terça-feira, abril 15, 2025
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》Aumento de tarifas impacta fornecimento de insumos científicos nos EUA e na China – Expresso Noticias

Vamos ao assunto:

Conflito comercial eleva custos de materiais de laboratório e afeta universidades e centros de pesquisa

A elevação das tarifas entre Estados Unidos e China atingiu diretamente o setor de pesquisa científica nos dois países, com aumento repentino no custo de suprimentos laboratoriais importados.

A medida afeta desde itens básicos, como vidrarias e reagentes, até equipamentos sofisticados, como espectrômetros e sequenciadores de DNA, utilizados em universidades e centros de pesquisa pública e privada.

Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a elevação das chamadas “tarifas recíprocas” sobre importações chinesas para 125%, o que elevou a tarifa efetiva para cerca de 156%. Em resposta, o governo chinês aumentou suas tarifas adicionais sobre produtos norte-americanos para o mesmo patamar.

“Estamos falando de tudo, desde vidrarias e reagentes até espectrômetros e sequenciadores de DNA. Essa é a infraestrutura central da ciência moderna”, afirmou Tinglong Dai, pesquisador da Universidade Johns Hopkins, especializado em cadeias de suprimentos globais.

“Com as tarifas agora saltando para 104 por cento — ou qualquer que seja o número — é como dobrar o preço de uma grande parte da infraestrutura de laboratório da noite para o dia.”

Segundo especialistas, os efeitos iniciais do aumento de custos devem ser mais significativos para os Estados Unidos.

A avaliação leva em conta as restrições comerciais em curso com diversos países, o que limita a capacidade de substituição de fornecedores. Além disso, as instituições norte-americanas dispõem de menos mecanismos políticos para mitigar os impactos das tarifas.

As universidades dos EUA e os institutos de pesquisa federais vêm enfrentando dificuldades financeiras desde janeiro, com cortes no orçamento público, inclusive no financiamento concedido pelo Instituto Nacional de Saúde (NIH). O novo aumento de tarifas amplia os desafios enfrentados por essas instituições.

Após o anúncio das novas tarifas em 2 de abril, uma pesquisadora de pós-doutorado chinesa da Universidade de Harvard relatou, em redes sociais, que seu laboratório passou a revisar o estoque e antecipar pedidos de insumos.

Em publicação datada de 6 de abril, ela afirmou que seu supervisor solicitou uma lista de suprimentos prioritários. “A onda de cortes no orçamento ainda não diminuiu, então vem a tarifa, que não dá trégua aos pesquisadores”, escreveu.

Um biólogo chinês vinculado ao NIH, que preferiu não se identificar, afirmou que os efeitos das tarifas podem se tornar visíveis em curto prazo.

Segundo ele, “um grande equipamento de laboratório importado pode passar de um preço original de US$ 6 milhões para US$ 8 milhões”.

Ele também citou o caso de uma empresa chinesa que fornece instrumentos e reagentes nos Estados Unidos e decidiu elevar os preços em 10% para compensar os encargos tarifários.

Na China, a situação é semelhante. Um pesquisador informou que uma agulha especial comprada da empresa norte-americana Agilent, fabricante de instrumentos médicos e laboratoriais, deve ter seu preço elevado nas próximas semanas.

Outro biólogo da Universidade de Pequim relatou que alguns produtos importados dos EUA, incluindo kits e reagentes, devem sofrer aumentos após 13 de maio. Seu laboratório tem buscado alternativas ou antecipado compras.

Ambos os países são grandes importadores e exportadores de insumos científicos. No entanto, de acordo com analistas, os Estados Unidos devem sentir efeitos mais intensos devido à sua exposição a múltiplas frentes de disputas comerciais.

“Os EUA estão agora em uma guerra comercial não apenas com a China, mas basicamente com o mundo inteiro”, afirmou Dai, por e-mail.

Dados citados em artigo da revista Nature, publicado em 4 de abril, apontam que a China exporta para os EUA insumos básicos de laboratório, como tubos de vidro e reagentes.

Já Alemanha e Japão fornecem equipamentos de alta tecnologia, como microscópios e analisadores de precisão. Suíça e Reino Unido são exportadores relevantes de ferramentas de diagnóstico, anticorpos e produtos químicos especializados.

Mesmo equipamentos montados nos Estados Unidos dependem de componentes internacionais. “Um espectrômetro ‘made in USA’ ainda é de 30% a 50% estrangeiro por baixo dos panos — e agora tudo isso ficou muito mais caro”, afirmou Dai. Segundo ele, a China pode buscar substitutos na Alemanha, Japão ou no próprio mercado interno.

Dai também observou que o governo chinês dispõe de mais instrumentos para mitigar os efeitos das tarifas, incluindo subsídios, apoio administrativo e políticas de incentivo a fornecedores locais.

As tarifas afetam um cenário já marcado por dificuldades. O NIH cancelou recentemente US$ 2,6 bilhões em contratos relacionados a universidades e à manutenção de programas de pesquisa. Além disso, bolsas de estudo para instituições como a Universidade Columbia foram congeladas.

Dai alertou que o aumento dos custos poderá provocar atrasos em experimentos, cancelamento de pedidos de equipamentos e até fechamento de laboratórios. “Como resultado, podemos ver experimentos atrasados, pedidos de equipamentos descartados e, em alguns casos, laboratórios inteiros fechados”, disse.

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