância, enxerga essa aproximação com desconfiança, rotulando-a como um eixo autoritário ou uma aliança antidemocrática. Falha em perceber que essa união não é forjada primariamente pelo que seus membros são, mas pelo que eles não querem mais ser: vassalos em uma ordem global que privatiza os lucros e socializa os prejuízos de suas crises.
O encontro entre Modi e Xi não apaga as disputas, mas as coloca em perspectiva. Revela uma verdade inconveniente para a hegemonia ocidental: os problemas entre vizinhos asiáticos, por mais graves que sejam, estão se tornando menores do que o desejo coletivo de autonomia.
A Ásia não está pedindo permissão para ascender; está, através de gestos como este, anunciando que o centro de gravidade do mundo mudou de lugar. E quem não perceber essa mudança sísmica corre o risco de ficar para trás, agarrado às ruínas de uma ordem que já não existe mais.
Com informações de CNN*
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