sábado, abril 19, 2025
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》Caso Vai de Bet: Augusto depõe à Polícia Civil, reforça inocência, mas deve ser indiciado – Expresso Noticias

Campinas, SP, 16 – Augusto Melo, presidente do Corinthians, compareceu à 3ª Delegacia do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC) nesta quarta-feira para prestar depoimento no caso Vai de Bet. Ele voltou a afirmar que não houve irregularidades no contrato com a antiga patrocinadora. A reportagem apurou que a versão apresentada pelo mandatário foi diferente das relatadas pelos ex-dirigentes Marcelo Mariano e Sergio Moura, que também falaram à polícia nesta semana. O trio deve ser indiciado por organização criminosa.

Na saída da delegacia, Augusto Melo apareceu sorridente, demonstrando leveza e confiança em seu relato. “Foi um depoimento muito tranquilo e cordial. O resto são eles quem vão dar a resposta final. Desde o primeiro dia que negociei com a patrocinadora, tudo foi falado. E foi isso o que foi esclarecido aqui. Minha verdade é uma só”, disse o presidente.

“O inquérito tramita em absoluto sigilo e é assim que deve tramitar o inquérito policial. Nós ficamos aí quase três horas respondendo a uma série de perguntas, o presidente respondeu a todas as perguntas, tem coisas de mérito que não podem ser antecipadas, em respeito ao trabalho da polícia, em respeito ao trabalho do Ministério Público, do Gaeco. Eu orientei o presidente nessa coletiva breve que nós estamos realizando de respeitar esse sigilo. Todos os esclarecimentos que o presidente devia prestar foram prestados e o que nós temos a dizer nesse momento é apenas isso do ponto de vista jurídico. A defesa técnica orientou isso em respeito ao trabalho do Ministério Público. (O caso) está prestes a ser encerrado”, disse Cury.

A investigação é conduzida pelo Tiago Fernando Correia, do DPPC, e é acompanhada desde o início por Juliano Carvalho Atoji, promotor de Justiça do de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

O inquérito policial tem previsão para ser finalizado entre o fim de abril e a primeira semana de maio. Caso Augusto Melo e os demais investigados sejam indiciados, o caso será remetido ao Ministério Público, que vai analisar as provas colhidas na investigação. Por fim, o promotor de Justiça é quem vai definir se abre denúncia ou arquiva o caso.

Augusto Melo foi o último investigado relacionado diretamente ao Corinthians a prestar depoimento. A polêmica envolvendo o contrato com a Vai de Bet levou o presidente corintiano a ser alvo de impeachment no clube. Ele alega que o processo fere o estatuto, uma vez que a Comissão de Ética sugeriu justamente o fim das investigações para o tema, enfim, ser pautado. Porém, o Conselho Deliberativo realizou a primeira reuniu que referendou a admissibilidade da votação, mas ainda não há data para a reunião ser retomada.

Nesta terça-feira, o ex-superintendente de marketing Sérgio Moura foi ouvido pela polícia. Ele é um dos dirigentes que levou Alex Cassundé, dono da intermediadora que fez repasses de parte da comissão a uma empresa “laranja”, para trabalhar na campanha de Augusto. Em contato com jornalistas, a defesa afirmou que o depoimento do cliente deixou claro que ele “não agiu de má fé” para prejudicar o clube.

Marcelo Mariano, ex-diretor administrativo, prestou depoimento na segunda-feira. A oitiva durou aproximadamente três horas. “Respondemos todas as perguntas e ficou esclarecido e comprovada a absoluta inocência do senhor Marcelo Mariano de todos os fatos que estão sendo apurados”, afirmou Átila Machado, advogado de Marcelo Mariano, em conversa com jornalistas na saída da delegacia.

ENTENDA O CASO

Em janeiro de 2024, o Corinthians anunciou a Vai de Bet como patrocinadora máster, em um acordo de R$ 360 milhões por três anos de contrato. A casa de aposta rescindiu de maneira unilateral em junho, após vir à tona os repasses de parte da comissão pela Rede Media Social Ltda, intermediadora citada no contrato, para a Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda, suposta empresa “laranja” que está no nome de Edna Oliveira dos Santos, mulher de origem humilde que vive em Peruíbe, no litoral paulista. O clube realizou dois depósitos de R$ 700 mil cada à intermediária.

O CNPJ da Rede Media Social Ltda está no nome de Alex Fernando André, mais conhecido como Alex Cassundé, antigo membro da equipe de comunicação do presidente Augusto Melo. O contrato do Corinthians com a Vai de Bet previa o pagamento de 7% do montante líquido de cada parcela de patrocínio à intermediadora. Ou seja, 700 mil por mês ao longo de três anos, resultando em R$ 25,2 milhões ao fim do contrato.

Alex Cassundé prestou depoimento à Polícia Civil em 25 de junho e negou que tenha cobrado por sua parte na negociação. Ele disse que não conhecia a empresa até perguntar por “dicas de como encontrar uma empresa de bet” ao ChatGPT, inteligência artificial generativa da OpenAI. Foi a partir da resposta, segundo ele, que encontrou a Vai de Bet e chegou ao contato de um sócio da casa de apostas.

Com a resposta, ele acionou Sérgio Moura e encaminhou o contato da Vai de Bet a Marcelo Mariano. Cassundé atuou na campanha de Augusto Melo, no final de 2023, e apontou sua ligação com o clube por meio dos dirigentes. Com relação aos dois depósitos de R$ 700 mil à Neoway, o empresário disse em depoimento que o pagamento era referente a um serviço de telemedicina, mas que foi vítima de um golpe. Contudo, não registrou boletim de ocorrência.

O Estadão apurou que um dos caminhos que o dinheiro tomou após sair da Neoway é uma empresa ligada ao crime organizado.

Segundo relatório técnico da DPPC, as primeiras informações disponíveis no aparelho celular de Alex Cassundé datam de 30 de maio de 2024, exatamente um dia depois do início das investigações, reforçando a hipótese de o aparelho foi restaurado ou que todas as informações anteriores tenham sido deliberadamente apagadas.

DIVERGÊNCIA

Em dezembro de 2024, o empresário José Andre da Rocha Neto, dono da Vai de Bet, deu versão diferente de Cassundé à Polícia Civil sobre a origem do acordo de patrocínio entre a casa de aposta e o Corinthians. O empresário afirma que foi ele quem teve a iniciativa de procurar o clube paulista para oferecer o negócio, contradizendo Alex Cassundé. À época, o advogado do dono da intermediadora afirmou que as informações prestadas em junho foram “sustentadas por provas de como os fatos aconteceram”.

José da Rocha Neto afirmou à polícia que, ao tomar conhecimento da busca do Corinthians por um novo patrocinador máster, entrou em contato com Antônio Pereira dos Santos, também conhecido como Toninho, empresário de Goiânia do ramo sertanejo, ex-empresário de Gusttavo Lima, embaixador da Vai de Bet, e parceiro de nomes como a a dupla Maraia e Maraísa, e Marília Mendonça. O dono da casa de aposta afirma ter pedido ajuda ao amigo em 25 de dezembro de 2023 porque ele teria contatos no futebol. O encontro com membros do Corinthians aconteceu logo no dia seguinte, no Hotel Tivoli, em São Paulo.

O dono da Vai de Bet afirma que no encontro estavam Marcelo Mariano, Augusto Melo, Toninho e mais duas pessoas. Em determinado momento do encontro, o presidente do Corinthians saiu para outra reunião e o negócio foi fechado após cerca de duas horas com Marcelo. “Deixamos certo que a (comissão) da intermediação seria nesses R$ 360 milhões, mas não me meti em percentual de intermediador.”

O empresário disse ainda que não teve contato com mais ninguém do Corinthians após fechar o acordo, com exceção de Marcelo Mariano, com quem discutiu como a marca da Vai de Bet seria utilizada no clube, e que não participou da coletiva do anúncio da parceria porque estava de férias em Orlando, nos Estados Unidos. Por isso, pediu a André Murilo de Paes Bezerra, diretor administrativo da Vai de Bet, para participar do anúncio.

André Murilo prestou depoimento no mesmo dia e também afirmou que nunca teve contato com Alex Cassundé e que, em nenhum momento, recebeu ligação do intermediário apontado no contrato com o Corinthians e não tem conhecimento de conversas entre Cassundé e qualquer outro representante da marca. Após o caso vir à tona, José André conta que acionou a equipe jurídica da Vai de Bet.

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