》Recuo do dólar e tarifaço de Trump ameaçam hegemonia da moeda como reserva global – Expresso Noticias
Vamos ao assunto:
A recente desvalorização do dólar frente ao euro e a intensificação das políticas tarifárias dos Estados Unidos têm gerado questionamentos sobre a estabilidade da moeda norte-americana como principal ativo de reserva internacional.
Segundo analistas do setor financeiro, as decisões adotadas pelo governo norte-americano sob a liderança do presidente Donald Trump estão sendo interpretadas como um sinal de enfraquecimento da confiança global na economia dos EUA.
Na última sexta-feira, 11, o dólar atingiu seu nível mais baixo em três anos em relação ao euro. A queda teve início após o anúncio de novas tarifas comerciais consideradas “recíprocas”, implementadas por Washington contra uma série de países.
A reação do mercado foi imediata, com movimentos de venda de ações, títulos do Tesouro norte-americano e da própria moeda, indicando uma potencial retração do interesse de investidores internacionais pelos ativos dos Estados Unidos.
Bob Michele, diretor de investimentos da JPMorgan Asset Management, gestora responsável por US$ 3,6 trilhões, avaliou que a credibilidade do dólar pode estar ameaçada. “Agora há um bom argumento para o fim do excepcionalismo do dólar americano”, afirmou.
Para ele, a estabilidade histórica da moeda foi construída com base em uma política econômica previsível, algo que estaria sendo alterado pelas recentes medidas protecionistas.
Na mesma linha, Bert Flossbach, cofundador da Flossbach von Storch, uma das maiores gestoras de ativos independentes da Alemanha, avaliou que a condução atual da política tarifária pelos EUA prejudica a posição do país no sistema financeiro internacional.
“A política tarifária caótica de Trump mina a posição dos Estados Unidos como um porto seguro”, declarou.
Além dos efeitos imediatos sobre o valor da moeda, especialistas apontam para impactos de longo prazo. O crescimento da incerteza política nos Estados Unidos, somado às declarações do presidente criticando o funcionamento do sistema judicial e a independência do Federal Reserve, tem alimentado discussões sobre o papel futuro do dólar na economia global.
Edward Fishman, autor do livro Chokepoints, que aborda estratégias econômicas dos Estados Unidos, levantou a hipótese de uma possível transição para um sistema financeiro internacional com múltiplas moedas relevantes.
Em sua avaliação, o atual contexto pode favorecer o fortalecimento de divisas como o euro, reduzindo a centralidade do dólar em operações internacionais.
A atual desvalorização do dólar contrasta com o comportamento típico da moeda em períodos de crise. Historicamente, momentos de instabilidade no sistema financeiro global costumam provocar uma migração de capitais para ativos denominados em dólares, como os títulos do Tesouro norte-americano.
No entanto, os desdobramentos mais recentes indicam uma dinâmica distinta, em que a percepção de risco sobre os próprios Estados Unidos estaria gerando fuga de recursos.
Mike Riddell, gestor de portfólio de renda fixa da Fidelity International, observou que o comportamento recente do mercado, incluindo a elevação acentuada nos rendimentos de títulos de longo prazo, remete a episódios anteriores de movimentação abrupta de capitais. Segundo ele, essa combinação de fatores sugere que investidores estão reavaliando sua exposição à economia norte-americana.
Apesar da preocupação demonstrada por vários agentes do mercado, há vozes dentro do próprio governo norte-americano que enxergam aspectos positivos em um dólar mais fraco.
Stephen Miran, presidente do Conselho de Assessores Econômicos do presidente Trump, já havia declarado anteriormente que o valor elevado da moeda prejudicava a competitividade dos produtos industriais do país.
De acordo com sua visão, o status do dólar como moeda de reserva global teria impulsionado artificialmente a taxa de câmbio, o que dificultaria as exportações norte-americanas.
A argumentação, no entanto, encontra resistência em parte da comunidade econômica. Críticos alertam que uma política voltada para a desvalorização da moeda pode gerar efeitos negativos na confiança internacional, além de elevar os custos de financiamento da dívida pública norte-americana e pressionar a inflação interna.
Michael Krautzberger, diretor global de renda fixa da Allianz Global Investors, também manifestou preocupação com a escalada de tensões no cenário comercial e suas possíveis implicações. “Quanto mais o conflito escala, as pessoas pensam, quais poderiam ser os próximos passos?”, questionou.
O debate em torno do papel do dólar no sistema financeiro internacional ocorre em um momento de intensificação de tensões geopolíticas e redefinição das estratégias econômicas globais.
Embora ainda mantenha sua posição dominante nas reservas cambiais dos bancos centrais e nas transações internacionais, a moeda norte-americana enfrenta desafios crescentes, com impactos potenciais sobre a estabilidade global e as políticas monetárias de diversos países.
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