》EUA não volta atrás em sanções e Brasil corre contra o tempo – Expresso Noticias
Vamos ao assunto:
Empresários entram no jogo para convencer os EUA de que punir o Brasil também pesa no bolso do consumidor americano
O governo dos Estados Unidos não pretende se apressar para fechar acordos comerciais com outros países, mesmo com o prazo simbólico de 1º de agosto se aproximando. A declaração foi feita nesta segunda-feira (21) pelo secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, em entrevista à CNBC, reforçando a postura firme da administração Trump diante das negociações internacionais.
“Não vamos nos apressar para fechar acordos”, afirmou Bessent, destacando que a prioridade do governo é garantir a qualidade dos tratados em vez de cumprir prazos ou atender expectativas externas. Segundo ele, os EUA estão mais interessados em alcançar termos vantajosos para sua economia do que em acelerar processos diplomáticos apenas por questões de cronograma.
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Questionado sobre a possibilidade de prorrogar o prazo de 1º de agosto para países que estejam avançando em negociações produtivas com Washington, Bessent deixou em aberto a decisão final: “Veremos o que o presidente quer fazer.” Ele acrescentou que, caso as tarifas previstas entrem em vigor, isso pode funcionar como um incentivo adicional para os parceiros comerciais cederem em pontos cruciais.
“Acho que um nível tarifário mais alto pressionará mais esses países a chegarem a acordos melhores”, disse, sugerindo que a ameaça de taxação continua sendo uma ferramenta estratégica nas mãos do governo americano.
China no radar: pressão por mudanças estruturais
Sobre as relações comerciais com a China, Bessent indicou que novas conversas estão prestes a acontecer. “Haverá discussões em um futuro muito próximo”, afirmou, mas não detalhou datas ou pautas específicas. O tom, no entanto, foi claro: os EUA esperam mais do que acordos pontuais.
O secretário criticou a postura chinesa ao comprar grandes volumes de petróleo iraniano e russo — commodities sancionadas pelos EUA — e chamou atenção para o que chamou de “o elefante na sala”: a necessidade de um grande reequilíbrio econômico por parte da China. Para Bessent, Pequim precisa ajustar seu modelo de crescimento, reduzir distorções no mercado global e abrir espaço para uma concorrência mais justa.
“Podemos começar a falar sobre outras coisas, mas infelizmente os chineses ainda insistem em práticas que desestabilizam o comércio internacional”, afirmou.
Já em relação ao Japão, Bessent ressaltou que o foco do governo americano está em obter benefícios concretos para os produtores e trabalhadores dos EUA, e não em interferir na política interna de Tóquio. “Estamos menos preocupados com o que acontece dentro do Japão do que em conseguir o melhor acordo possível para os norte-americanos”, declarou.
Brasil sob pressão: governo busca isolar comércio da crise política
Enquanto isso, no Brasil, o cenário segue tenso. Desde sexta-feira (18), quando o presidente Donald Trump anunciou uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, o governo brasileiro tenta dimensionar os impactos dessa medida e encontrar caminhos para contornar a crise.
Negociadores do Itamaraty e do Ministério da Economia reconhecem que a semana começa sob um clima de grande imprevisibilidade. Sem saber se Trump vai anunciar novas medidas ou recuar parcialmente, a equipe diplomática brasileira trabalha com a hipótese de que cada novo tuíte do presidente americano pode alterar completamente o rumo das negociações.
Nesse contexto, a estratégia tem sido clara: isolar a política da economia. Enquanto setores alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), intensificam o discurso de confronto com instituições brasileiras — especialmente o STF —, o Itamaraty faz movimentos opostos. Busca-se demonstrar aos EUA que o Brasil é um país com Estado de Direito, com instituições sólidas e processos judiciais legítimos, inclusive no que diz respeito às investigações sobre os atos de 8 de janeiro de 2023.
A intenção é evitar que tensões políticas internas sejam usadas como argumento para endurecer a posição comercial americana. Diplomatas têm reforçado junto a autoridades de Washington que o processo judicial envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro é independente e baseado em provas, sem motivação política.
Corrida contra o tempo
Até o dia 1º de agosto, o Brasil trava uma verdadeira corrida contra o tempo. A meta é convencer os EUA a revisar, ainda que parcialmente, a aplicação das tarifas excessivas. Há preocupação de que, sem uma resposta eficaz, o setor agroexportador — um dos pilares da economia nacional — possa ser duramente afetado.
Apesar da incerteza, negociadores avaliam que o governo Lula tem agido com assertividade. Em vez de reagir apenas no campo diplomático, a estratégia inclui trazer empresários para a linha de frente das articulações. Representantes do agronegócio, indústria e setor de tecnologia estão sendo mobilizados para dialogar diretamente com parceiros americanos, mostrando os danos reais que as tarifas podem causar também ao consumidor norte-americano.
“Hoje, mais do que nunca, precisamos mostrar que o Brasil é um parceiro confiável, mesmo em meio a turbulências políticas”, disse um assessor do Palácio do Planalto, sob condição de anonimato.
Um jogo de xadrez comercial
O atual momento revela um tabuleiro complexo, onde economia, política externa e instabilidade doméstica se cruzam. Enquanto os EUA usam tarifas como alavanca para forçar concessões, o Brasil tenta manter sua credibilidade internacional sem sucumbir à pressão ou alimentar narrativas que possam agravar o clima de tensão.
Com o prazo de 1º de agosto se aproximando — e a possibilidade real de ele ser ignorado ou estendido —, uma coisa parece certa: o comércio internacional segue sendo, cada vez mais, um campo de disputa onde palavras, decisões e até tuítes podem valer bilhões.
Temor de represálias trava lobby nos EUA e ameaça cadeia produtiva brasileira
A esperança do governo brasileiro de mobilizar empresas norte-americanas para pressionar a Casa Branca contra as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros esbarra em um obstáculo inesperado: o medo. Relatos colhidos pela CNN junto a grandes importadores dos EUA mostram que, embora haja preocupação com os impactos econômicos da medida, muitos preferem agir com cautela — ou até se antecipar — para não irritar o presidente Donald Trump.
O temor de retaliação direta ou indireta do mandatário americano está paralisando iniciativas de lobby que, em outros momentos, seriam naturais. Em vez de articulações conjuntas com Brasília para reverter a decisão, algumas companhias optam por planos de contingência: trocar fornecedores brasileiros por alternativas de países com tratamento tarifário mais favorável.
Nos últimos dias, representantes de exportadores brasileiros — de frutas tropicais à carne, passando pela indústria aeroespacial e pelo setor de café — mantiveram intensas conversas com seus parceiros comerciais nos Estados Unidos. O tom, em geral, foi de alinhamento: todos reconhecem que a sobretaxa é prejudicial, encarece produtos e acaba onerando o consumidor final. Até aí, o consenso era total.
Mas, ao chegar na hora de agir, o entusiasmo esfria. Enquanto o lado brasileiro insiste em pedir apoio político formal — como cartas coletivas, audiências no Congresso ou reuniões com assessores da Casa Branca —, o retorno tem sido tímido, muitas vezes envolto em silêncios constrangedores ou promessas vagas.
“Estamos trabalhando internamente”, dizem. “Vamos ver o que podemos fazer.” Mas, na prática, pouco avança.
Medo de virar alvo de Trump
A explicação está no clima político interno dos EUA. Empresários e executivos relatam, em off, que o presidente Trump costuma enxergar qualquer contestação às suas decisões comerciais como deslealdade. E quem ousa questionar publicamente suas políticas pode rapidamente se tornar alvo de tuítes cortantes, investigações fiscais ou barreiras regulatórias.
“É um jogo de risco alto”, disse um executivo de uma grande empresa de alimentos com sede em Chicago, que prefere não se identificar. “Sabemos que as tarifas vão nos custar caro, mas também sabemos que levantar a voz contra o presidente pode custar ainda mais.”
Esse cenário de autocensura dificulta especialmente o plano do Brasil de usar a pressão do setor privado americano como alavanca diplomática. A ideia era simples: se os lucros das empresas dos EUA estão em risco, elas mesmas iriam bater à porta da Casa Branca exigindo mudanças. Só que, dessa vez, o cálculo mudou.
Plano B: substituir o Brasil
Enquanto isso, algumas das maiores importadoras de produtos brasileiros já colocaram em prática sua estratégia de emergência. Uma das principais compradoras de café do Brasil nos EUA, por exemplo, confirmou à CNN que está diversificando sua cadeia de suprimentos.
“Estamos avaliando fornecedores da Colômbia, Vietnã e Costa Rica — países que, por enquanto, não enfrentam essa alíquota agressiva”, afirmou um diretor da empresa, sob condição de anonimato. “Se a tarifa de 50% for aplicada a partir de 1º de agosto, vamos ter que reduzir nossas compras do Brasil. É uma decisão comercial, não política.”
A mudança pode parecer técnica, mas os efeitos são profundos. Para o produtor rural brasileiro, significa perda de mercado. Para o setor logístico, menos embarques. Para o câmbio, pressão adicional. E, no longo prazo, pode sinalizar que o Brasil está sendo visto como um parceiro comercial instável — não por falhas estruturais, mas por estar frequentemente no centro de turbulências políticas que extrapolam as fronteiras.
Estratégia brasileira sob pressão
Diante disso, o governo brasileiro ajusta seu discurso. Além de manter canais diplomáticos abertos com o Departamento de Comércio e o Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), começa a focar em setores específicos onde o impacto da tarifa será mais sentido nos EUA — como o agronegócio, que fornece commodities essenciais para a indústria alimentícia americana, e a indústria de alumínio, que abastece parte da construção civil e automotiva.
Também há esforços para mostrar dados concretos: quanto o consumidor americano vai pagar a mais por um pacote de café, por um litro de suco de laranja congelado ou por peças usadas em aviões da Embraer. A intenção é transformar o argumento em algo palpável — e difícil de ignorar.
Mas, sem o respaldo forte e visível do setor privado dos EUA, a missão fica mais árdua. “Estamos sozinhos em campo”, admitiu um negociador experiente do Itamaraty, em conversa reservada. “Queremos acreditar que o bom senso prevalecerá, mas, enquanto isso, os americanos já estão procurando outros fornecedores.”
Um alerta para o futuro
O episódio revela uma nova realidade nas relações comerciais globais: decisões econômicas estão cada vez mais subordinadas a cálculos políticos voláteis. No caso do Brasil, a combinação de um governo americano imprevisível com uma cena doméstica polarizada cria um ambiente de risco constante.
Mais do que uma crise pontual, o momento serve como alerta: a dependência de mercados externos exige estabilidade institucional, diálogo consistente e, acima de tudo, a capacidade de isolar o comércio da briga política. Porque, enquanto líderes discutem poder, quem paga o preço muitas vezes é o produtor, o exportador e, no fim, o trabalhador brasileiro.
E, diante da incerteza do dia 1º de agosto, uma pergunta ecoa nos corredores de Brasília, São Paulo e nos cafezais do Sul de Minas:
— Será que, desta vez, o Brasil vai conseguir convencer quem manda? Ou vamos perder espaço para quem sabe se adaptar mais rápido?
Com informações de CNN e CNBC*
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