》Casa Branca pressiona e questiona independência da inteligência – Expresso Noticias

Vamos ao assunto:

A revogação das autorizações de segurança atinge funcionários antigos e atuais, levantando críticas sobre politização e ataque à independência da inteligência americana


Em mais uma medida polêmica, a administração Trump anunciou na última terça-feira (19) a revogação das autorizações de segurança de 37 funcionários atuais e antigos da comunidade de inteligência, um ato que especialistas e críticos consideram uma retaliação contra servidores públicos que, segundo a Casa Branca, teriam agido de forma política.

O anúncio foi feito por meio de um memorando assinado pela Diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard, que acusa os indivíduos listados de envolvimento em “politização ou armamento da inteligência” para fins pessoais ou partidários. O documento também aponta que eles teriam falhado em proteger informações confidenciais e em “obedecer aos padrões analíticos profissionais”, além de outras condutas “prejudiciais” que não foram detalhadas.

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O memorando, porém, não apresenta provas concretas para sustentar essas alegações. Muitos dos afetados já haviam deixado o governo há anos, depois de ocuparem cargos de alta relevância em segurança nacional ou funções mais discretas, longe dos holofotes. Entre eles, estão funcionários que trabalharam em investigações que historicamente provocaram o descontentamento de Trump, incluindo a avaliação da comunidade de inteligência sobre a interferência russa nas eleições de 2016. Alguns também haviam criticado publicamente o presidente, assinando uma carta em 2019 que recentemente voltou a circular nas redes sociais, compartilhada por Laura Loomer, aliada próxima de Trump.

A medida se insere em uma estratégia mais ampla da administração Trump de pressionar e punir supostos opositores dentro do governo, refletindo a contínua desconfiança do presidente em relação a profissionais de inteligência de carreira, que ele frequentemente acusa de atuarem contra seus interesses. Para críticos, revogar autorizações de segurança é uma tática perigosa, capaz de silenciar vozes dissidentes e enfraquecer o debate interno em uma comunidade que tradicionalmente se apoia em múltiplos pontos de vista antes de emitir avaliações oficiais.

“Essas são decisões ilegais e inconstitucionais que se desviam de leis e políticas bem estabelecidas e com décadas de existência, que buscavam proteger justamente contra esse tipo de ação”, afirmou Mark Zaid, advogado especializado em segurança nacional e cuja própria autorização foi revogada, em comunicado. Ele criticou o governo por chamar de politização o que considera trabalho profissional e imparcial de inteligência.

Em sua defesa, Tulsi Gabbard afirmou que a medida foi determinada pelo próprio Trump. “Receber uma autorização de segurança é um privilégio, não um direito”, escreveu ela na plataforma X. “Aqueles na Comunidade de Inteligência que traem seu juramento à Constituição e colocam seus próprios interesses à frente do povo americano quebraram a sagrada confiança que prometeram manter.”

O episódio ocorre em um momento de intensificação da pressão de Trump sobre a comunidade de inteligência, com esforços para reavaliar a avaliação oficial de 2017 sobre a interferência russa nas eleições presidenciais. O governo também vem desclassificando uma série de documentos antigos na tentativa de questionar a legitimidade das conclusões da comunidade de inteligência, reforçando a narrativa de que a avaliação teria sido injustamente política.

Especialistas alertam que essas ações podem ter efeitos duradouros na confiança entre a Casa Branca e os profissionais de inteligência, minando práticas que há décadas buscam separar decisões políticas de análises técnicas. Para eles, a medida representa não apenas uma disputa política, mas um ataque às normas que garantem a independência e a credibilidade das informações de segurança nacional.

Várias investigações governamentais chegaram à conclusão de que a Rússia interferiu nas eleições de 2016, por meio de uma série de ações coordenadas, incluindo o hacking e vazamento de e-mails de líderes democratas e uma campanha massiva nas redes sociais destinada a semear divisão e influenciar a opinião pública.

Apesar dessas evidências, Trump insiste em rejeitar a avaliação de que Vladimir Putin atuou em seu favor. O Departamento de Justiça sob sua administração também autorizou uma investigação do grande júri que pode levar a um novo escrutínio de autoridades da era Obama, reacendendo antigas disputas políticas.

As autorizações de segurança não são apenas uma formalidade para funcionários atuais; ex-agentes e especialistas do setor privado frequentemente dependem delas para continuar trabalhando com informações confidenciais. A revogação dessas autorizações pode, portanto, dificultar significativamente o desempenho de suas funções, embora não esteja claro quantos dos ex-funcionários afetados ainda necessitam do acesso.

Desde o início de seu mandato, Trump já havia sinalizado essa abordagem. No primeiro dia de governo, anunciou a intenção de revogar autorizações de mais de quatro dúzias de ex-oficiais de inteligência que, em 2020, assinaram uma carta afirmando que a controvérsia em torno do laptop de Hunter Biden possuía características de uma “operação de informação russa”. Além disso, Trump revogou as autorizações de segurança de Joe Biden e Kamala Harris, e tentou fazer o mesmo para advogados de grandes escritórios de advocacia, ação que acabou sendo barrada por decisões de juízes federais.

Alguns dos funcionários afetados na onda mais recente integraram a equipe de segurança nacional de Biden. Muitos só tomaram conhecimento da medida por meio de reportagens publicadas na terça-feira, segundo relataram dois ex-funcionários que pediram anonimato enquanto avaliam se tomarão medidas legais.

Especialistas alertam que essas ações representam uma escalada significativa na politização da comunidade de inteligência, minando anos de práticas destinadas a manter a independência das análises de segurança nacional. Para críticos, o risco vai além do impacto individual: trata-se de um precedente que pode enfraquecer a credibilidade e a confiança em toda a estrutura de inteligência do país, prejudicando tanto a política interna quanto a capacidade do governo de tomar decisões estratégicas fundamentadas em informações confiáveis.

Com informações de AP*

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