》Guerra do petróleo chega às bombas indianas – Expresso Noticias
Vamos ao assunto:
Refinarias indianas buscam saídas urgentes após ameaça dos EUA de sobretaxa e bloqueio europeu ao diesel derivado de petróleo russo
As refinarias de petróleo da Índia estão sendo forçadas a repensar suas estratégias de abastecimento diante de uma ofensiva sem precedentes por parte dos Estados Unidos e da União Europeia contra os fluxos energéticos russos. O movimento coloca Nova Déli em uma posição delicada, obrigando suas maiores empresas do setor a buscar alternativas em um mercado cada vez mais competitivo e geopoliticamente instável.
A Índia, que se tornou uma das principais compradoras de petróleo russo nos últimos anos, agora se vê diante de uma postura significativamente mais rígida tanto de Washington quanto de Bruxelas. O presidente norte-americano, Donald Trump, intensificou a pressão ao criticar publicamente as aquisições de energia e armamentos russos pelo país asiático, anunciando que os EUA aplicariam uma tarifa de importação de 25% sobre produtos indianos a partir desta sexta-feira.
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A ameaça comercial chegou em um momento em que as refinarias estatais indianas já começavam a sentir os efeitos das restrições europeias. A União Europeia já havia sinalizado sua intenção de proibir a importação de diesel produzido na Índia a partir de petróleo bruto russo — uma medida que promete impactar diretamente a lucratividade das companhias indianas no mercado europeu.
Diante desse cenário, empresas como a Indian Oil Corp., maior processadora de petróleo do país, têm acelerado seus esforços para diversificar as fontes de abastecimento. Na quinta-feira passada, a companhia lançou uma proposta de compra com prazo de entrega excepcionalmente curto, visando petróleo com chegada prevista para o final de setembro e início de outubro. A iniciativa representa uma mudança significativa em relação aos padrões tradicionais, onde esse tipo de oferta normalmente teria previsão de entrega para meados ou final de outubro.
A Bharat Petroleum Corp. também entrou no movimento de busca por alternativas, adquirindo diferentes variedades de petróleo bruto do Oriente Médio e da África Ocidental para entrega no mesmo período. A corrida por fornecedores alternativos ilustra a urgência com que as empresas indianas estão tentando se adaptar ao novo ambiente geopolítico.
O desafio é particularmente complexo considerando a dependência histórica da Índia em relação ao petróleo russo. De acordo com dados compilados pela Bloomberg, o país importou cerca de 1,63 milhão de barris por dia de crude russo no ano passado — mais de um terço do total de suas aquisições energéticas. Esses volumes se mantiveram estáveis até o momento neste ano, mas a pressão internacional começa a exigir mudanças estruturais.
Além das restrições políticas, as refinarias indianas enfrentam outros desafios operacionais. A disponibilidade reduzida de petróleo russo, combinada com a escalada dos preços internacionais, tem colocado pressão adicional sobre as margens de lucro das companhias. A situação é agravada pela necessidade de adaptação dos processos industriais, já que diferentes tipos de petróleo requerem ajustes técnicos nas refinarias.
As empresas do setor estão atualmente buscando orientações do governo indiano sobre como suas operações serão afetadas pelas novas medidas internacionais. A coordenação entre Nova Déli e as companhias estatais será crucial para definir a estratégia energética do país nos próximos meses.
A situação também reflete a crescente instrumentalização da energia como ferramenta de política externa. Enquanto os EUA e a UE buscam isolar economicamente a Rússia, países como a Índia precisam equilibrar suas necessidades energéticas com as pressões diplomáticas de parceiros estratégicos.
Para especialistas, o episódio demonstra como as cadeias globais de suprimento estão cada vez mais vulneráveis às tensões geopolíticas. A Índia, tradicionalmente neutra em conflitos internacionais, agora precisa navegar cuidadosamente entre manter seu acesso a energia barata e preservar suas relações comerciais com potências ocidentais.
Diante desse cenário, as próximas semanas serão decisivas para entender como o setor energético indiano conseguirá se adaptar às novas realidades geopolíticas — e se conseguirá manter sua competitividade em um ambiente internacional cada vez mais polarizado.
Trump impõe tarifa de 25% à Índia e ameaça novas medidas por compras russas
O presidente norte-americano Donald Trump anunciou nesta quarta-feira (30) a imposição de uma tarifa de 25% sobre as exportações indianas para os Estados Unidos, a partir desta sexta-feira. A medida marca mais uma escalada nas tensões comerciais entre os dois países e coloca em xeque os esforços recentes de Nova Déli para negociar um acordo comercial bilateral.
Em pronunciamento nas redes sociais, Trump justificou a decisão apontando as altas tarifas praticadas pela Índia — que classificou como “entre as mais elevadas do mundo” — e as barreiras não monetárias ao comércio. O presidente também criticou veementemente as compras indianas de energia e armamentos russos em um momento em que a comunidade internacional busca pressionar Moscou para interromper a guerra na Ucrânia.
“Além disso, eles sempre compraram a grande maioria de seus equipamentos militares da Rússia, e são o maior comprador de ENERGIA da Rússia, junto com a China, em um momento em que todos querem que a Rússia PARE COM OS ATAQUES NA UCRÂNIA”, escreveu Trump. “A ÍNDIA TERÁ, PORTANTO, QUE PAGAR UMA TARIFA DE 25%, MAIS UMA MULTA PELO EXPOSTO ACIMA, A PARTIR DE 1º DE AGOSTO.”
Em coletiva posterior na Casa Branca, o presidente norte-americano indicou que as negociações com a Índia ainda estavam em andamento. “Vamos ver o que acontece”, disse. “Não importa muito se chegamos a um acordo ou se cobramos uma determinada tarifa deles, mas vocês saberão ao final desta semana.”
A decisão de Trump chega em um momento delicado para as relações entre os dois países. A Índia havia sido uma das primeiras nações asiáticas a iniciar conversas comerciais com Washington, especialmente após a visita de alto perfil do primeiro-ministro Narendra Modi à Casa Branca em fevereiro. As partes já haviam definido termos para um acordo bilateral durante reunião entre o vice-presidente JD Vance e Modi em abril, com compromisso de concluir o entendimento até o final deste ano.
O governo indiano respondeu ao anúncio afirmando que permanece comprometido com um acordo “justo, equilibrado e mutuamente benéfico”. Em comunicado, as autoridades destacaram a necessidade de proteger agricultores, empreendedores e pequenas empresas, reafirmando que “o governo tomará todas as medidas necessárias para proteger nosso interesse nacional”, como fez em outros acordos recentes, incluindo o tratado de livre comércio com o Reino Unido.
A reação nos mercados foi imediata. O rúpia indiano despencou e os futuros da bolsa de valores registraram queda após o anúncio. Os futuros do índice Nifty 50, negociados na Gujarat International Finance Tec-City, apagaram ganhos anteriores e recuaram até 0,5%, enquanto a moeda local caiu 0,8% frente ao dólar no mercado internacional, atingindo sua menor cotação em cinco meses no pregão interno.
“Embora as negociações comerciais pareçam ter se rompido entre as duas nações, levando aos EUA a penalizar a Índia, acreditamos que a saga comercial e a barganha pelo acordo não estão necessariamente terminadas”, avaliou Madhavi Arora, economista da Emkay Global Financial Services Ltd. “Há também um ângulo geopolítico global nessas negociações que vai além do aspecto puramente econômico.”
A postura de Trump representa uma mudança significativa em relação aos primeiros meses do ano, quando o governo Modi adotou uma abordagem conciliatória, revendo sua estrutura tarifária e oferecendo concessões comerciais e migratórias aos Estados Unidos. Assessores do presidente norte-americano haviam sinalizado repetidamente que um acordo com a Índia estava próximo.
No entanto, o tom das negociações parece ter se tornado mais rígido nas últimas semanas, com Nova Déli adotando posições mais firmes diante de impasses em questões sensíveis como agricultura. Trump também voltou a ameaçar sanções secundárias contra países que continuam comprando petróleo russo — uma advertência que pode afetar diretamente a China e a Índia.
Washington e seus aliados veem essas aquisições energéticas como uma forma de apoio tácito a Moscou, ajudando a sustentar a economia russa e enfraquecer o impacto das sanções internacionais. A decisão americana pode agravar ainda mais as já tensas relações entre os EUA e a Índia, especialmente considerando que Trump tem repetidamente alegado ter usado o comércio como instrumento para mediar o conflito armado de quatro dias entre Índia e Paquistão em maio — afirmação veementemente negada por Modi e outros líderes indianos.
A medida também pode minar esforços de longo prazo dos Estados Unidos — incluindo iniciativas de administrações anteriores, inclusive a primeira gestão de Trump — de cultivar a Índia como um contrapeso estratégico à China na região asiática.
A principal oposição indiana não poupou críticas ao anúncio. O líder do Congresso, Jairam Ramesh, ironizou a aproximação entre Modi e Trump, sugerindo que as relações pessoais não se traduziram em benefícios comerciais concretos para a Índia.
A ameaça de tarifas adicionais chega um dia após Trump reduzir o prazo para que a Rússia alcance um cessar-fogo com a Ucrânia para dez dias, aumentando a possibilidade de que penalidades sobre compradores de petróleo russo entrem em vigor mais cedo do que o esperado.
A Índia mantém laços econômicos e militares tradicionais com a Rússia, evitando criticar publicamente o presidente Vladimir Putin pela invasão do vizinho ucraniano. Desde o início de 2022, a Índia tornou-se um dos maiores importadores de petróleo russo, adquirindo mais de um terço de suas compras totais de energia do país europeu, segundo dados da Kpler. Além disso, cerca de 36% do arsenal militar indiano vem da Rússia.
Essa dependência energética preocupa analistas, que apontam que uma mudança abrupta de fornecedores poderia impactar negativamente a conta corrente indiana e as expectativas inflacionárias, além de afetar o sentimento dos mercados locais. “Mudar para novos fornecedores pode ter um impacto negativo na conta corrente da Índia e nas expectativas de inflação, além de pesar sobre o sentimento em relação aos mercados locais”, explicou Brendan McKenna, economista de mercados emergentes e estrategista cambial do Wells Fargo & Co.
Os Estados Unidos são o principal parceiro comercial da Índia e seu maior mercado de exportações, com trocas bilaterais atingindo US$ 128 bilhões em 2024. Nova Déli já havia tentado, sem sucesso, negociar um acordo comercial limitado com Washington durante o primeiro mandato de Trump.
O presidente norte-americano tem rotulado a Índia como um “rei das tarifas” e criticado repetidamente as barreiras comerciais do país. De acordo com dados de 2023 da Organização Mundial do Comércio, a tarifa média simples da Índia era cinco vezes superior à dos EUA e a mais alta entre as principais economias globais.
“É uma situação muito assimétrica. Acho que temos esperança de que a Índia abra seus mercados para nós”, afirmou Kevin Hassett, conselheiro econômico da Casa Branca, em entrevista ao CNBC. Assim como acordos com a União Europeia e o Japão, os EUA buscam acesso aos mercados indianos para suas empresas e agricultores.
“E se conseguíssemos fazer isso na Índia, seria uma mudança absoluta no jogo para a economia global, porque é uma economia tão grande e em crescimento”, completou Hassett.
Entre os pontos de discórdia nas negociações está a exigência dos EUA de exportar culturas agrícolas geneticamente modificadas — algo que a Índia se recusa a fazer, alegando riscos para seus produtores rurais. Nova Déli, por sua vez, tem pressionado por isenções em tarifas setoriais, especialmente em relação às futuras medidas sobre produtos farmacêuticos.
A tarifa de 25% imposta aos produtos indianos é significativamente mais alta que as taxas negociadas por outros países asiáticos: 20% para o Vietnã, 19% para a Indonésia e 15% para o Japão. A diferença coloca a Índia em desvantagem competitiva no mercado norte-americano.
“Perspectivas de exportação da Índia e seu apelo para investimentos seriam prejudicados, ainda mais se isenções setoriais para smartphones e outros eletrônicos forem eliminadas e as tarifas básicas de cada país forem aplicadas”, alertou Alexandra Hermann, economista da Oxford Economics em Londres.
Com informações de Bloomberg*
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