quarta-feira, abril 16, 2025
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》Empresas chinesas apostam na produção local e ampliam presença industrial no Brasil – Expresso Noticias

Vamos ao assunto:

Empresas chinesas do setor tecnológico e automotivo estão adotando uma nova estratégia para operar no mercado brasileiro: a instalação de fábricas em território nacional.

A mudança de abordagem busca contornar barreiras tarifárias, reduzir custos operacionais e fortalecer relações com países do Sul Global. A iniciativa marca uma transição da China de fornecedora global para investidora industrial com atuação local.

De acordo com o portal chinês Guancha, empresas como Xiaomi, OPPO e Vivo têm intensificado sua presença no Brasil por meio de fábricas e parcerias locais. A Vivo, por exemplo, iniciou operações no país sob a marca JOVI após a inauguração de sua unidade fabril em Manaus.

A entrada no mercado brasileiro, apesar de tardia, ocorre em um ambiente tributário complexo e com altas taxas de importação, que podem chegar a 60% sobre eletrônicos como smartphones.

A decisão por uma produção localizada reflete uma reação à política de proteção da indústria brasileira, que tradicionalmente impõe tarifas elevadas sobre produtos estrangeiros. Como exemplo, o iPhone 15 foi lançado no país a R$ 7.299, valor significativamente superior ao praticado nos Estados Unidos.

A Samsung, que fabrica produtos localmente desde 1999, consolidou sua vantagem competitiva nesse cenário. A Apple, mesmo com tentativas de nacionalização parcial da produção por meio da Foxconn, permanece com menos de 10% do mercado.

Empresas chinesas seguem esse modelo, firmando parcerias com companhias brasileiras como a Multi, que atua como intermediária tecnológica. A OPPO, ao instalar produção local, também busca adaptar produtos aos hábitos de consumo regionais, como o desenvolvimento de câmeras com funcionalidades voltadas ao público latino-americano.

O movimento de expansão industrial da China no Brasil ocorre em um contexto geopolítico global marcado por políticas de isolamento econômico.

Com a reeleição de Donald Trump em 2025 e o reforço de medidas protecionistas nos Estados Unidos, a China adotou estratégia oposta, promovendo parcerias e compartilhamento tecnológico com países em desenvolvimento.

“O que os países em desenvolvimento mais precisam é de tecnologias produtivas que permitam elevar a renda de suas populações. E a China está disposta a compartilhar isso”, afirma a reportagem do Guancha. Segundo o veículo, a atuação chinesa contribui para a criação de novas cadeias produtivas e para o fortalecimento da competitividade industrial local.

Fatores estruturais tornam o Brasil um destino atrativo para essas iniciativas. A urbanização atinge 87,6% da população, o Sistema Único de Saúde cobre 75% dos habitantes e o uso de smartphones alcança 85% da população. Além disso, dados da empresa AppAnnie apontam que brasileiros utilizam o celular por uma média de 5,4 horas diárias.

A entrada da DiDi no mercado brasileiro também reflete essa tendência. Após adquirir a plataforma 99, a companhia chinesa passou a atuar nos setores de transporte, pagamentos digitais — por meio da “99Pay” — e entregas. O modelo de cooperação inclui intercâmbio entre engenheiros chineses e equipes brasileiras, promovendo capacitação técnica e inovação no país.

A estratégia chinesa se assemelha a práticas adotadas em outros mercados. No Japão, a fabricante Hisense ultrapassou 40% de participação no setor de televisores em 2024 após a aquisição da divisão da Toshiba e o relançamento sob a marca REGZA.

A Haier, por sua vez, segue desde os anos 1990 uma política baseada em três frentes: produção e venda internas, produção nacional para exportação e produção local para consumo no exterior.

Na Europa e na Coreia do Sul, empresas chinesas também têm buscado diferenciação por meio da adaptação cultural e da colaboração com atores locais. O foco, segundo analistas, está em desenvolver valor compartilhado com os parceiros, superando estratégias meramente baseadas em preço.

O investimento chinês em países do Sul Global se distancia de práticas de extração de recursos naturais adotadas por antigas potências coloniais. Um exemplo citado pelo Guancha é o caso da Hungria, que se tornou o segundo maior produtor de veículos elétricos no mundo graças ao capital chinês, mantendo, ao mesmo tempo, autonomia política.

Para o especialista Lin Xueping, a estratégia tem êxito quando há integração produtiva e desenvolvimento conjunto. Um exemplo negativo ocorreu na Índia, onde uma empresa chinesa foi alvo de retaliação governamental por tentar operar sem transferência de conhecimento, importando tecnologia e mão de obra diretamente da China.

A atual expansão da China no exterior se baseia na ideia de reciprocidade e complementaridade. Assim como a Volkswagen contribuiu para o desenvolvimento da indústria automotiva chinesa na década de 1980, empresas chinesas agora buscam replicar esse modelo em outros mercados, com foco em geração de demanda e construção conjunta.

Diante da política externa dos Estados Unidos, marcada por medidas restritivas, a China tem respondido com investimentos industriais, acordos de cooperação e ampliação de parcerias produtivas.

A consolidação de fábricas chinesas no Brasil indica uma reconfiguração das relações comerciais e aponta para a formação de uma nova arquitetura econômica global, em que o país sul-americano ocupa posição estratégica na rota da industrialização tecnológica entre nações do Sul Global.

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