》EUA barram palestinos e desafiam o direito internacional – Expresso Noticias

Vamos ao assunto:

União Europeia e França pressionam Washington, destacando a violação do princípio de igualdade entre Estados-membros


Na véspera da Assembleia Geral da ONU, o fórum máximo do diálogo global, uma decisão unilateral dos Estados Unidos ecoa mais alto que qualquer discurso preparado: a negação de vistos a toda a delegação palestina, incluindo seu veterano presidente de 89 anos, Mahmud Abbas. Este ato não é uma mera formalidade administrativa; é uma agressão diplomática calculada que expõe a fragilidade do direito internacional, a parcialidade da política externa americana e a brutal desconexão entre os salões do poder e a realidade sangrenta vivida pelo povo palestino. Ao impedir a presença palestina, Washington não apenas viola suas obrigações como país-sede da ONU, mas tenta silenciar uma nação no exato momento em que o mundo começa a se mobilizar para, finalmente, reconhecer sua soberania.

A ilegalidade da medida é flagrante e incontestável. O Acordo de Sede das Nações Unidas é explícito: o país anfitrião não deve impedir o acesso de delegações oficiais. A União Europeia, por meio de sua principal diplomata, Kaja Kallas, já pediu que a decisão seja reconsiderada, sublinhando o consenso entre os ministros europeus. O ministro francês, Jean-Noël Barrot, foi ainda mais direto, classificando a restrição como uma “violação clara do princípio de igualdade entre Estados-membros”.

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Quando os aliados mais próximos de Washington se veem forçados a repreendê-lo publicamente, fica claro que não se trata de uma questão de interpretação, mas de um deliberado desprezo pelas regras que sustentam a ordem multilateral. Os Estados Unidos estão abusando de seu privilégio geográfico para exercer um poder de veto ilegítimo, transformando Nova York em um palco acessível apenas àqueles que se alinham aos seus interesses e aos de seu principal aliado na região, Israel.

O momento escolhido para esta ação revela sua verdadeira intenção política. A decisão de barrar a delegação palestina surge precisamente quando a França lidera um esforço robusto para o reconhecimento formal do Estado Palestino na cúpula da ONU, um movimento que ganha tração com o apoio declarado de países como Canadá e Austrália, e a sinalização positiva do Reino Unido.

A resposta dos EUA e de Israel — acusar os proponentes de “recompensar o Hamas” — é uma cortina de fumaça cínica. O verdadeiro objetivo é sabotar um avanço diplomático histórico e impedir que a causa palestina ganhe uma vitória legítima no cenário mundial. Silenciar Mahmud Abbas e seus 80 funcionários é uma tentativa desesperada de esvaziar a cadeira da Palestina para que a narrativa da ocupação possa continuar sem contraponto.

Enquanto esta disputa diplomática se desenrola em gabinetes climatizados, a realidade em Gaza é de fogo e morte. A contradição é moralmente assustadora: no mesmo fim de semana em que diplomatas palestinos são impedidos de falar, bombardeios israelenses matam mais de 50 pessoas, elevando o número de vítimas em 22 meses para a cifra insuportável de 63.371.

O plano do exército israelense de tomar a maior área do território sitiado segue em progresso. Como pode a comunidade internacional aceitar que a voz de um povo seja calada enquanto seu corpo é sistematicamente violentado? A negação dos vistos não é um ato isolado; é a continuação da política de desumanização e apagamento por outros meios. É a afirmação de que vidas palestinas e vozes palestinas são, em última análise, descartáveis.

Este episódio transcende o conflito israelense-palestino. Ele se tornou, como bem observam os analistas, um “teste de princípios” para o sistema global. O que está em jogo é se as obrigações multilaterais e o direito internacional prevalecerão sobre as decisões unilaterais de um Estado poderoso.

Ao se alinhar de forma tão explícita com o governo de Israel a ponto de violar seus próprios compromissos internacionais, o governo de Donald Trump abdica de qualquer pretensão de ser um mediador honesto ou um guardião da ordem global. Pelo contrário, posiciona-se como um obstáculo à paz e um agente da instabilidade.

A cadeira vazia de Mahmud Abbas na Assembleia Geral não será um sinal da ausência da Palestina. Será, ao contrário, um símbolo eloquente e ensurdecedor da falência moral da política externa americana, da cumplicidade com a ocupação e do desprezo por um sistema internacional que os próprios Estados Unidos ajudaram a construir.

Será a prova visível de que, para Washington, o direito à soberania e à representação só vale para alguns. A Palestina pode ter sido silenciada temporariamente, mas sua ausência forçada falará mais alto do que qualquer discurso jamais poderia.

Com informações de Agências de Notícias*

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