》Nvidia despenca sob o peso do confronto com a China – Expresso Noticias
Vamos ao assunto:
O ícone da inovação americana agora simboliza os riscos geopolíticos, com perdas de bilhões, ações em queda e investigação no Congresso
Há seis meses, a fabricante de chips Nvidia personificava tudo o que os investidores admiravam na economia americana: lucros estratosféricos, inovação impressionante e um fundador carismático — Jensen Huang, conhecido por seus casacos de couro. Agora, porém, a empresa tornou-se involuntariamente um símbolo dos pesadelos desencadeados pelo presidente americano Donald Trump. Na última quarta-feira (16), a Nvidia alertou para um impacto de US$ 5,5 bilhões em seus lucros devido às novas restrições de exportação de seus chips para a China.
Huang rapidamente voou para a China na tentativa de salvar seus negócios. Mas o Congresso americano já abriu uma investigação. Como era de se esperar, as ações da Nvidia despencaram, assim como as de outras empresas de tecnologia, enquanto investidores digerem uma verdade incômoda: os problemas da Nvidia são apenas um sinal (altamente visível) de uma onda muito maior de disrupção tecnológica causada pela guerra comercial de Trump.
Três lições cruciais
1. A ilusão da economia digital sem fronteiras
Vivemos como se as plataformas digitais das quais dependemos existissem em uma esfera sem fronteiras. Na realidade, o ciberespaço depende de infraestrutura física — e das “cadeias de suprimentos mais complexas já vistas na história humana”, como explicou Chris Miller, professor da Tufts University, em uma conferência na Vanderbilt University.
Essas cadeias cruzam tantas fronteiras que “nenhum país é autossuficiente — nem perto disso”, destacou Miller. O Japão domina a produção de wafers (56% do mercado), os EUA controlam 96% do software de automação de design eletrônico, e Taiwan fabrica mais de 95% dos chips avançados. Enquanto isso, a China processa mais de 90% dos minerais e ímãs críticos para produtos digitais.
2. A falta de preparo da Casa Branca
A administração Trump parece subestimar as consequências de interromper essa cadeia complexa. Na semana passada, a China impôs controles de exportação de sete minerais críticos — uma resposta direta às tarifas de 145% de Trump.
O Japão, em 2010, reagiu a medidas semelhantes criando estoques estratégicos e reduzindo sua dependência da China de 90% para 58%. Já os EUA têm, no máximo, alguns meses de reservas — incluindo o Pentágono.
A Casa Branca agora busca alternativas (como mineração no fundo do mar ou na Ucrânia), mas o CSIS alerta que isso levará anos. Enquanto isso, os EUA ficarão “em desvantagem no futuro previsível”.
3. A China está melhor preparada
A Casa Branca subestimou o poder de retaliação da China. Enquanto o país age com “mentalidade de guerra” há anos, os EUA ainda operam em “modo paz” — pelo menos no setor privado.
Isso está mudando rapidamente, e os investidores devem se preparar para mais choques na cadeia de tecnologia. A Nvidia é apenas a ponta do iceberg de uma tempestade que pode se aproximar.
Conclusão: Um erro estratégico?
Alguns assessores de Trump, como Peter Navarro, defendem tarifas como parte de uma estratégia para reconstruir a indústria americana. Mas impô-las sem estoques ou planos concretos é um erro grosseiro — especialmente em um setor tão vital quanto o de semicondutores.
Trump, conhecido por seu pragmatismo, pode recuar. Mas, por enquanto, a lição é clara: em uma guerra comercial com a China, os EUA ainda estão jogando em desvantagem.
Com informações de Financial Times*
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