》Nova análise alerta para mortes em massa por fome em Gaza – Expresso Noticias
Vamos ao assunto:
Apesar de promessas de ajuda e pausas humanitárias, a crise alimentar na Faixa de Gaza se agrava com crianças sofrendo e morrendo por falta de comida
Em um dos piores momentos enfrentados pela população palestina da Faixa de Gaza, especialistas em segurança alimentar alertam que o “cenário mais pessimista de fome” está se tornando realidade no território. Segundo o Integrated Food Security Phase Classification (IPC), principal autoridade internacional sobre crises alimentares, a situação atingiu um nível alarmante e mortal, com risco de mortes em grande escala caso não haja ações imediatas. O alerta foi divulgado nesta terça-feira (29), após uma onda de imagens impactantes de crianças desnutridas e relatos de centenas de óbitos associados à fome, todos ocorridos nos 21 meses de conflito entre Israel e Hamas.
Apesar das medidas anunciadas pelo governo israelense no fim de semana — como pausas humanitárias diárias em partes do território e a realização de airdrops —, tanto a ONU quanto organizações locais afirmam que pouco mudou no chão. As entregas de ajuda continuam sendo saqueadas antes mesmo de chegar ao destino, e a população segue em constante luta para sobreviver.
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“Estamos diante do que pode ser classificado como fome”, afirma Alex de Waal, diretor-executivo do World Peace Foundation e autor do livro Mass Starvation: The History and Future of Famine, em entrevista à Associated Press. Ele compara a situação a um diagnóstico médico: “Assim como um médico familiar pode diagnosticar um paciente com base em sintomas visíveis sem precisar enviar amostras para análise laboratoriais, também podemos interpretar os sinais da fome em Gaza.”
A IPC, entidade responsável por monitorar e classificar níveis de insegurança alimentar globalmente, destaca que Gaza já estava à beira da fome há dois anos, mas recentes agravamentos — incluindo bloqueios cada vez mais rigorosos impostos por Israel — transformaram a crise em algo ainda mais grave. A falta de acesso ao território e a mobilidade restringida dificultam a coleta de dados necessários para uma declaração formal de fome, algo extremamente raro e usado apenas em situações excepcionais, como as ocorridas em Somália em 2011, Sudão do Sul em 2017 e 2020, e partes do Darfur, na Líbia, no ano passado.
Apesar disso, os números disponíveis até o dia 25 de julho são claros: o consumo de alimentos na maioria da Faixa de Gaza atingiu seu menor nível desde o início do conflito. Na cidade de Gaza, quase 17% das crianças menores de cinco anos sofrem de desnutrição aguda. Além disso, a taxa de mortalidade infantil está subindo rapidamente, com hospitais relatando casos crescentes de mortes ligadas à fome.
Segundo o Programa Mundial de Alimentos (WFP), um em cada três habitantes da Faixa de Gaza vive sem comida por dias inteiros. Mais de 2 milhões de pessoas estão confinadas em áreas cada vez menores, muitas delas dependentes de ajuda externa. Serviços essenciais, como saúde e abastecimento de água, colapsaram, deixando a população sem suporte básico.
O alerta mais recente da IPC, publicado em maio, já advertia que Gaza corria sério risco de cair em fome caso o bloqueio israelense fosse mantido e a campanha militar continuasse. Agora, a nova avaliação pede ações imediatas e em larga escala, ressaltando que “o fracasso em agir agora resultará em mortes generalizadas na maior parte da faixa”.
Restrições à ajuda complicam resposta humanitária
Desde o início do conflito, Israel impôs restrições variadas ao fluxo de bens essenciais, como alimentos, combustível e medicamentos. Em março, o país interrompeu totalmente a entrada desses itens, visando pressionar o grupo Hamas a libertar reféns. Embora tenha flexibilizado as restrições em maio, o sistema de entrega de ajuda apoiado pelos Estados Unidos tem sido marcado por caos e violência.
Organizações humanitárias lideradas pela ONU denunciam que as entregas são constantemente prejudicadas por limitações militares israelenses e episódios de saques. Enquanto isso, criminosos e multidões famintas invadem os caminhões logo após sua chegada, dificultando qualquer distribuição organizada.
Embora o exército israelense afirme que não há limite para o número de veículos de ajuda que podem entrar em Gaza, representantes da ONU e grupos de assistência dizem que as medidas adotadas são insuficientes para conter o avanço da fome. Médicos Sem Fronteiras criticou recentemente os airdrops como “ineficientes e perigosos”, destacando que eles entregam menos ajuda do que os caminhões.
A posição de Israel e a voz do mundo
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, nega a existência de uma crise de fome em Gaza, afirmando que o país forneceu ajuda suficiente durante todo o conflito. “Se não tivéssemos feito isso, não haveria mais ninguém em Gaza”, disse ele. Já o exército israelense chamou as acusações de “desinformação deliberada”.
No entanto, uma mudança surpreendente parece estar ocorrendo. Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, recentemente comentou sobre as imagens de crianças famintas em Gaza, dizendo: “Essas crianças parecem muito famintas.” Sua observação, embora breve, pode sinalizar uma mudança de tom ou uma influência crescente nas discussões sobre a crise humanitária.
Enquanto o mundo assiste ao agravamento da situação, a comunidade internacional repete a mesma pergunta: quando será feita uma ação efetiva para salvar vidas? Para a maioria dos especialistas, o tempo é curto e a fome está batendo à porta.
Em Gaza, há cada vez mais evidências de fome e inanição generalizada
Uma menina gravemente desnutrida em Gaza. Equipes humanitárias têm apelado repetidamente a Israel para que permita a entrada de muito mais ajuda no enclave para evitar uma catástrofe humanitária sem precedentes.
“O pior cenário de fome está atualmente acontecendo em Gaza”, disseram especialistas em segurança alimentar apoiados pela ONU nesta terça-feira (29), em um apelo à ação urgente diante do conflito prolongado, do deslocamento massivo e do colapso quase total dos serviços essenciais no território devastado.
De acordo com a plataforma Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), dois dos três critérios técnicos necessários para classificar uma situação como fome já foram atingidos em Gaza: queda drástica no consumo de alimentos e aumento alarmante da desnutrição aguda.
Há sinais crescentes de que “fome generalizada, desnutrição severa e doenças” estão provocando um aumento nas mortes por causas relacionadas à fome, o terceiro indicador que completa a definição técnica de fome segundo o IPC.
“É claramente um desastre se desenrolando diante dos nossos olhos, diante das nossas telas de televisão”, disse Ross Smith, Diretor de Emergências do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU. “Isso não é um alerta, é um chamado à ação. Isso é diferente de tudo que já vimos neste século”, afirmou ele durante entrevista coletiva em Genebra.
Sem comida – por dias
A realidade em Gaza é brutal: uma em cada três pessoas passa dias inteiros sem comer, segundo relatório do IPC. Hospitais, sobrecarregados e mal equipados, trataram mais de 20.000 crianças com desnutrição aguda desde abril. Pelo menos 16 crianças menores de cinco anos morreram de causas relacionadas à fome desde meados de julho.
O alerta surge após uma análise divulgada pelo IPC em maio de 2025, que projetou níveis catastróficos de insegurança alimentar para toda a população até setembro. Segundo os especialistas, espera-se que cerca de meio milhão de pessoas estejam na Fase 5 do IPC – “catástrofe”, caracterizada por fome generalizada, miséria extrema e mortalidade elevada.
A crise foi desencadeada por quase dois anos de conflito iniciado pelos ataques terroristas liderados pelo Hamas em outubro de 2023, que deixaram aproximadamente 1.250 mortos e cerca de 450 reféns israelenses.
Os combates intensos já resultaram na morte de mais de 59.500 pessoas, segundo dados oficiais palestinos, e destruíram 70% da infraestrutura local. A avaliação do IPC também confirmou que o deslocamento é generalizado, com as áreas consideradas seguras reduzidas a menos de 12% do território.
Cessar-fogo agora
Gaza abriga cerca de 2,1 milhões de pessoas, das quais 90% foram deslocadas, muitas vezes várias vezes. Mais de 762.500 novos deslocamentos foram registrados desde o fim do cessar-fogo em 18 de março.
Enquanto isso, o acesso humanitário permanece severamente limitado, com comboios de ajuda frequentemente bloqueados ou saqueados. No domingo, Israel anunciou que iniciaria pausas humanitárias diárias em partes de Gaza. Mais de 100 caminhões de ajuda entraram no enclave, mas as organizações internacionais insistem que essa medida é insuficiente para conter o avanço da fome.
Na linha do que pedem as agências da ONU, o IPC também exige um cessar-fogo imediato e incondicional, acesso irrestrito à assistência humanitária e o restabelecimento dos serviços essenciais, como saúde, água, saneamento e comunicação. “Sem intervenção urgente, a morte generalizada será inevitável”, alerta o relatório.
Além disso, os especialistas solicitam a proteção de civis, pessoal humanitário e infraestrutura crítica, incluindo hospitais, estações de água, estradas e redes de telecomunicação.
Pontos-chave da crise
- Fome confirmada: Quando todos os três limiares são ultrapassados: queda no consumo de alimentos, desnutrição aguda e aumento de mortes relacionadas à fome.
- Dados difíceis de coletar: Devido ao colapso dos sistemas de saúde, é difícil obter informações robustas sobre desnutrição e mortalidade.
- Crianças em risco: Mais de 20.000 tratadas por desnutrição aguda; 16 óbitos confirmados.
- Colapso da infraestrutura: 70% da infraestrutura de Gaza destruída.
- Crise de deslocamento: Zonas seguras representam menos de 12% do território.
Relatórios mostram impacto humano contínuo

Relatórios recentes revelaram que mais de 60.000 habitantes de Gaza foram mortos desde o início da guerra, em outubro de 2023. Mulheres e meninas estão entre os grupos mais vulneráveis, enfrentando escolhas impossíveis: morrer de fome em seus abrigos ou arriscar suas vidas em busca de comida e água.
“Em Gaza, mulheres e meninas estão enfrentando a escolha impossível de morrer de fome em seus abrigos ou se aventurar em busca de comida e água, correndo risco extremo de serem mortas”, disse Sofia Calltorp, diretora da ONU Mulheres em Genebra.
Ela reiterou o apelo da ONU Mulheres por acesso irrestrito à assistência humanitária, liberdade para todos os reféns e um cessar-fogo imediato. Além disso, destacou a importância da Conferência Internacional de alto nível para a Solução Pacífica da Questão Palestina, promovida pela França e pela Arábia Saudita, como possível ponto de virada para a construção de um futuro baseado no direito à paz e à coexistência entre israelenses e palestinos.
Desafios na entrega de ajuda
Questionado sobre a eficácia dos airdrops recém-iniciados por Israel, Ross Smith, do PMA, os descreveu como “um último recurso quando não há outras opções de logística ou transporte”. Ele ressaltou que as operações aéreas são “muito caras e ineficientes”, além de trazer “riscos extremos” para a população, que vive em condições de superlotação.
No domingo, ao menos 11 pessoas ficaram feridas durante um lançamento aéreo de suprimentos em Gaza. Apesar disso, as agências da ONU continuam a defender a necessidade de acesso completo ao território para atender às populações vulneráveis.
“Acolhemos com satisfação as pausas humanitárias anunciadas e gostaríamos de ver todo o seu espírito implementado, inclusive nos pontos de distribuição, para que possamos agir de forma rápida e eficaz”, disse Smith.
“Enquanto as autorizações e atrasos persistirem, e enquanto a interação com as forças armadas e civis em terra continuar sendo problemática, não veremos mudanças suficientes para reverter a situação humanitária dentro de Gaza.”
Com informações de AP e ONU*
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