》América desacredita nas tarifas feitas em seu nome – Expresso Noticias
Vamos ao assunto:
Pesquisa da CNN mostra que os americanos estão cada vez mais críticos ao apoio a Israel e à ideia de que os EUA devem liderar conflitos globais
A opinião pública nos Estados Unidos sobre a guerra em Gaza e o apoio militar americano a Israel vem mudando de forma expressiva nos últimos meses. Uma nova pesquisa conduzida pela CNN em parceria com a SSRS revela que, cada vez mais, os americanos questionam não apenas a conduta de Israel no conflito contra o Hamas, mas também o papel que os Estados Unidos devem desempenhar na arena internacional.
Segundo o levantamento, apenas 23% dos entrevistados acreditam que as ações de Israel em Gaza são totalmente justificadas — uma queda brusca de 27 pontos percentuais em comparação com outubro de 2023, logo após os ataques terroristas do Hamas em território israelense. O número revela uma virada significativa na percepção pública, refletindo um desgaste contínuo da imagem israelense entre os americanos, especialmente entre os mais jovens e os eleitores democratas.
A mudança de opinião atravessa todas as linhas partidárias, mas é mais acentuada entre os democratas e independentes. Em 2023, 38% dos democratas consideravam plenamente justificadas as ações de Israel. Agora, apenas 7% mantêm essa opinião. Entre os independentes, a queda foi de 45% para 14%. Já entre os republicanos, historicamente mais alinhados a Israel, a queda foi menor, mas ainda relevante: de 68% para 52%.
Essa reavaliação também se reflete na maneira como os americanos enxergam o apoio militar fornecido pelos EUA a Israel. Desde março, aumentou de 44% para 59% o número de democratas e simpatizantes que consideram excessiva a ajuda militar americana. Já entre os republicanos, esse percentual se manteve estável, em 24%.
Entre os mais jovens, o ceticismo é ainda mais contundente. Entre os adultos com menos de 35 anos alinhados ao campo democrata, 72% dizem que os EUA estão fazendo demais por Israel — sendo que 43% defendem o fim completo da ajuda militar e 29% sugerem uma redução significativa. No geral, apenas um em cada dez jovens abaixo dos 35 anos acredita que as ações de Israel foram totalmente justificadas. Um terço, por outro lado, afirma que não foram justificadas de forma alguma. Também há forte percepção de abuso de força: 61% desse grupo avaliam que Israel agiu com excesso militar.
A pesquisa também indica um ceticismo acentuado entre pessoas negras e latinas. Apenas 13% desses entrevistados consideram que as ações israelenses foram justificadas, enquanto 29% dizem que não foram justificadas sob nenhuma perspectiva. Quase seis em cada dez (57%) apontam que houve uso excessivo da força.
O país está claramente dividido quanto à atuação de Israel e à resposta dos Estados Unidos. Metade dos entrevistados (50%) acredita que Israel empregou força excessiva, enquanto 39% consideram a resposta militar adequada, e 10% acham que foi insuficiente. Quanto à ajuda americana, 42% afirmam que os EUA estão fazendo mais do que deveriam — um aumento em relação a março (34%) e janeiro (33%). Outros 42% julgam que o apoio está na medida certa, e 14% acham que é insuficiente.
A divisão interna também se estende ao papel mais amplo dos EUA no mundo. Pela primeira vez em meses, a maioria dos americanos (56%) acredita que os Estados Unidos não deveriam assumir um papel de liderança na resolução de problemas internacionais. Em março, a população estava dividida praticamente meio a meio sobre esse tema.
Entre os democratas, o desapego a um papel intervencionista cresceu de forma marcante. Em março, 58% defendiam que os EUA liderassem soluções para conflitos globais. Agora, essa proporção caiu para 44%, retornando a níveis semelhantes aos de 2004 (42%) e 2015 (37%). Esse recuo coincide com episódios recentes de política externa, como os ataques americanos a instalações nucleares iranianas — medida profundamente impopular entre os eleitores progressistas.
Dentro do campo democrata, quem rejeita o papel de liderança global também tende a ser mais crítico em relação a Israel: apenas 25% dos que defendem uma postura mais contida acham que as ações israelenses foram justificadas, contra 61% dos que apoiam um papel de liderança dos EUA. Esses mesmos críticos também apoiam, em maior número, a suspensão total da ajuda militar a Israel (37% contra 19%).
Já entre os republicanos, tradicionalmente mais favoráveis ao intervencionismo, o cenário é mais ambíguo. Antes da eleição de Donald Trump, a maioria defendia a liderança americana (65% em 2004 e 54% em 2015). Mas, após o presidente tornar o isolacionismo uma bandeira de suas campanhas, o partido se dividiu entre os tradicionalistas e os novos isolacionistas. Hoje, a base republicana está equilibrada entre quem deseja um papel ativo e quem prefere um país voltado para si.
Esse embate interno se reflete nas declarações de eleitores. Um republicano da Carolina do Norte, por exemplo, escreveu que ajudar a Ucrânia a derrotar a Rússia é a prioridade número um dos EUA. Já outro, da Pensilvânia, criticou o excesso de ajuda internacional e defendeu que os EUA devem primeiro resolver seus próprios problemas antes de se envolver em conflitos externos.
Apesar disso, a política externa segue sendo uma preocupação secundária para a maioria da população: apenas 5% citaram questões internacionais como prioridade nacional.
Em meio a esse cenário de mudanças e desconfiança, Donald Trump segue mal avaliado na condução das relações exteriores. Apenas 40% aprovam sua atuação, enquanto 60% a reprovam — números estáveis desde abril, mas piores do que em qualquer momento do seu primeiro mandato. Após os recentes ataques ao Irã, a desaprovação ao seu desempenho como comandante-em-chefe chegou a 59%, superando até mesmo o índice de janeiro de 2020, após a morte do general iraniano Qasem Soleimani.
A percepção de que Trump prejudicou a imagem dos EUA no mundo também é majoritária: 53% acreditam que suas decisões minaram a posição americana no cenário internacional, enquanto apenas 31% acham que ele a fortaleceu.
Um jornalista independente de Michigan resumiu esse sentimento em sua resposta à pesquisa: “O mundo agora vê os Estados Unidos com outros olhos. Fomos um farol de esperança em algum momento. Não mais.”
Entre os republicanos, a aprovação a Trump na política externa ainda é alta (86%), mas não unânime. Apenas 69% acreditam que suas decisões fortaleceram a imagem dos EUA; 15% acham que ele a prejudicou, e 17% dizem que não fez diferença.
Do lado democrata, a rejeição é quase total: 93% desaprovam sua política externa, 91% reprovam sua atuação como comandante-em-chefe e 89% acreditam que suas ações prejudicaram o país no cenário global.
Outras figuras-chave do governo Trump também enfrentam avaliações negativas. O vice-presidente J.D. Vance, o secretário de Estado Marco Rubio e o secretário de Defesa Pete Hegseth são vistos de forma desfavorável pela maioria dos americanos. Ainda assim, entre os republicanos, todos mantêm índices de popularidade altos, embora muitos eleitores ainda não tenham uma opinião formada sobre Rubio ou Hegseth.
A pesquisa, conduzida entre os dias 10 e 13 de julho com 1.057 adultos em todo o país, foi realizada por telefone e online. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais.
Os resultados revelam um retrato nítido de um país em transição: cada vez mais cético, introspectivo e dividido quanto ao seu papel no mundo — e quanto ao futuro do apoio a aliados como Israel.
Lula endurece tom contra Trump e cobra respeito à soberania do Brasil em entrevista à CNN Internacional
Durante uma entrevista concedida à jornalista Christiane Amanpour, transmitida pela CNN Internacional nesta quinta-feira (17), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas contundentes à postura do presidente norte-americano Donald Trump em relação ao Brasil. Em tom firme, Lula deixou claro que o país não aceitará ser tratado como subordinado nas relações diplomáticas e comerciais com os Estados Unidos.
“O Brasil não aceitará nada que lhe seja imposto. Aceitamos negociação e não imposição”, afirmou o presidente, destacando que o país está aberto ao diálogo, mas que não aceitará pressões nem interferências externas. A declaração vem em resposta à recente decisão de Trump de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, medida que Lula considera unilateral e injustificável.
Lula rejeitou qualquer interpretação de que seu governo pretende confrontar os EUA ou romper relações. Pelo contrário, reforçou a disposição de construir uma relação baseada no diálogo, no respeito mútuo e na reciprocidade. “Não queremos nos ver livres dos EUA, nem brigar com ninguém. O que não queremos é ser feitos de reféns. Queremos ser livres”, declarou.
Interferência inaceitável
O presidente também se mostrou incomodado com o teor de uma carta enviada por Trump ao governo brasileiro, na qual o presidente dos EUA critica o julgamento de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF), alegando perseguição política. Lula considerou a carta uma clara tentativa de interferência nos assuntos internos do Brasil e criticou o teor do documento. “É inaceitável interferência dos EUA em assuntos internos do Brasil”, afirmou.
Ao ser questionado sobre o julgamento de Bolsonaro, Lula foi enfático: “Não sou eu quem acusa. É a Corte Suprema.” Ele lembrou que o próprio STF já o julgou no passado, e mesmo após derrotas eleitorais e decisões judiciais desfavoráveis, jamais cogitou articular um levante contra as instituições. “Nem mesmo após ter perdido três eleições.”
A carta de Trump, que sugere que o Brasil estaria desrespeitando Bolsonaro, foi duramente rebatida por Lula, que reiterou a independência do Judiciário brasileiro e a gravidade das acusações que pesam contra o ex-presidente, incluindo uma suposta trama golpista que previa até o assassinato do próprio Lula.
Trump não governa o mundo
No momento mais incisivo da entrevista, Lula criticou diretamente a postura do presidente dos EUA. “Trump foi eleito para governar os EUA, e não o mundo”, disparou. A frase, direta e simbólica, evidencia a insatisfação do governo brasileiro com a forma como Trump tem se posicionado em relação ao país.
Lula revelou que o Brasil já havia enviado propostas formais aos Estados Unidos para tentar resolver as disputas comerciais por vias diplomáticas. No entanto, em vez de receber uma resposta formal, viu o presidente norte-americano fazer declarações públicas desrespeitosas fora dos canais diplomáticos. “O Brasil merece respeito, e o Trump precisa nos respeitar, assim como nós respeitamos os EUA”, completou.
Sobre os argumentos apresentados por Trump de que as relações comerciais entre os dois países seriam desfavoráveis aos Estados Unidos, Lula contestou. Segundo ele, essa narrativa não corresponde à realidade e serve apenas como justificativa para medidas protecionistas.
Caminho diplomático, mas com firmeza
Lula também falou sobre as medidas que estão sendo estudadas dentro do governo para lidar com a situação. Ele afirmou que mantém diálogo constante com empresários e representantes do setor agropecuário para buscar uma solução. Contudo, deixou claro que, se necessário, o Brasil pode recorrer à Lei de Reciprocidade — que permite ao país adotar medidas comerciais contra nações que imponham barreiras unilaterais aos produtos brasileiros.
“Daremos uma resposta, mas tentaremos primeiro uma solução final pela via diplomática”, disse o presidente, sinalizando que o Brasil buscará o entendimento, mas não hesitará em reagir com firmeza.
Lula fez questão de destacar que sempre manteve boas relações com presidentes anteriores dos EUA, independentemente de suas posições ideológicas. Quando perguntado sobre o desafio de negociar com um líder conservador como Trump, sendo ele identificado como progressista, Lula desconstruiu os rótulos. “Não sou um presidente progressista. Sou o presidente do Brasil. Não vejo o presidente Trump como um presidente de extrema-direita. Vejo-o como o presidente dos EUA. Ele foi eleito pelo povo americano”, afirmou.
Críticas ao militarismo e à inação da ONU
A entrevista também abordou questões geopolíticas mais amplas. Lula comentou sobre os conflitos em curso na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Disse ver com bons olhos a sinalização de Trump sobre uma eventual negociação para encerrar as guerras, mas lamentou que os EUA sigam investindo em armas em vez de priorizar o combate à fome e à miséria.
“O mundo precisa de comida. Não de armas”, disse Lula, numa crítica direta ao aumento dos gastos militares anunciado recentemente.
Ele voltou a demonstrar frustração com a paralisia da Organização das Nações Unidas (ONU), especialmente do Conselho de Segurança, diante da escalada de conflitos no mundo. “Sem interlocutores, as guerras continuarão como acontece em Gaza. Todo dia tem notícias de novos bombardeios”, lamentou.
Segundo ele, os países membros do Conselho de Segurança precisam admitir que estão falhando em cumprir seu papel e encontrar mecanismos mais eficazes de mediação e pacificação.
Com informações da CNN e Agência Brasil*
O post América desacredita nas tarifas feitas em seu nome apareceu primeiro em O Cafezinho.
www.expressonoticias.website