》The Economist: BRICS avança e deixa o G7 para trás – Expresso Noticias
Vamos ao assunto:
O mundo não é mais unipolar: o BRICS se consolida como motor de uma ordem plural, menos dependente do dólar e das sanções ocidentais
Enquanto Washington insiste em falar ao mundo como se ainda fosse o único centro de poder, a realidade económica e geopolítica já tomou um rumo diferente. O que antes era uma hipótese distante — a ascensão de um bloco global capaz de desafiar a hegemonia ocidental — tornou-se fato consumado. O BRICS, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, não apenas cresceu: já superou o G7 em participação na produção econômica mundial. E essa mudança não é passageira — é estrutural, histórica e irreversível.
A constatação vem de ninguém menos que Richard Wolff, renomado economista norte-americano, cuja análise recente tem causado impacto nos círculos estratégicos globais. Em uma entrevista reveladora, Wolff afirmou que os países do BRICS juntos respondem por 35% da produção econômica global, enquanto o G7 — outrora símbolo do poder capitalista — caiu para apenas 28%. “O mundo mudou”, disse Wolff. “E quem não perceber isso está olhando para o espelho do passado.”
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Esse deslocamento de poder não é apenas numérico. É simbólico, político e estratégico. E no centro dessa transformação está a Índia, uma potência emergente com 1,4 bilhão de pessoas, cuja autonomia econômica e diplomática está desafiando diretamente a pretensão dos Estados Unidos de continuar ditando as regras do comércio global.
A recente escalada de tensão entre Washington e Nova Déli ilustra perfeitamente esse choque de ordens. Diante da recusa indiana em cortar compras de petróleo russo — uma decisão soberana, racional e economicamente defensável — os EUA reagiram com ameaças de tarifas e pressão política. Peter Navarro, assessor comercial de Donald Trump, chegou a chamar a guerra na Ucrânia de “a guerra de Modi”, acusando a Índia de financiar Moscou com suas compras de energia. Uma acusação tão absurda quanto desrespeitosa.
Mas, como bem observou Wolff, essa postura é “como um rato dando um soco em um elefante”. A metáfora é precisa: os EUA, com 4,5% da população mundial, tentam impor sua vontade a um país que representa quase um quinto da humanidade. E o mais irônico? Essas ameaças estão tendo o efeito oposto ao desejado. Ao isolar a Índia, os EUA estão, na prática, empurrando o país diretamente para os braços do BRICS.
“Se você bloquear o acesso dos Estados Unidos à Índia com tarifas elevadas, a Índia terá que encontrar outros lugares para vender suas exportações. O que você está fazendo é desenvolver o BRICS”, explicou Wolff. E ele tem razão. Cada gesto de arrogância de Washington fortalece a integração entre os países do bloco, acelera a desdolarização do comércio internacional e impulsiona a criação de mecanismos próprios de financiamento, câmbio e comércio.
Enquanto isso, os EUA afundam em suas próprias contradições. A dívida pública norte-americana beira os US$ 36 trilhões — um número que já ultrapassa o PIB do país. E o pior: o financiamento dessa dívida depende cada vez menos da confiança dos parceiros globais. Países como a China estão reduzindo agressivamente suas reservas em títulos do Tesouro dos EUA. Quando os credores começam a sair, o colapso financeiro não é uma possibilidade distante — é uma questão de tempo.
Wolff também desmonta o mito propagado pela direita norte-americana de que tarifas protecionistas trarão de volta indústrias e empregos. “Nenhuma empresa que fabrica no Brasil, na China ou na Índia vai gastar uma fortuna para mudar tudo de volta para os EUA”, afirmou. As tarifas não trazem produção — apenas isolam os EUA dos mercados globais, encarecem produtos para os consumidores americanos e aceleram a formação de blocos alternativos.
A verdade é que o mundo já não é unipolar. A ordem liderada pelos EUA após a Segunda Guerra chegou ao seu limite. O BRICS não é mais um fórum de conversa — é um bloco econômico com peso demográfico, territorial, energético e produtivo capaz de moldar o futuro. E ele não busca confronto, mas sim soberania: o direito de cada nação decidir com quem comercia, de que forma se desenvolve e como participa do sistema internacional.
A Índia, ao recusar-se a ser coagida, está exercendo esse direito. E o Brasil, a Rússia, a China e a África do Sul estão construindo juntos uma nova arquitetura global — mais justa, mais plural e menos dependente do dólar e das sanções ocidentais.
O que estamos testemunhando não é o declínio dos EUA, mas o fim de sua pretensão de exclusividade. O mundo multipolar já chegou. E os BRICS não são apenas parte dele — são, cada vez mais, seu motor. A alternativa não é resistir à maré da história, mas navegar com ela. Quem insistir em empurrar o oceano com as mãos, como um rato tentando parar um elefante, só demonstrará sua irrelevância.
O futuro pertence à cooperação entre os muitos — não ao comando de um só. E essa nova ordem já começou.
Com informações de The Economist*
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