》Imagens da fome em Gaza mudam o tom da Casa Branca – Expresso Noticias
Vamos ao assunto:
Trump pede a Netanyahu que garanta alimentação em Gaza diante de crise humanitária; A fala do presidente americano marca distanciamento de Israel e revela o impacto simbólico das imagens que circularam nas redes e na imprensa mundial
O presidente americano Donald Trump manifestou preocupação nesta segunda-feira (28) com a agravamento da situação humanitária em Gaza e fez um apelo direto ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu para que assegure o fornecimento de alimentos à população local. A declaração marca uma mudança aparente na postura do líder americano diante de imagens impactantes de crianças desnutridas que têm mobilizado a opinião internacional.
Em entrevista coletiva realizada na Escócia, Trump destacou que os Estados Unidos e outros países já estão enviando recursos financeiros e suprimentos alimentares para a faixa de Gaza, mas ressaltou a necessidade de uma melhor coordenação no local. “Eu quero que ele (Netanyahu) garanta que as pessoas recebam comida”, afirmou o presidente. “Eu quero ter certeza de que estão recebendo alimentos.”
As declarações de Trump parecem ser uma resposta direta às imagens divulgadas nos últimos dias, que mostram o agravamento da crise de fome na região. A postura do presidente americano contrasta com sua posição mais resignada expressa na semana passada, quando as negociações de cessar-fogo sofreram um revés. As observações desta segunda-feira também representam uma certa distância em relação a Netanyahu, apesar da aproximação recente entre os dois líderes após operações conjuntas contra o Irã.

Durante o evento, Trump foi questionado sobre declarações do próprio Netanyahu no domingo, quando o primeiro-ministro israelense afirmou: “Não há política de fome em Gaza e não há fome em Gaza.”
“Não sei”, respondeu Trump. “Mas baseado no que vejo na televisão, eu diria que não é exatamente assim, porque aquelas crianças parecem muito famintas.”
Presidente anuncia centros de distribuição de alimentos
Diante da crescente pressão internacional, o exército israelense iniciou no fim de semana operações de lançamento aéreo de ajuda humanitária, além de implementar pausas limitadas nos combates em três áreas densamente povoadas de Gaza por dez horas diárias para facilitar a distribuição de suprimentos.
Na sexta-feira, Trump havia demonstrado certo pessimismo sobre a situação em Gaza após os Estados Unidos e Israel retirarem suas equipes de negociação das conversas de cessar-fogo em Qatar. Na ocasião, o presidente americano afirmou que o Hamas provavelmente “seria caçado” e declarou sobre Israel: “Eles vão ter que lutar e vão ter que resolver isso.”
No entanto, Trump pareceu mais inclinado a tomar medidas concretas nesta segunda-feira, após relatos de mortes relacionadas à fome e a divulgação de imagens que mostram pessoas, especialmente crianças pequenas e bebês, enfrentando dificuldades para obter alimentos. Esses relatos geraram uma onda de indignação internacional.
Durante sua conversa com o primeiro-ministro britânico Keir Starmer no resort Trump Turnberry, Trump anunciou que os Estados Unidos “vai estabelecer centros de alimentos”, embora não tenha fornecido detalhes sobre a iniciativa. A Casa Branca não disponibilizou informações adicionais sobre esses centros de distribuição.
Pressão internacional aumenta
Enquanto Trump instava Netanyahu a intensificar os esforços de entrega de ajuda, o próprio líder americano enfrentava pedidos semelhantes da comunidade internacional. O presidente egípcio Abdel Fattah el-Sissi, em pronunciamento televisivo nesta segunda-feira, declarou que Trump “é quem pode parar a guerra, entregar a ajuda e acabar com esse sofrimento.”
“Por favor, faça todos os esforços para parar esta guerra e entregar a ajuda”, pediu el-Sissi, dirigindo-se diretamente ao presidente americano. “Acredito que é hora de acabar com esta guerra.”
Trump reconheceu que o Hamas tem se apropriado de alimentos e ajuda destinados à população de Gaza, mas quando questionado sobre a responsabilidade de Israel pelas restrições à entrada de suprimentos na região, admitiu: “Israel tem muita responsabilidade.”
Contudo, o presidente americano rapidamente acrescentou que Israel também enfrenta limitações em suas ações devido à necessidade de manter vivos os 20 reféns que permanecem em Gaza. Ao ser questionado sobre o que mais Israel poderia fazer, Trump respondeu: “Acho que Israel pode fazer muito.” No entanto, não ofereceu detalhes adicionais e mudou o assunto para o Irã.
“Temos que ajudar do ponto de vista humanitário antes de fazer qualquer outra coisa. Temos que alimentar as crianças.”
Reações internacionais e posicionamentos políticos
O primeiro-ministro britânico mostrou-se mais enfático que Trump ao caracterizar a situação em Gaza como “desesperadora”. “Acho que as pessoas na Grã-Bretanha estão revoltadas ao ver o que estão vendo em suas telas”, comentou Starmer.
O vice-presidente JD Vance ecoou as declarações de Trump durante um evento em Canton, Ohio, afirmando que os Estados Unidos estão preocupados com o problema humanitário em Gaza e mencionando “muitas crianças famintas”. “Israel precisa fazer mais para permitir que essa ajuda entre e também temos que travar guerra contra o Hamas para que essas pessoas parem de impedir que alimentos cheguem a esse território”, declarou.
Questão do Estado Palestino e posicionamentos diplomáticos
Starmer, que enfrenta pressão de seu Partido Trabalhista para reconhecer um Estado palestino – como a França fez na semana passada – afirmou que o Reino Unido apoia a soberania dos palestinos, mas dentro de um plano que contemple a solução de dois Estados.
Na semana anterior, Trump havia declarado que o reconhecimento francês de um Estado palestino “não tem peso”. Nesta segunda-feira, ao ser questionado sobre reconhecer um Estado palestino, Trump respondeu: “Não vou tomar uma posição.” Sobre Starmer, acrescentou: “Não me importo que ele tome uma posição.”
As declarações ocorreram enquanto a Assembleia Geral das Nações Unidas reunia nesta segunda-feira altos funcionários para promover a solução de dois Estados para o conflito israelo-palestino de décadas. Israel e os Estados Unidos estão boicotando a reunião de dois dias.
Crise humanitária em Gaza: fome generalizada leva dezenas de crianças e adultos à morte em julho
Uma onda de mortes relacionadas à fome varre a Faixa de Gaza, atingindo não apenas crianças, mas também adultos em um cenário que profissionais de saúde descrevem como desesperador. Nos últimos dias, o Hospital Amigos dos Pacientes, principal centro de emergência para desnutrição infantil no norte de Gaza, tem recebido centenas de casos diariamente, em meio a uma escassez crítica de suprimentos médicos e alimentos.
O drama se intensificou nas últimas semanas. Cinco crianças internadas no hospital morreram em sequência em um período de quatro dias, apesar dos esforços dos médicos. Tratamentos básicos para combater a desnutrição haviam se esgotado devido ao prolongado bloqueio israelense, deixando os profissionais de saúde impotentes diante da rápida deterioração dos pequenos pacientes.
“Não há palavras diante do desastre em que nos encontramos. Crianças estão morrendo diante do mundo… Não há fase mais feia e horrível do que esta”, declarou à Associated Press a dra. Rana Soboh, nutricionista que trabalha com a organização humanitária Medglobal, responsável pelo apoio ao hospital.
Essas mortes marcaram um ponto de virada sombrio: pela primeira vez, o centro registrou óbitos de crianças sem condições de saúde preexistentes, um sinal de que a crise atingiu um nível ainda mais alarmante. Os sintomas estão se agravando; as crianças chegam ao hospital extremamente fracas, muitas vezes incapazes até de chorar ou se mover. “Nos últimos meses, a maioria melhorava, apesar da escassez. Agora, os pacientes ficam mais tempo internados e não melhoram”, explicou Soboh.
Fome atinge também adultos
A crise não poupa os adultos. Especialistas alertam que a fome inicialmente atinge os mais vulneráveis — crianças e pessoas com problemas de saúde crônicos. Na quinta-feira, os corpos de um homem e uma mulher, ambos com sinais claros de desnutrição, foram encaminhados ao Hospital Shifa, na Cidade de Gaza. Um era diabético e o outro tinha problemas cardíacos. Segundo o diretor do hospital, Mohammed Abu Selmia, ambos apresentavam deficiências nutricionais graves, parada gástrica e anemia. “Essas doenças não matam se tiverem comida e remédios”, afirmou ele.
Dados oficiais confirmam o agravamento da situação. O Ministério da Saúde de Gaza informou que, nas últimas três semanas, pelo menos 48 pessoas morreram de causas relacionadas à desnutrição: 28 adultos e 20 crianças. Apenas em julho, a Organização das Nações Unidas (ONU) registrou pelo menos 13 mortes de crianças, com o número aumentando dia após dia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) relatou 21 mortes de crianças menores de cinco anos por desnutrição em 2025.
Falta de suprimentos e bloqueio agravam a situação
A escassez de alimentos e medicamentos em Gaza se intensificou após Israel impor um bloqueio quase total ao território por dois meses e meio, a partir de março, como medida de pressão contra o Hamas. Embora tenha havido um ligeiro relaxamento nas restrições no final de maio, permitindo a entrada de cerca de 4.500 caminhões com suprimentos desde então, especialistas afirmam que esse volume é insuficiente. A ONU estima que entre 500 e 600 caminhões por dia seriam necessários para atender à população.
Além disso, a distribuição da ajuda enfrenta sérios obstáculos. Multidões famintas e grupos armados frequentemente saqueiam os caminhões humanitários, dificultando a entrega dos recursos. A ONU nega que o Hamas desvie quantidades significativas de ajuda, argumentando que o problema central é a restrição imposta por Israel à entrada de suprimentos.
David Mencer, porta-voz do gabinete do primeiro-ministro israelense, negou nesta terça-feira que haja uma “fome criada por Israel” em Gaza, atribuindo a situação à ação do Hamas ao saquear caminhões de ajuda. No entanto, trabalhadores humanitários reforçam que os saques diminuem quando há fluxo adequado de alimentos.
Cenário de desespero cotidiano

Em meio a esse cenário, famílias relatam dificuldades extremas para alimentar seus entes queridos. No Campo de Refugiados de Shati, na Cidade de Gaza, a criança de dois anos Yazan Abu Ful mostra sinais claros de desnutrição. Seu corpo franzino e sua falta de energia são sinais visíveis da crise. A mãe de Yazan, Naima, grávida, preparou uma refeição escassa com duas berinjelas para dividir com outras oito pessoas da família: “Vejam vocês mesmos, não há comida”, disse o pai da criança, Mahmoud, ao médico.
A situação também afeta os próprios profissionais de saúde. Duas enfermeiras do Hospital Amigos dos Pacientes precisaram de soro intravenoso para conseguir continuar trabalhando, diante da própria exaustão e da falta de recursos. “Estamos exaustos. Estamos mortos na forma dos vivos”, confessou a dra. Soboh.
O médico norte-americano John Kahler, cofundador da Medglobal e que atuou como voluntário em Gaza, alerta que a população está atingindo seus limites fisiológicos. “Este é o início de uma espiral de morte populacional”, afirmou.
Diante da gravidade dos fatos, o Programa Mundial de Alimentos da ONU estima que quase 100.000 mulheres e crianças em Gaza necessitem urgentemente de tratamento para desnutrição. Com os estoques de medicamentos e alimentos especiais chegando ao fim, o risco de uma catástrofe humanitária de grandes proporções aumenta a cada dia.
Com informações de AP*
www.expressonoticias.website