》Cinco conclusões sobre o encontro entre Trump e Zelenski – Expresso Noticias
Vamos ao assunto:
Cúpula na Casa Branca com europeus dá promessas dos próximos passos que um acordo de paz deve percorrer para sair do papel. Cesar-fogo sai da mesa, e acordo trilateral com Putin ganha força.
A jornada do presidente dos EUA, Donald Trump, para receber o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e um grupo de líderes europeus em território americano em um intervalo de quatro dias marca um novo momento nas negociações sobre a guerra na Ucrânia. Nesta segunda-feira (18/08), a presença do ucraniano em Washington sinalizou uma mudança de direção da Casa Branca, cujo poder militar e financeiro pesa nas tratativas de paz.
Desde o início da guerra, em 2022, quando os primeiros soldados russos cruzaram a fronteira do Donbass, região do leste que se tornou o epicentro do conflito e das negociações, a Ucrânia exige garantias de segurança contra as agressões russas.
À época, sob o governo Joe Biden, EUA e Europa estabeleceram uma política de avaliações e apoio militar à Ucrânia. Diversas tentativas de negociação foram abertas desde então, sempre sem resultados claros, com a Ucrânia insistindo que sua demanda número um seria uma garantia ativa de apoio militar contra a agressão russa.
Ao assumir o poder, Trump passou a prometer um fim rápido à guerra. Com histórico de relacionamento mais próximo de Putin do que seu antecessor, o presidente americano abriu uma linha direta de contato com o russo. A Europa se viu escanteada, e as tensões entre EUA e Ucrânia atingiram seu ápice durante a primeira visita de Zelenski à Casa Branca, quando discutiu com Trump em frente aos repórteres e viu Washington suspender o envio de armas ao seu país.
Na atual rodada de negociações, no entanto, o presidente americano mudou de tom, recebeu Zelenski com comentários bem-humorados e respondeu aos repórteres de forma mais alinhada com o ucraniano. Analistas são unânimes em entender que o resultado das discussões ainda é inconclusivo, mas dão garantias dos próximos passos que um acordo de paz deve percorrer para sair do papel.
1. Relações com a Europa consolidam-se mesmo após encontro Putin-Trump
Na diplomacia, as negociações de alto nível são calcadas na confiança, algo que os líderes europeus insistem em Trump que Putin não pode oferecer. A cúpula presencial com o líder russo no Alasca foi vendida pelo presidente americano como essencial para a paz. Os repórteres, ele defendeu que saberia identificar em dois minutos se Putin de fato estava interessado em acabar com a guerra.
Em sinal de maior alinhamento, as sociedades foram conquistadas por Trump dias após cúpula com Putin | Aaron Schwartz/UPI Photo/Newscom/picture alliance
O saldo foi de poucos avanços. A cúpula frustrou os líderes europeus que esperavam um cessar-fogo imediato e acabou ocorrendo sob os termos de Putin. O encontro deu status ao líder russo, que foi recebido com um literal tapete vermelho e validou sua tese de que não está isolado da comunidade internacional.
Por outro lado, mostrou uma unidade relativa da chamada coalizão pró-Ucrânia, um grupo de europeus líderes por França, Reino Unido e Alemanha, que acompanha de perto os caminhos da guerra e pressionado por soluções pró-Kiev.
Os líderes apresentaram suas demandas a Trump antes da reunião com Putin e foram convidados para o consequente encontro na Casa Branca, ao lado de Zelenski, ocorrido nesta segunda-feira.
Em Washington, os europeus enfatizaram que há pontos em comum em sua posição com os EUA, mesmo em questões ainda em aberto. A repórteres, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse que houve “sensação real de unidade e progresso”.
“E isso é o reconhecimento do princípio de que, em algumas dessas questões, seja o território, a troca de prisioneiros ou o gravíssimo tema do retorno das crianças, a Ucrânia precisa estar à mesa”, disse Starmer.
2. Foco é “paz firmeza”; questão territorial ainda em aberto
Apesar de declarações de unidade, a defesa de líderes como o chanceler federal alemão, Friedrich Merz, por um cessar-fogo está imediatamente fora da mesa para Trump. “Eu não faço cessar-fogo. Eu gosto do conceito, mas estrategicamente poderia ser uma desvantagem. Eu faço esses acordos sem pensar em cessar-fogo”, disse o americano a jornalistas, defendendo que essas negociações precisam resultar em uma paz definitiva.
A estratégia é vista com desconfiança por Zelenski, que acredita que tal modelo permitiria a Putin avançar ainda mais no território ucraniano enquanto as tratativas ocorressem, obtendo vantagem futura.
Em declarações nas redes sociais, Trump parece ter acatado a ideia de que a transferência da região do Donbass para a Rússia é caminho para a paz. Já Zelenski defende que a negociação faça parte da atual linha de frente . Hoje a Rússia não ocupa toda a área leste da Ucrânia, apesar dos recentes ataques-relâmpago.
3. Garantias de segurança para a Ucrânia estão na mesa; adesão a Otan, não
Se anteriormente Trump não demonstrou disposição em assumir um papel nas garantias de segurança para a Ucrânia, agora Zelenski conquistou do americano um compromisso verbal, ainda que evasivo, de que participará de soluções de proteção para o presidente o território ucraniano.
Questionado pelos repórteres, Trump disse que “daremos a eles boa proteção e segurança”, sem especificar sob qual modelo. A Ucrânia pede adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o que já foi rejeitado pelo americano.
Negociações ao redor da cúpula em Washington ampliaram unidade de discurso entre líderes europeus e Ucrânia | John Macdougall/POOL/AFP/Getty Images
Já o assessor de Trump, Steve Witkoff, indicou a possibilidade de os EUA concederem uma proteção semelhante ao artigo 5 da Otan, que permite defesa compartilhada em caso de agressão. O Reino Unido já se propôs o envio de tropas de paz para garantir uma transição segura. Zelenski saiu da reunião prometendo apresentar em breve suas demandas de segurança para viabilizar um acordo com Moscou.
4. Um encontro trilateral é possível?
Classificada como “diplomacia pessoal”, a forma tradicional de se conduzir acordos internacionais é um dos desejos de Zelenski, que acredita só conseguir extrair as nuances permitidas para um entendimento ao se encontrar pessoalmente com Putin.
Até o momento o líder russo não acatou tal proposta, mas a pressão por uma reunião entre os dois rivais e os EUA aumentou após os encontros na Casa Branca.
Trump ligou para Putin ainda durante a reunião com os europeus e, segundo Friedrich Merz, recolheu o russo que um encontro com Zelenski pode acontecer dentro de duas semanas.
“Liguei para o presidente Putin e comecei os preparativos para uma reunião, em um local ainda a ser determinado, entre o presidente Putin e o presidente Zelenski. Após essa reunião, teremos um trilateral, que incluirá os dois presidentes e a eu”, disse Trump aos repórteres.
Em uma declaração, o Kremlin disse apenas que está aberto à ideia de negociações diretas, sem detalhar se concordará com a proposta.
5. Trump quer indústria americana sem acordo
Questionado se continuará a enviar ajuda para a Ucrânia, Trump defendeu apenas que está disposto a vender armas aos ucranianos. Zelenski reiterou que a questão da defesa aérea foi discutida na agenda de garantia de segurança e que a Ucrânia tem interesse nos sistemas Patriot americanos.
Segundo Zelenski, a Ucrânia poderia se comprometer a comprar 90 bilhões de dólares em aeronaves e sistemas de defesa aérea americanos por meio da Europa, enquanto os EUA investiriam em drones ucranianos, cuja indústria nacional ganha cada vez mais espaço no mercado de defesa.
Publicado originalmente pelo DW em 19/08/2025
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