》Lula declara que fim do dólar no comércio entre países do BRICS “não tem volta” e defende uso de moedas locais – Expresso Noticias
Vamos ao assunto:
Durante coletiva realizada nesta segunda-feira, 7, após a cúpula dos BRICS no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a substituição do dólar por moedas locais no comércio internacional entre os países do bloco é um processo irreversível. “É uma coisa que não tem volta”, declarou o presidente, segundo informações publicadas pelo jornal Valor Econômico.
Lula reiterou que a desdolarização ocorrerá de forma gradual e defendeu mudanças no funcionamento das instituições financeiras internacionais, incluindo o Fundo Monetário Internacional (FMI). De acordo com o presidente brasileiro, a hegemonia do dólar no sistema global é resultado de um modelo construído historicamente, que precisa ser revisto pelos países em desenvolvimento.
A declaração foi feita no encerramento do encontro de chefes de Estado do BRICS, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que se reuniu na capital fluminense para discutir diretrizes econômicas, financeiras e geopolíticas. A agenda da reunião incluiu temas como o fortalecimento do comércio entre os países-membros, reformas institucionais e a criação de mecanismos alternativos aos dominados por potências ocidentais.
Críticas ao sistema financeiro internacional
Durante sua fala, Lula criticou a distribuição desigual de poder dentro de organismos multilaterais. Ele apontou que, embora os países do BRICS representem cerca de metade do Produto Interno Bruto (PIB) global, o grupo possui apenas 18% do poder de voto no FMI.
“É uma incoerência que precisa ser enfrentada”, afirmou o presidente. Segundo ele, essa desproporção reforça a necessidade de se buscar alternativas à atual estrutura de governança econômica internacional, hoje centralizada nos países desenvolvidos.
Lula também mencionou a possibilidade de o bloco avançar no desenvolvimento de sistemas próprios de pagamento e na utilização de moedas nacionais como referência em transações comerciais. A proposta, segundo o presidente, já está em discussão entre os países-membros e deve ser aprofundada nos próximos encontros.
Apoio da Rússia à proposta brasileira
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participou da cúpula por videoconferência e apoiou a proposta brasileira. Em sua intervenção, Putin afirmou que a utilização de moedas locais no comércio entre os membros do BRICS pode representar um avanço estratégico para o grupo.
A fala do presidente russo reforça a articulação em curso no bloco para ampliar a autonomia financeira dos países emergentes, reduzindo a dependência do sistema internacional baseado no dólar e em mecanismos como o SWIFT, rede de transações bancárias controlada majoritariamente por países ocidentais.
Tensão com os Estados Unidos
A iniciativa do BRICS ocorre em meio a reações de países como os Estados Unidos. O ex-presidente norte-americano Donald Trump, possível candidato nas próximas eleições presidenciais, ameaçou impor uma tarifa de 10% sobre produtos de países que apoiarem formalmente as pautas do grupo.
Lula minimizou a declaração, afirmando que o tema “não teve relevância” nas discussões da cúpula. Segundo ele, o foco do encontro foi a ampliação da cooperação entre os países do BRICS e a criação de alternativas viáveis para o fortalecimento do comércio intra-bloco.
A possibilidade de adoção de tarifas comerciais por parte dos Estados Unidos não foi incluída no comunicado final da cúpula, e representantes dos demais países evitaram comentar o tema publicamente.
Expansão do BRICS e novos integrantes
Outro ponto abordado por Lula foi a disposição do grupo em ampliar sua composição. “O bloco está aberto à expansão”, disse o presidente. A inclusão de novos membros está em avaliação e deve considerar critérios econômicos, geográficos e estratégicos.
Desde o ano passado, países como Argentina, Irã, Arábia Saudita, Egito e Etiópia manifestaram interesse em ingressar no grupo. A eventual ampliação é vista por analistas como forma de reforçar a atuação conjunta dos países em desenvolvimento no cenário internacional.
Sistema alternativo ao SWIFT e próximos passos
O avanço do BRICS na construção de um sistema próprio de pagamentos internacionais é parte de um plano de médio e longo prazo. A ideia é criar mecanismos que permitam transações entre os países do grupo sem a necessidade de passar por instituições controladas por nações fora do bloco.
O sistema alternativo ao SWIFT está sendo discutido em paralelo à ampliação do uso das moedas nacionais nos acordos comerciais bilaterais. Países como China e Índia já implementaram experiências-piloto nesse sentido, com transações realizadas em yuan e rúpia.
Para especialistas, a consolidação de um modelo descentralizado de pagamentos dependerá de acordos técnicos e políticos, além de investimentos em infraestrutura financeira e digital. A proposta, no entanto, conta com apoio crescente entre os integrantes do BRICS.
Implicações no comércio global
A defesa explícita da desdolarização por parte de Lula marca um novo momento na atuação internacional do Brasil. Ao colocar o tema como prioridade na agenda do BRICS, o governo brasileiro sinaliza alinhamento com a estratégia dos países emergentes de buscar maior autonomia nas decisões econômicas e financeiras.
Embora a transição não deva ocorrer de forma imediata, a movimentação do bloco indica um cenário de mudanças na estrutura do comércio internacional. O papel do dólar como moeda predominante nas transações entre países poderá ser gradualmente substituído por acordos regionais com base em moedas locais.
A consolidação desse processo dependerá de fatores como estabilidade macroeconômica, segurança jurídica e acordos multilaterais que deem suporte à nova lógica de funcionamento do mercado global. A cúpula do Rio de Janeiro, segundo observadores, reforçou o compromisso do BRICS com esse objetivo.
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