》Bloomberg: Soberania de Lula segura tarifas e irrita agro de Trump – Expresso Noticias

Vamos ao assunto:

Decisão de Trump de aliviar tarifas expõe efeito da pressão diplomática silenciosa de Lula, com apoio de empresários e recado à base bolsonarista


A postura firme do presidente Luiz Inácio Lula da Silva diante das tarifas impostas pelo governo norte-americano começou a dar resultados. Nesta quarta-feira (31), o presidente americano Donald Trump divulgou uma lista com 694 produtos isentos da tarifa adicional de 50% que havia anunciado dias antes sobre importações do Brasil. A decisão, segundo a agência Bloomberg, foi motivada em parte pela reação diplomática e comercial brasileira.

A medida surpreendeu o governo brasileiro, que nos últimos dias manteve contato limitado com a Casa Branca. Ao invés disso, apostou na influência de líderes empresariais para defender os interesses do país em Washington. Entre eles, o presidente da Embraer, uma das maiores empresas do setor aeronáutico do Brasil, teve papel destacado nas conversas com autoridades norte-americanas.

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Apesar da tensão comercial, produtos estratégicos para a economia brasileira — como aeronaves civis, suco de laranja e celulose — foram incluídos na lista de isenções. Isso significa que essas exportações seguirão pagando apenas a tarifa básica de 10%, já vigente anteriormente. Outros itens como minerais, fertilizantes, papel, produtos químicos e bens ligados à aviação também foram poupados do aumento.

No entanto, produtos agrícolas como carne, frutas e café — importantes para Estados com forte apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro — não foram incluídos nas exceções. Especialistas apontam que isso pode ter relação com a base eleitoral de Trump, que busca manter pressão sobre setores específicos do agronegócio brasileiro.

Na terça-feira (29), pouco antes da divulgação da lista de isenções, o secretário de Comércio dos EUA, Gina Raimondo, indicou que tarifas zero poderiam ser aplicadas a produtos agrícolas que os Estados Unidos não produzem, medida que valeria para todos os parceiros comerciais — e não apenas para o Brasil.

A nova fase das tarifas estava prevista para começar nesta sexta-feira (1º de agosto), mas acabou sendo adiada para o dia 6. A Bloomberg afirma que o desafio agora para o governo brasileiro é transformar esse alívio temporário em uma relação comercial mais estável com os Estados Unidos, segundo maior parceiro comercial do país.

Julgamento de Bolsonaro pode afetar isenções

Um fator que ainda pode influenciar o futuro das tarifas é o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF). A agência americana lembra que o governo Trump tem se posicionado repetidamente sobre o caso do ministro Alexandre de Moraes, autor das investigações que levaram à prisão de Bolsonaro.

A Lei Magnitsky, usada pelos EUA para punir estrangeiros acusados de violações de direitos humanos ou corrupção, foi aplicada contra o ministro do STF. Ele já estava impedido de entrar nos Estados Unidos, e agora enfrenta a possibilidade de ter seus bens congelados e de ser proibido de fazer negócios com empresas ou pessoas nos EUA.

A sanção também pode afetar o acesso do ministro a serviços financeiros. Embora não haja uma definição clara sobre o uso de cartões de crédito, especialistas explicam que instituições financeiras costumam analisar essas situações caso a caso. Além disso, se bancos brasileiros com ligação ao sistema financeiro americano mantiverem contas ou cartões em nome de indivíduos sancionados, eles mesmos podem ser punidos.

Em 18 de julho, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, havia anunciado a revogação do visto de Moraes, de seus familiares e de “aliados”, sem detalhar quem seriam essas pessoas. Ainda segundo a Bloomberg, a manobra política dos EUA tem como alvo não apenas o ministro, mas também a polarização interna no Brasil.

Lula defende soberania nacional e chama interferência dos EUA de “inaceitável”

Em sua primeira manifestação oficial após uma sequência de medidas comerciais e judiciais tomadas pelo governo dos Estados Unidos contra o Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou, na noite desta quarta-feira (30), uma nota em que reafirma a soberania do país e classifica como “inaceitável” a ingerência norte-americana na Justiça brasileira.

“O Brasil é um país soberano e democrático, que respeita os direitos humanos e a independência entre os Poderes. Um país que defende o multilateralismo e a convivência harmoniosa entre as Nações, o que tem garantido a força da nossa economia e a autonomia da nossa política externa. É inaceitável a interferência do governo norte-americano na Justiça brasileira”, declarou Lula em nota divulgada pela Presidência da República.

A declaração é a resposta mais direta do governo brasileiro à sanção imposta pelo governo Trump ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, bem como à ordem executiva que instituiu uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros — medida que, no entanto, veio acompanhada de uma lista com quase 700 exceções.

Na nota, Lula expressou solidariedade ao ministro do STF e afirmou que Moraes está sendo alvo de sanções motivadas por “políticos brasileiros que traem nossa pátria e nosso povo em defesa dos próprios interesses”.

“Um dos fundamentos da democracia e do respeito aos direitos humanos no Brasil é a independência do Poder Judiciário e qualquer tentativa de enfraquecê-lo constitui ameaça ao próprio regime democrático. Justiça não se negocia”, destacou o presidente.

Lula também aproveitou para defender o arcabouço legal brasileiro, ressaltando que o país possui leis que regulam o funcionamento de empresas e plataformas digitais. “A sociedade brasileira rejeita conteúdos de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes, discursos contra os direitos humanos e a democracia”, afirmou.

O presidente considerou “injustificável” o uso de argumentos políticos para justificar as medidas comerciais anunciadas pelos Estados Unidos. Segundo ele, o Brasil acumulou, nas últimas décadas, um déficit comercial com os EUA, o que torna ainda mais questionável a motivação por trás das tarifas.

“O Brasil tem acumulado nas últimas décadas um significativo déficit comercial em bens e serviços com os Estados Unidos. A motivação política das medidas contra o Brasil atenta contra a soberania nacional e a própria relação histórica entre os dois países”, observou.

Apesar da tensão, o governo brasileiro afirmou que está disposto a negociar aspectos comerciais da parceria com os EUA — mas sem abrir mão de seus instrumentos legais de defesa, como a Lei de Reciprocidade Comercial. Além disso, o governo já iniciou os trabalhos para elaborar um plano de contingência com o objetivo de minimizar os impactos econômicos das tarifas.

“Nossa economia está cada vez mais integrada aos principais mercados e parceiros internacionais. Já iniciamos a avaliação dos impactos das medidas e a elaboração das ações para apoiar e proteger os trabalhadores, as empresas e as famílias brasileiras”, concluiu a nota oficial assinada pelo presidente.

A declaração reforça o tom firme adotado pelo governo brasileiro desde o início da crise, que envolveu desde a articulação com setores empresariais até o uso da diplomacia para conter os impactos das medidas unilaterais dos EUA. Com isso, o Brasil tenta equilibrar a defesa de sua soberania com a necessidade de manter relações comerciais estáveis com um dos seus principais parceiros externos.

Com informações da Bloomberg e BBC*

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