》EUA ameaçam e Sheinbaum responde com comércio – Expresso Noticias
Vamos ao assunto:
A menos de 48 horas de novas sanções, parlamentares dos EUA pressionam por diálogo com o México e apontam riscos bilaterais em decisões unilaterais
Dois parlamentares norte-americanos que mantiveram reuniões com a presidente do México, Claudia Sheinbaum, nesta quarta-feira (30) destacaram oportunidades significativas para ampliar o comércio bilateral entre os países, em um momento crítico diante da ameaça de novas tarifas americanas.
O republicano Don Bacon, de Nebraska, e o democrata Ro Khanna, da Califórnia, conversaram com a mandatária mexicana na Cidade do México em um encontro que abordou temas estratégicos como segurança, agricultura e imigração. Os congressistas ressaltaram a importância de fortalecer os laços bilaterais antes do aguardado contato telefônico entre Sheinbaum e o presidente norte-americano, Donald Trump, previsto para quinta-feira, com o objetivo de evitar uma tarifa de 30% sobre produtos mexicanos.
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“Se não chegarmos a um acordo, isso só prejudica os dois países”, comentou Bacon, lembrando que o Nebraska exporta importantes commodities para o México, como carne bovina, milho e soja. “Estamos comprando o que precisamos, e eles estão comprando o que precisam, então parece que é uma relação vantajosa para todos.”
A visita dos legisladores ocorre em um contexto tenso nas relações comerciais entre os dois países. O presidente Trump afirmou no mês passado que o México não fez esforços suficientes para combater o tráfico de fentanil por cartéis criminosos. Até o momento, a tarifa de 25% imposta no início do ano se aplicava apenas a produtos que não gozam de isenção sob o acordo comercial USMCA. A menos que um entendimento seja alcançado de última hora, a nova taxa comercial entra em vigor na sexta-feira, conforme anunciado por Trump em carta divulgada nas redes sociais.
Os congressistas também discutiram com Sheinbaum soluções para disputas comerciais em andamento, incluindo a taxa aplicada ao tomate mexicano após reclamações de produtores norte-americanos, e a proibição das importações de gado devido à presença da bicheira, uma praga que preocupa os criadores da região.
Bacon e Khanna ainda tiveram audiências com o ministro das Relações Exteriores, Juan Ramón de la Fuente, e o ministro da Agricultura, Julio Berdegue, ampliando o espectro das conversas para temas de interesse mútuo.
Khanna enfatizou a necessidade de evitar medidas que possam impactar negativamente os empregos em ambos os países. “Não queremos tarifas altas que prejudiquem empregos nos Estados Unidos ou no México”, declarou. “E queremos ver uma solução.”
Os parlamentares argumentaram que uma tarifa mais elevada não beneficiaria seus respectivos estados, reforçando que apoiar o desenvolvimento econômico do México poderia oferecer alternativas de emprego que afastariam potenciais recrutas de organizações criminosas. A abordagem reflete uma visão que associa desenvolvimento econômico e segurança regional.
Bacon também destacou avanços na segurança da fronteira norte-americana como um fator que abre espaço para uma legislação mais abrangente sobre imigração, incluindo proteções para migrantes indocumentados que trabalham há anos nos Estados Unidos.
“Pouquíssimos estão conseguindo passar e estão sendo impedidos. Então, eu diria que, por definição, a fronteira está segura neste momento”, observou Bacon, que tem trabalhado na reintrodução de um projeto de lei de imigração com apoio de ambos os partidos. “Isso dá ao presidente alguma margem de manobra para fazer algo grande.”
Durante a agenda no México, os congressistas também mantiveram reuniões com autoridades militares de alto escalão, identificando possibilidades de cooperação em segurança cibernética. Bacon preside a subcomissão especializada em cibersegurança do Comitê de Serviços Armados da Câmara, enquanto Khanna, que também integra a comissão, representa o distrito que abriga o Vale do Silício, polo tecnológico norte-americano.
A visita ilustra o esforço do Congresso norte-americano para buscar soluções diplomáticas antes da entrada em vigor de medidas comerciais que poderiam impactar significativamente as economias de ambos os países. Com o prazo se aproximando, os encontros em solo mexicano ganham relevância estratégica em um momento decisivo para as relações bilaterais.
Disputa comercial pelo tomate pode encarecer produto em 10% nos EUA
Consumidores norte-americanos podem ver o preço dos tomates frescos subir em até 10% nas próximas semanas, com o fim iminente de um acordo comercial de décadas com o México que regula os preços das importações do produto.
A maior distribuidora de tomates dos Estados Unidos, a NatureSweet Ltd., já alertou seus clientes sobre o aumento necessário caso o entendimento bilateral expire no próximo dia 14 de julho. Em entrevista na terça-feira, o presidente-executivo da empresa, Rodolfo Spielmann, foi direto ao afirmar que não há condições de absorver os custos adicionais: “Não há cenário em que eu possa absorver essas tarifas. As margens não são altas o suficiente.”
A perspectiva de reajuste chega em um momento delicado para o mercado de hortifrúti norte-americano. A NatureSweet detém posição dominante no setor, com seus produtos estrelas — como os populares tomates-uva Cherubs — presentes em grandes redes varejistas como Walmart Inc., Kroger Co. e Albertsons Cos.
O Departamento de Comércio americano anunciou em abril que encerraria o acordo comercial de longa data com o México sobre preços de tomates, aplicando automaticamente uma tarifa de 17% sobre as frutas importadas. Com menos de uma semana para o prazo final, especialistas consideram improvável um acordo de última hora, embora diversos grupos empresariais estejam pressionando por uma extensão que permita mais tempo para negociações.
O fim do acordo representa um impacto significativo para empresas americanas que cultivam tomates em solo mexicano e os exportam para o mercado norte-americano, onde dominam praticamente metade das prateleiras. Dados do Departamento de Agricultura dos EUA mostram que cerca de 72% dos tomates frescos consumidos no país foram importados em 2024, sendo aproximadamente 90% originários do México.
A mudança no panorama comercial foi recebida com entusiasmo por alguns produtores locais. A Secretária da Agricultura norte-americana, Brooke Rollins, reconheceu que o fim do acordo poderia elevar temporariamente os preços, mas defendeu a medida como essencial para garantir práticas comerciais justas. “É possível que o preço do tomate suba no curto prazo. A longo prazo, garantir que nossos parceiros internacionais sejam justos, sigam as regras e cumpram suas obrigações é fundamental”, declarou.
Produtores de tomate na Flórida e em outros estados há anos pressionavam o governo para romper o acordo com o México, alegando que as importações vizinhas eram vendidas a preços injustamente baixos. O entendimento original, firmado em 1996 e renegociado periodicamente, havia suspenso uma investigação sobre dumping e estabelecido preços mínimos para os tomates mexicanos, além de prever inspeções adicionais.
“Não funcionou”, avaliou Robert Guenther, vice-presidente executivo da Bolsa de Tomate da Flórida, que representa diversos produtores do estado e de outras regiões. Nos últimos 30 anos, segundo ele, “o que vimos foi uma redução consistente na participação de mercado do tomate nos EUA.” Quando o acordo foi inicialmente assinado, os produtores americanos respondiam por cerca de 80% do mercado interno — percentual que caiu para aproximadamente 30%.
No entanto, economistas agrícolas apontam que o México conquistou espaço no mercado devido a fatores naturais e econômicos. O clima favorável e a infraestrutura de estufas do país vizinho se mostraram ideais para o cultivo de variedades cada vez mais populares, como tomates cereja, uva e heirloom. A mão de obra mais barata também contribuiu para manter os preços competitivos.
“Não se deve a um esforço conjunto dos produtores mexicanos para conquistar a fatia de mercado e expulsar a Flórida. Eles estão simplesmente fornecendo produtos melhores ao mercado”, explicou Matt Mandel, vice-presidente da SunFed Produce, do Arizona, que importa 95% de sua produção do México. Mandel também confirmou que sua empresa precisará repassar os custos adicionais aos consumidores caso o acordo expire.
“Vai aumentar os preços, ponto final, ponto final”, afirmou. “Estamos trabalhando com margens muito, muito pequenas e não há como absorver 17%.”
Apesar das expectativas de aumento, Guenther acredita que o impacto será moderado. Segundo ele, produtores americanos em estados como Flórida, Arizona e Califórnia têm capacidade para expandir sua produção e compensar parte da redução nas importações.
No entanto, especialistas alertam que o fim das importações mexicanas pode gerar impactos mais amplos na economia local. Andrew Muhammad, professor de política agrícola no Instituto de Agricultura da Universidade do Tennessee, destaca que a redução do comércio bilateral também significará perda de empregos ligados à cadeia de importação.
“Além da perda de importações, haverá perda de atividade econômica. Os serviços associados à importação também pagam aos americanos,” ressaltou Muhammad. Uma análise da Texas A&M University realizada em abril estima que a importação e comercialização de tomates frescos mexicanos geram cerca de 47 mil empregos de meio período e período integral nos Estados Unidos.
A divisão política em torno da questão ilustra as diferentes realidades regionais. Autoridades eleitas de estados como Arizona e Texas, incluindo o governador do Texas, Greg Abbott, têm pedido ao governo federal que mantenha o acordo em vigor, reconhecendo os benefícios econômicos para suas regiões. Já legisladores da Flórida têm aplaudido os esforços para encerrar o entendimento, defendendo a proteção da produção local.
Com o prazo se aproximando, o debate ganha contornos que vão além do comércio bilateral, tocando questões de política agrícola, emprego regional e acesso dos consumidores a produtos básicos em momentos de inflação persistente.
Com informações de Bloomberg*
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