》Energia nuclear vira aposta do Brics para o Sul global – Expresso Noticias

Vamos ao assunto:

Parceria firmada entre Brasil e estatal chinesa prevê inovação tecnológica e investimento bilionário em projetos de energia limpa e mineração sustentável


Durante os preparativos para a 16ª Cúpula do Brics, que acontece no Rio de Janeiro, um tema tem ganhado força entre os jovens representantes dos países-membros: a energia nuclear. Para eles, essa fonte pode ser uma saída viável e sustentável na transição energética global, especialmente para os países em desenvolvimento.

Alexander Kormishin, presidente da Agência de Energia para a Juventude do Brics, afirmou à Agência Brasil que muitos jovens estão se posicionando a favor da energia nuclear por considerá-la limpa, tecnologicamente avançada e capaz de garantir acesso à energia acessível, além de gerar benefícios duradouros para as próximas gerações. “Muitos jovens têm se mostrado inclinados à geração nuclear, por ser limpa, tecnologicamente avançada e garantir acesso à energia limpa e acessível e gerando benefícios duradouros para as próximas gerações”, destacou.

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Kormishin ressaltou que os países do Brics já estão investindo nessa direção, com financiamento crescente para projetos nucleares. Ele também apontou que o assunto será um dos destaques na COP30, a Conferência do Clima que ocorrerá em novembro de 2025, em Belém (PA). Segundo ele, a juventude do bloco quer levar ao evento debates sobre uma transição energética justa e inclusiva, centrada nas realidades do Sul Global.

Eixos temáticos definidos em Brasília

Antes mesmo da cúpula carioca, durante a 7ª Cúpula da Juventude de Energia do Brics, realizada em junho em Brasília, foram traçados os principais eixos temáticos que devem guiar os debates futuros. Entre eles, destaca-se o uso de pequenos reatores modulares, diante do “crescente acesso e interesse global em tecnologias nucleares”. Outros temas importantes incluem soluções tecnológicas de baixo carbono, combustíveis sustentáveis e o desenvolvimento de competências técnicas e educacionais relacionadas ao setor energético.

“Acredito que será uma excelente oportunidade para aprendermos mais e expandirmos a visão sobre uma transição energética justa e inclusiva a partir do Sul Global”, disse Kormishin.

Uma transição energética sob nova perspectiva

Para a juventude do Brics, a transição energética não deve seguir apenas os moldes propostos pelos países desenvolvidos. A preocupação vai além da simples substituição de fontes poluentes — ela envolve impactos sociais profundos, especialmente em comunidades dependentes de empregos ligados à matriz energética tradicional.

“Essa transição energética impacta profundamente as famílias e o futuro dos jovens, pois muitos estão em fase de formação acadêmica, sendo financiados por seus familiares”, observou Kormishin. Segundo ele, a visão da juventude do Brics sobre segurança energética é diferente daquela adotada pelo G7, onde a crise europeia no fornecimento de gás e os reflexos da guerra na Ucrânia moldaram parte do debate.

Já nos países do Brics, o foco está no acesso a investimentos, oportunidades para jovens empreendedores e formas de garantir que a transição energética ocorra com fontes acessíveis e adaptáveis às diversas realidades regionais.

Impactos sociais e vulnerabilidades

A mudança da matriz energética traz consigo desafios sociais relevantes. Com a retirada gradual da geração tradicional de energia dos sistemas energéticos, alguns grupos ficam mais expostos, como formuladores de políticas públicas e ativistas. Kormishin destacou que, diante das diferenças entre os países membros, a discussão sobre segurança energética dentro do Brics é feita de forma inclusiva e participativa.

“Desenvolvemos uma estrutura muito inclusiva, baseada em pesquisa, com relatórios e perspectivas produzidas pelos próprios jovens. Isso oferece a eles a chance de refletir, dentro do contexto Brics, sobre o futuro, sobre o que deve ser priorizado em conjunto — inclusive discutindo divergências”, avaliou.

O espaço criado permite que jovens de diferentes culturas e realidades compartilhem ideias, adaptem-nas ou transfiram-nas para contextos distintos. “É um processo dinâmico e empolgante, que estamos desenvolvendo agora sob a presidência brasileira”, concluiu.

Enquanto os debates sobre energia tomam força na agenda do Brics, o governo brasileiro deu um passo importante rumo ao fortalecimento da cooperação energética internacional. Durante uma reunião paralela aos eventos do bloco, o Ministério de Minas e Energia assinou neste sábado (5) uma carta de intenções com a empresa estatal chinesa CGN Energy, uma das maiores especialistas em energia nuclear do mundo.

estatal chinesa CGN Energy
Em meio à cúpula no Rio, juventude do bloco propõe uma transição energética que inclua o Sul global e respeite as realidades sociais e econômicas locais / Reprodução

O documento foi assinado pelo ministro Alexandre Silveira e prevê cooperação técnica em transição energética, sustentabilidade e uso pacífico e responsável dos recursos minerais nucleares no Brasil. O grupo chinês já tem investimentos previstos de R$ 3 bilhões em projetos de energia renovável no país.

“Queremos avançar nas parcerias com a China para ampliarmos ainda mais a geração de energia limpa e renovável no Brasil, fortalecendo nosso papel de protagonista na transição energética global, além de desenvolver a cadeia mineral em nosso país”, afirmou o ministro.

Como funcionará o acordo

O acordo cria uma plataforma institucional de cooperação em pesquisa, desenvolvimento e inovação em tecnologias energéticas sustentáveis. Entre os objetivos estão:

  • Fortalecer capacidades técnicas e institucionais em geração, armazenamento e digitalização de energia;
  • Promover ações conjuntas em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I);
  • Modernizar a cadeia mineral nacional, com ênfase em pesquisa, desenvolvimento, inovação e industrialização;
  • Desenvolver cooperação técnica com universidades, centros de pesquisa e instituições públicas ou privadas especializadas em processamento mineral, ciência de materiais e gestão sustentável de recursos.

O foco é alinhar essas ações aos compromissos internacionais do Brasil em matéria de transição energética e sustentabilidade.

Conheça a CGN

A China General Nuclear Power Corporation (CGN) é a maior empresa de energia nuclear da China e a terceira maior do mundo, com capacidade instalada superior a 77 gigawatts. No Brasil, atua desde 2019 por meio da subsidiária CGN Brazil Energy (CGNBE), desenvolvendo, implantando e operando projetos de geração de energia elétrica a partir de fontes renováveis.

Atualmente, a empresa possui sete complexos eólicos e três complexos solares espalhados por Bahia, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Ceará. Juntos, esses empreendimentos somam mais de 1,4 GW de capacidade instalada, contribuindo significativamente para a matriz energética brasileira.

Com esse novo acordo, o Brasil dá sinais claros de que busca ampliar sua presença no cenário global da energia limpa e renovável, apostando na cooperação internacional e no potencial de seus recursos naturais estratégicos.

Um futuro energético construído pela juventude

Diante de tantos desafios, a voz da juventude do Brics tem se mostrado cada vez mais influente. Ao defender a energia nuclear como parte da solução para uma transição energética equitativa, os jovens do bloco ajudam a moldar uma narrativa que vai além das fronteiras econômicas e tecnológicas — toca questões sociais, ambientais e de justiça intergeracional.

E enquanto o Brasil assume protagonismo nesse debate, com iniciativas como a parceria com a CGN, fica claro que o caminho para uma nova era energética está sendo trilhado por múltiplas mãos — e olha para frente, com responsabilidade e ambição.

Com informações de Agência Brasil e Exame*

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