》Governadores correm para ajudar Lula a conter tarifaço de Trump – Expresso Noticias

Vamos ao assunto:

A resposta à crise veio primeiro dos Estados, que buscam proteger suas economias regionais antes que o impacto das tarifas desestabilize o mercado interno


Enquanto o governo federal ainda avalia os impactos do tarifaço de 50% imposto pelo presidente americano Donald Trump sobre produtos brasileiros, Estados estrategicamente afetados já começaram a agir por conta própria. Ao menos quatro unidades da federação — São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul — anunciaram medidas emergenciais para conter os prejuízos que o setor produtivo pode sofrer com a medida, que entra em vigor no dia 6 de agosto.

A reação coordenada dos governos estaduais acontece após a oficialização, na quarta-feira (30), do decreto americano que institui tarifa adicional sobre produtos brasileiros. Embora o texto preveja cerca de 700 exceções — incluindo peças aeronáuticas, veículos, fertilizantes e minérios —, setores estratégicos para o Brasil ficaram de fora da lista, como café, carne bovina, frutas, calçados e têxteis.

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Diante desse cenário, os Estados optaram por liberar créditos acumulados, facilitar acesso a financiamentos e conceder incentivos fiscais para empresas mais expostas ao impacto da medida.

São Paulo libera R$ 1,5 bilhão em créditos

O governo de São Paulo foi o primeiro a anunciar um pacote robusto. Na quarta-feira (30), divulgou a liberação de R$ 1,5 bilhão em créditos de ICMS acumulados e ampliou a Linha Giro Exportador de R$ 200 milhões para R$ 400 milhões. A linha terá juros subsidiados a partir de 0,27% ao mês + IPCA, com até 60 meses para pagamento e 12 meses de carência.

Os créditos serão disponibilizados por meio do programa ProAtivo, com limite de R$ 120 milhões por empresa. Os pedidos começarão a ser aceitos em setembro, por meio do SIPET da Sefaz-SP.

Minas Gerais e Paraná seguem o exemplo

Em Minas Gerais, o pacote inclui R$ 100 milhões em monetização de créditos de ICMS e R$ 200 milhões em crédito com juros reduzidos pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), com prazo de até 60 meses e carência de 12 meses.

No Paraná, o governo autorizou a liberação de créditos de ICMS para uso como aval ou venda no mercado e prevê até R$ 400 milhões em financiamentos. As linhas serão operadas pela Fomento Paraná e BRDE, com possível aporte no Fundo de Desenvolvimento Econômico. Além disso, o estado suspendeu exigências de contrapartidas para empresas que receberam incentivos fiscais.

Rio Grande do Sul lança linha com juros subsidiados

Já o Rio Grande do Sul criou uma linha de R$ 100 milhões com juros subsidiados (entre 8% e 9% ao ano) via BRDE, com recursos do Fundo Impulsiona Sul. A carência será de 12 meses e o prazo total de 60 meses. Segundo o governo, o foco é dar fôlego imediato para empresas em setores com alta exposição, como metalurgia, madeira e máquinas.

Demais Estados também se preparam

Outros Estados também estão estudando medidas para minimizar os impactos. No Ceará, onde os EUA representam mais da metade das exportações estaduais, o governo discute internamente a liberação de créditos de ICMS e pressiona por compensações da União previstas na Lei Kandir. O governador Elmano de Freitas se reuniu com o vice-presidente Geraldo Alckmin e pediu apoio emergencial ao setor do pescado, castanha e cera de carnaúba.

O Espírito Santo ainda não anunciou valores exatos, mas o vice-governador Ricardo Ferraço já iniciou reuniões com os setores mais atingidos, como café, rochas ornamentais e celulose. O foco, segundo ele, é garantir apoio emergencial e posterior redirecionamento de mercados.

Rio de Janeiro cria grupo de trabalho

No Rio de Janeiro, foi criado um grupo de trabalho para mapear os impactos da tarifa sobre setores como petróleo refinado, aço e semimanufaturados. O governador Cláudio Castro prometeu uma resposta técnica e coordenada após a conclusão dos diagnósticos.

No Pará, o governo coordena uma articulação com representantes da indústria, comércio, mineração e agricultura para avaliar os possíveis impactos do tarifaço sobre setores como alumínio, ferro e madeira. De acordo com a gestão, embora os EUA representem apenas 3,6% das exportações paraenses, o governo local adota uma postura preventiva e técnica, monitorando também os efeitos sobre importações.

Amazônia e Nordeste também se mobilizam

No Amazonas, técnicos do governo avaliam que o impacto sobre a Zona Franca de Manaus será mínimo: apenas 0,15% do faturamento do polo industrial estaria sujeito às novas tarifas. Apesar disso, o estado mantém monitoramento constante, principalmente sobre eventuais efeitos indiretos, como encarecimento de insumos importados.

Em Sergipe, o governo estadual criou um grupo de trabalho para avaliar os impactos do tarifaço sobre os setores econômicos locais. O objetivo é levantar dados detalhados, mapear os efeitos práticos em cada segmento e articular, junto ao Governo Federal, medidas de apoio aos mais afetados.

Pressão por plano federal aumenta

Representantes estaduais e da indústria querem que o governo federal assuma a coordenação da resposta brasileira. Durante reunião do Fórum dos Governadores com o vice-presidente Alckmin, os governadores propuseram a criação de uma comissão para acompanhar negociações e impactos.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por sua vez, entregou um plano com oito propostas emergenciais, como linha de crédito do BNDES com juros entre 1% e 4% ao ano, postergação de tributos federais e reativação do Programa Seguro-Emprego.

Questionado sobre o risco de demissões em massa e sobre a entrega do plano, Alckmin afirmou que o documento está pronto, mas que precisa passar pelo aval do presidente Lula. “Foco para preservar empregos e produção. Ninguém vai ficar desamparado”, explicou o vice-presidente em entrevista a Ana Maria Braga nesta quinta-feira (31).

Governo federal recalibra plano

Mesmo sem anunciar ações concretas, o governo federal afirma que um plano de contingência está em elaboração desde a semana passada. Segundo o vice-presidente Alckmin, o pacote está “bastante completo”, mas depende da evolução das negociações com os EUA.

Nesta quinta-feira, Alckmin afirmou em entrevista ao Mais Você, de Ana Maria Braga, que 36% das exportações serão afetadas pelo tarifaço e que as negociações com os EUA não terminaram.

Com a publicação da lista de exceções, o plano federal deverá ser recalibrado. Segundo informações do blog do Gerson Camarotti, o pacote deverá priorizar setores que não conseguiram escapar da tarifa e condicionar o apoio à manutenção de empregos.

Enquanto isso, os Estados seguem na dianteira, tentando minimizar os impactos de uma medida que, mesmo com exceções, pode afetar profundamente a economia brasileira em um momento delicado das relações diplomáticas entre os dois países.

A Secretaria do Tesouro dos Estados Unidos entrou em contato com o Ministério da Fazenda brasileira nesta quarta-feira (30) para agendar uma reunião e discutir o tarifaço de 50% imposto pelo governo de Donald Trump sobre produtos brasileiros. Ainda não há data definida para o encontro, mas o ministro Fernando Haddad confirmou que as negociações serão retomadas em breve.

“A assessoria do secretário Bessent fez contato conosco ontem e, finalmente, vai agendar uma segunda conversa. A primeira, como eu havia adiantado, foi em maio, na Califórnia. Haverá agora uma rodada de negociações e vamos levar às autoridades americanas nosso ponto de vista”, declarou Haddad nesta quinta-feira (31).

O último encontro entre as equipes ocorreu em maio, antes do anúncio das tarifas adicionais. O secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, havia se encontrado com Haddad durante uma viagem à Califórnia, quando as tensões comerciais ainda não haviam escalado.

Negociações em ponto de partida

O ministro destacou que, embora o Brasil esteja em uma posição mais favorável do que o esperado após a divulgação da lista de exceções, ainda há um longo caminho pela frente nas negociações.

“Nós estamos em um ponto de partida mais favorável do que se imaginava. Mas longe do ponto de chegada. Há muita injustiça nas medidas que foram anunciadas ontem”, ressaltou Haddad.

Cerca de 700 produtos foram incluídos na lista de isenções, o que significa que aproximadamente 43% do valor total das exportações brasileiras para os EUA ficaram de fora do tarifaço. No setor mineral, cerca de 25% dos produtos foram afetados pela medida.

Plano de contingência será divulgado nos próximos dias

Apesar das exceções, Haddad reconheceu que o impacto das tarifas é “dramático” para alguns setores da economia brasileira. O ministro adiantou que nos próximos dias o governo vai divulgar medidas específicas para auxiliar as empresas mais prejudicadas.

“Há casos que são dramáticos, que deveriam ser considerados imediatamente. Nós vamos lançar parte do nosso plano previsto para ser lançado nos próximos dias de apoio e proteção à indústria e aos empregos”, afirmou.

O pacote de ajuda deve incluir linhas de crédito e outras medidas de apoio às empresas afetadas. Haddad explicou que, mesmo aliviado com os setores que foram poupados, é fundamental proteger aqueles que continuam vulneráveis, especialmente os menores e mais frágeis.

“Tem setores que, na pauta de exportação, não são significativos, mas o efeito sobre eles é muito grande. Às vezes, o setor é pequeno, mas é importante para o Brasil manter os empregos”, pontuou o ministro.

Mesmo setores grandes, que lidam com commodities e possuem diversos mercados consumidores, precisarão de tempo para se adaptar às mudanças, avaliou Haddad. “Obviamente, tem setores afetados cuja solução de curto prazo é mais fácil porque se trata de uma commodity que o Brasil tem muitos mercados abertos, mas, ainda esses, vão exigir algum tempo de adaptação. Você não muda um contrato de uma hora para outra. Temos que analisar caso a caso e vamos ter as linhas [de crédito] para isso”, explicou.

Questão judicial não será negociada

Haddad reafirmou que a tentativa de interferência no julgamento de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal não pode ser tema de negociação, destacando que o Judiciário é um poder independente do Executivo.

“Talvez o Brasil seja uma das democracias mais amplas do mundo, ao contrário do que a Ordem Executiva [do Trump] faz crer. Nós temos que explicar que a perseguição ao ministro da Suprema Corte [Alexandre de Moraes] não é o caminho de aproximação entre os dois países”, afirmou o ministro.

A declaração reforça a posição do governo brasileiro de manter a defesa da soberania judicial diante das pressões externas, mesmo em meio às tensões comerciais com um dos principais parceiros econômicos do país.

Com a reabertura das negociações, o Brasil busca equilibrar a defesa de seus interesses econômicos com a manutenção de uma relação diplomática que, segundo especialistas, atravessa um dos momentos mais delicados de sua história recente.

Com informações de g1 e Agência Brasil*

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