》EUA atacam terminal chinês e acirram guerra do petróleo – Expresso Noticias
Vamos ao assunto:
Washington sanciona terminal chinês por importar petróleo iraniano disfarçado de carga malaia e amplia tensão em meio a ofensiva contra o regime de Teerã
O governo dos Estados Unidos anunciou nesta quarta-feira (30) uma nova rodada de sanções econômicas, desta vez direcionadas a um terminal de petróleo chinês que teria recebido múltiplas cargas de crude iraniano. A medida faz parte da estratégia americana de conter as exportações de energia do Irã, que segundo Washington financiariam atividades terroristas em todo o mundo.
A empresa sancionada foi a Zhoushan Jinrun Petroleum Transfer Co., localizada na cidade de Zhoushan, uma das principais regiões industriais da China e lar de algumas das maiores refinarias do país. De acordo com comunicado oficial do Departamento de Estado norte-americano, a companhia recebeu ao menos seis remessas de petróleo bruto proveniente do Irã.
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A lista de sanções divulgada inclui ao todo 20 entidades envolvidas, segundo as autoridades americanas, em uma rede que facilita o comércio energético entre Teerã e outros países, mesmo diante das restrições internacionais. Tentativas de contato com a Zhoushan Jinrun não obtiveram resposta até o momento da publicação desta reportagem.
Essa é a quarta instalação chinesa a ser penalizada pelos EUA em razão de atividades ligadas ao petróleo iraniano. A administração Biden tem reforçado sua postura de “pressão máxima” contra o Irã, especialmente em relação às exportações de crude, consideradas uma das principais fontes de financiamento do programa nuclear e de grupos considerados terroristas pelo Ocidente.
Nos últimos meses, os Estados Unidos já haviam imposto sanções a diversos navios-tanque e indivíduos acusados de participar do transporte ilegal de petróleo iraniano. Algumas das chamadas refinarias “teapot” — menores unidades independentes da China — também já haviam sido alvo de medidas punitivas semelhantes.
Embora Pequim tenha oficialmente interrompido as importações de petróleo iraniano desde junho de 2022, dados de provedores terceirizados e informações do mercado indicam que o fluxo de energia continua ativo. Uma prática comum tem sido o embarque de cargas iranianas sob falsa identidade, muitas vezes rotuladas como originárias da Malásia.
A própria Zhoushan Jinrun possui capacidade de armazenamento significativa, segundo informações disponíveis em seu site corporativo: 1,095 milhão de metros cúbicos, o equivalente a aproximadamente 6,9 milhões de barris de petróleo. A infraestrutura pode representar um ponto estratégico na cadeia de distribuição de energia que tenta contornar as sanções internacionais.
A nova onda de restrições econômicas ilustra a complexidade das relações comerciais globais e a dificuldade de monitorar completamente os fluxos de commodities em um mercado internacional cada vez mais adaptável às pressões geopolíticas. Enquanto os EUA intensificam sua campanha para isolar economicamente o Irã, aliados como a China enfrentam o desafio de equilibrar interesses comerciais com as exigências da diplomacia internacional.
Para especialistas, a eficácia dessas sanções depende cada vez mais da cooperação entre aliados e da capacidade de identificar rotas alternativas que tentam burlar o sistema de restrições. A inclusão de infraestruturas como a de Zhoushan demonstra que Washington está ampliando seu foco para além dos transportadores marítimos e mirando diretamente os pontos de recepção e processamento dessas cargas.
Com essas medidas, os Estados Unidos reforçam sua mensagem de que qualquer envolvimento com o comércio energético iraniano será tratado com rigor, mesmo que isso signifique colocar em xeque relações comerciais tradicionais com parceiros estratégicos como a China.
Apesar das restrições impostas pelos Estados Unidos, alguns dos maiores terminais portuários da China continuam recebendo cargas significativas de petróleo bruto iraniano, mantendo vivo um comércio que movimenta bilhões de dólares e revela as limitações das sanções americanas contra Teerã.
De janeiro a junho deste ano, instalações localizadas em importantes centros marítimos como Qingdao, Dalian e Zhoushan ajudaram Pequim a adquirir quase 1,4 milhão de barris por dia de petróleo iraniano, segundo dados da consultoria especializada Kpler. A cifra representa um volume considerável, especialmente quando se considera que Pequim oficialmente suspendeu as importações desse tipo de energia desde meados de 2022.
Apenas no mês de junho, os portos da região de Qingdao receberam aproximadamente 15,5 milhões de barris de crude iraniano — o equivalente a cerca de US$ 1 bilhão com os preços atuais do mercado. O percurso dessas cargas envolve embarcações já sancionadas pelos EUA, que são utilizadas em diferentes etapas da travessia entre o Golfo Pérsico e os terminais chineses.
O padrão se repete ao longo da costa leste do país asiático, com portos como Dongjiakou e Lanqiao também registrando descargas de petróleo originário do Irã. Essa persistência comercial ilustra tanto a necessidade energética da China quanto a complexidade de monitorar completamente as rotas de suprimento em um mercado global cada vez mais adaptável às pressões geopolíticas.
A postura chinesa diante das sanções reflete uma abordagem pragmática frente às mensagens contraditórias vindas de Washington. Enquanto o governo Trump prometeu “pressão máxima” sobre o Irã — chegando a bombardear instalações nucleares —, o presidente norte-americano também declarou publicamente que a China poderia continuar negociando petróleo com Teerã.
Essa ambiguidade tem sido aproveitada por empresas e operadores locais que buscam manter fluxos comerciais lucrativos, mesmo diante dos riscos. Embora Pequim não reconheça oficialmente as sanções unilaterais impostas pelos EUA, grandes corporações com presença internacional costumam adotar uma postura mais cautelosa, temendo ser excluídas dos mercados ocidentais caso se envolvam diretamente com entidades sancionadas.
No início deste ano, inclusive, os portos da província de Shandong receberam orientações de sua controladora para manter embarcações sancionadas afastadas de suas instalações — uma medida que demonstra a sensibilidade das grandes empresas diante da fiscalização americana.
Até o momento, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos tem concentrado seus esforços principalmente sobre os próprios navios-tanque e operadores envolvidos no transporte, evitando incluir na lista negra grandes portos e refinarias chinesas. A única exceção foi um terminal em Dongying, também em Shandong, que foi sancionado por receber cargas iranianas — uma decisão interpretada pelo setor como uma mensagem deliberada para evitar danos colaterais em outras áreas estratégicas.
A persistência dos fluxos também está ligada à crescente demanda da China por petróleo com desconto. Com a economia chinesa enfrentando desaceleração e margens de refino cada vez menores, as refinarias privadas do país têm procurado ativamente por barris mais baratos para manter sua competitividade no mercado interno.
Oficialmente, os dados da alfândega chinesa indicam que o país não importou uma única gota de petróleo iraniano desde 2022. Na prática, porém, o crude originário de Teerã normalmente é transferido em alto mar, muitas vezes nas águas da Malásia, onde embarcações sancionadas pelos EUA entregam a carga a outros navios — frequentemente parte da chamada “frota escura” — que completam a viagem até os portos chineses.
Essa estratégia de transferências marítimas tem permitido que ambos os países mantenham relações comerciais importantes, mesmo diante da pressão internacional. Para especialistas, o fenômeno revela as limitações das sanções unilaterais em um mundo onde as rotas comerciais se adaptam rapidamente às restrições impostas.
Enquanto isso, a China enfrenta crescentes pressões para diversificar seus mecanismos de pagamento internacional, com consultores sugerindo o uso de stablecoins para contornar a hegemonia do dólar. Paralelamente, Israel continua pedindo à China que utilize sua influência econômica e política para conter as ambições nucleares e militares do Irã.
Diante desse cenário complexo, os dados dos primeiros meses de 2025 indicam que o comércio de petróleo entre China e Irã permanece resiliente — uma demonstração de que as sanções, por mais rigorosas que sejam, encontram limites quando esbarram em interesses econômicos estratégicos de potências globais.
Com informações de Bloomberg*
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