》Conversa com Putin projeta Lula ao centro do tabuleiro – Expresso Noticias
Vamos ao assunto:
O governo brasileiro aposta no multilateralismo e no Grupo de Amigos da Paz, articulando-se com China e países do Sul Global
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a colocar o Brasil no centro das discussões internacionais ao receber, nesta segunda-feira (18), uma ligação do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Durante cerca de 30 minutos, os dois chefes de Estado conversaram sobre os rumos do conflito na Ucrânia e sobre o encontro de Putin com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, realizado na última sexta-feira (15), no Alasca.
Segundo o Palácio do Planalto, Putin descreveu a reunião com Trump como positiva e fez questão de compartilhar diretamente com Lula os detalhes da conversa, reconhecendo o papel ativo do Brasil no esforço diplomático por uma solução pacífica. Para o governo brasileiro, o telefonema é mais um sinal da relevância conquistada pela política externa de Lula, pautada pela defesa da soberania nacional e pelo diálogo multilateral.
Leia também:
Queda da esquerda leva Bolívia a disputa inédita nas urnas
Ucrânia oferece bilhões a Trump em troca de proteção
Tarcísio pede que Brasil se humilhe pra Trump
Compromisso com a paz
Na nota divulgada pelo Planalto, Lula agradeceu o gesto de Putin e reafirmou a posição firme do Brasil em favor de “esforços que conduzam a uma solução pacífica para o conflito entre Rússia e Ucrânia”. A declaração reforça a linha adotada pelo presidente desde o início de seu mandato, de manter o Brasil como voz independente no cenário internacional, atuando como ponte entre países em confronto sem se alinhar cegamente a blocos de poder.
Não foi a primeira vez que Lula e Putin conversaram recentemente. Apenas dez dias antes, no dia 9 de agosto, os dois líderes já haviam mantido um diálogo de 40 minutos, quando o presidente russo antecipou que buscava um canal de negociação com os Estados Unidos. A nova ligação, feita logo após o encontro entre Putin e Trump, demonstra a confiança do Kremlin na disposição do Brasil de participar ativamente dos debates pela paz.
Grupo de Amigos da Paz
A postura brasileira está inserida em uma articulação mais ampla. Desde setembro do ano passado, o Brasil integra, ao lado da China e de outros países do chamado Sul Global, o chamado Grupo de Amigos da Paz, criado para promover soluções políticas para o conflito.
Em maio de 2024, Brasil e China já haviam assinado um documento conjunto intitulado “Entendimentos Comuns sobre a Solução Política da Crise na Ucrânia”. O texto reuniu ainda países como Argélia, Bolívia, Colômbia, Egito, Indonésia, Cazaquistão, Quênia, África do Sul, Turquia e Zâmbia. O México apoiou a iniciativa, embora com ressalvas, enquanto França, Suíça e Hungria participaram das discussões como observadores.
O grupo busca reforçar que uma paz duradoura não será alcançada com imposições externas ou concessões territoriais forçadas, mas por meio de negociações que respeitem a soberania das nações envolvidas.
Brasil como ponte diplomática
A ligação entre Putin e Lula reforça a posição estratégica do Brasil no tabuleiro internacional. Ao mesmo tempo em que mantém diálogo aberto com Rússia, Estados Unidos, China e União Europeia, o governo brasileiro insiste em uma política externa independente, voltada ao multilateralismo e à construção de consensos.
Analistas ressaltam que esse equilíbrio devolve ao Brasil protagonismo em um momento em que as grandes potências enfrentam impasses diplomáticos. Mais do que um ator secundário, o país se coloca como mediador confiável, respeitado por diferentes lados do conflito.
Para o Planalto, a participação ativa do Brasil em iniciativas como o Grupo de Amigos da Paz fortalece a defesa da soberania nacional — princípio que Lula tem repetidamente colocado no centro de sua política externa. A mensagem é clara: o Brasil dialoga com todos, mas não se submete a interesses de potências estrangeiras.
Brasil mantém diálogo com EUA, mas reafirma soberania e amplia mercados, diz Fávaro

O governo brasileiro segue firme na defesa da soberania nacional enquanto busca soluções para a guerra tarifária imposta pelos Estados Unidos. O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, afirmou nesta quinta-feira (14), em São Paulo, que o país continuará negociando a redução das tarifas de 50% aplicadas pelo governo de Donald Trump às exportações brasileiras, mas jamais abrirá mão de princípios fundamentais.
“Em hipótese alguma, vamos negociar intervenção no Judiciário. O primeiro ponto é garantir o diálogo, buscar a negociação. Em momento algum, por determinação do presidente Lula, a gente fechou o diálogo. A gente busca o diálogo na mesa de negociação. Agora, em hipótese alguma, vamos abrir mão da nossa soberania. Em hipótese alguma, por óbvio, vamos negociar aquilo que não é atribuição do Poder Executivo, como, por exemplo, intervenção no Poder Judiciário”, afirmou Fávaro.
O chamado “tarifaço” faz parte de uma série de ações dos Estados Unidos voltadas a interferir em processos internos do país, incluindo o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados pela tentativa de golpe que tentou reverter as eleições de 2022, culminando nos atentados de 8 de janeiro de 2023. Além disso, Trump iniciou investigação comercial contra o Brasil e aplicou sanções ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, relator do processo.
Pacote de apoio e medidas complementares
Para proteger produtores e setores afetados, o governo federal anunciou na quarta-feira (13) um pacote de medidas de apoio, que inclui R$ 30 bilhões em crédito, por meio da Medida Provisória denominada MP Brasil Soberano. Segundo Fávaro, estas são apenas as “primeiras medidas” e novas ações ainda serão necessárias para atender setores mais vulneráveis, especialmente aqueles cujas exportações dependem fortemente do mercado norte-americano.
“O suco de laranja teve impacto gigante, mas foi retirada a tarifa. Isso não significa que desdobramentos do setor não vão precisar de correções. As medidas anunciadas vão precisar de implementações, e estamos abertos a ouvir os setores, para que possamos continuar tomando medidas de auxílio”, explicou o ministro. Ele destacou que indústrias com 80% ou 90% da produção voltada aos EUA sofrerão mais e terão tratamento específico.
Expansão de mercados e compras públicas
Paralelamente, o governo intensifica a abertura de novos mercados internacionais. Fávaro celebrou que, “nunca na história do Brasil, abriu-se tanto mercado para a agropecuária brasileira. Chegamos ao número de 400 novos mercados”.
Além disso, o governo planeja implementar programas de compras públicas para absorver parte da produção antes destinada aos Estados Unidos. “Vamos acrescentar mais manga na merenda escolar e pescados nas compras para as Forças Armadas. Tudo isso faz o consumo momentaneamente suprir a demanda que era destinada para os Estados Unidos”, detalhou.
Leilão da Rota do Agro e infraestrutura eficiente
Na tarde desta quinta, Fávaro e o ministro dos Transportes, Renan Filho, participaram na B3, em São Paulo, do leilão da Rota do Agro (BRs 060/364/GO/MT). O consórcio vencedor ofereceu deságio de 19,70% no pedágio, consolidando o sucesso do certame e reforçando a competitividade logística do setor agropecuário.
“Um leilão de sucesso como esse contribui para que o agronegócio cresça com mais carga circulando pelas rodovias e garante infraestrutura eficiente, aumentando nossa competitividade”, afirmou Fávaro. Renan Filho destacou que foi o leilão de rodovias mais disputado dos últimos anos, com participação de cinco concorrentes, e que os investimentos privados em rodovias superaram pela primeira vez os públicos, consolidando um salto histórico na infraestrutura do país.
Até o final do ano, outros cinco ou seis leilões devem ocorrer, somando 14 a 15 leilões no total, o maior volume da história do país. Segundo Renan Filho, rodovias mais eficientes aumentam a competitividade internacional do Brasil e preparam o país para enfrentar a guerra tarifária imposta por outros países. “A tarifa nada mais é do que a construção de um muro. O ideal seria caminhar cada vez mais para o livre comércio, porque aí sim o Brasil demonstraria para o mundo a eficiência que temos. Mas, para se proteger, o mundo constrói barreiras”, afirmou.
Com informações do O Globo e Agências de Notícias*
www.expressonoticias.website