》Trump planeja virar as costas ao G-20 na África – Expresso Noticias

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A possível ausência de Trump na reunião histórica do G-20 na África do Sul marca mais um gesto de afastamento dos EUA das potências emergentes


O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que está cogitando não comparecer pessoalmente à cúpula do G-20, que será sediada pela África do Sul ainda este ano. Em conversa com a imprensa a bordo do Air Force One, Trump revelou que pode enviar outro representante do governo americano ao encontro, justificando sua possível ausência por meio de críticas às políticas adotadas pelo país africano.

“Acho que talvez eu mande outra pessoa, porque tive muitos problemas com a África do Sul”, declarou o presidente, sem poupar críticas ao governo local. Segundo ele, o país tem adotado “políticas muito ruins”, embora não tenha detalhado especificamente quais medidas teriam gerado tanto descontentamento.

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A declaração de Trump coloca em xeque a participação dos Estados Unidos em um dos principais fóruns multilaterais do mundo. A cúpula do G-20 reúne os líderes das maiores economias globais, além de convidados especiais indicados pelo país sede. Este ano, a África do Sul assume o protagonismo ao sediar o evento pela primeira vez no continente africano — uma marca histórica para a região.

Trata-se também do quarto ano consecutivo em que a cúpula será realizada em um país classificado como parte do chamado “Sul Global”, termo utilizado para designar nações em desenvolvimento. Apesar da importância simbólica do evento, os Estados Unidos têm demonstrado pouco engajamento com a iniciativa sul-africana. O governo americano sequer enviou representantes de alto escalão às reuniões preparatórias realizadas nos últimos meses.

A tensão entre Washington e Joanesburgo não é novidade. Nos últimos anos, o relacionamento entre os dois países tem sido marcado por desencontros, especialmente em temas sensíveis como as políticas de terra e as ações afirmativas voltadas à população negra na África do Sul. Além disso, os Estados Unidos têm mantido uma postura crítica em relação ao BRICS — bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, do qual o país africano é membro fundador.

O afastamento dos EUA tem chamado atenção internacional, considerando que os americanos foram os criadores do G-20, em resposta à crise financeira global de 2008. O país ainda será o próximo anfitrião do grupo, com a presidência rotativa marcada para o final de novembro deste ano. A cúpula dos líderes, por sua vez, está prevista para acontecer em 2026.

Mesmo com a possibilidade de Trump não comparecer pessoalmente ao evento sul-africano, fontes do governo americano indicam que os Estados Unidos pretendem manter presença na reunião, ainda que por meio de uma representação de menor destaque. A decisão, no entanto, deve gerar repercussão política, especialmente em um momento em que cresce a pressão internacional para que os países desenvolvidos se engajem mais ativamente em fóruns multilaterais.

Ainda não há confirmação oficial sobre quem poderá representar os Estados Unidos na cúpula, caso Trump decida não ir pessoalmente. A expectativa é que o anúncio seja feito nas próximas semanas, à medida que a data do evento se aproxima.

A postura dos EUA diante do G-20 deste ano reforça o tom unilateral que tem marcado a diplomacia externa do governo Trump, que tem priorizado interesses nacionais em detrimento de compromissos globais. Ainda assim, especialistas apontam que a ausência de Washington em eventos como esse pode enfraquecer ainda mais o papel do país como líder global, num momento em que outras potências buscam espaço no cenário internacional.

G-20 tenta manter agenda em curso diante da guerra comercial de Trump

Enquanto ministros das finanças das maiores economias do mundo se reúnem em um resort paradisíaco nesta costa sul-africana, o país anfitrião do G-20 enfrenta o desafio de manter viva a agenda multilateral em meio a crescentes tensões comerciais lideradas pelos Estados Unidos.

A guerra comercial iniciada pelo presidente Donald Trump tem abalado os fundamentos da cooperação internacional, colocando em xeque temas centrais da pauta sul-africana, como alívio da dívida, finanças sustentáveis e reformas nas instituições financeiras de desenvolvimento. A situação se complica ainda mais pelo fato de que os Estados Unidos — a maior economia do mundo — não enviaram seus principais representantes aos eventos preparatórios realizados na África do Sul este ano.

Apesar disso, o ministro das finanças sul-africano, Enoch Godongwana, mantém a esperança de que os participantes consigam chegar a um denominador comum. “Minha esperança é que cheguemos a um acordo e apresentemos um comunicado amanhã”, disse Godongwana em entrevista à Bloomberg TV. “Tem sido um período difícil.”

A obtenção de um comunicado oficial representaria um avanço significativo para a presidência sul-africana. Nas duas reuniões financeiras anteriores realizadas no país, o resultado foi apenas um resumo das posições dos presidentes, sem o consenso necessário para um documento mais robusto.

Tensões comerciais abalam consenso

Ao cogitar não ir à cúpula do G-20, Trump amplia tensões com a África do Sul e sinaliza o recuo dos EUA em espaços globais liderados pelo Sul Global / AFP

A postura unilateral dos Estados Unidos tem testado a resistência do sistema multilateral que domina a política global desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Ao impor tarifas comerciais globalmente, Trump tem ignorado o lema do G-20 sul-africano — “solidariedade, igualdade e sustentabilidade” — e retirado bilhões de dólares em financiamento destinado ao combate às mudanças climáticas e à ajuda internacional.

“Essas diferenças que vemos em tarifas e comércio não ajudam nesses esforços, e são questões extremamente exigentes e difíceis”, comentou o ministro das finanças da Noruega, Jens Stoltenberg, também em entrevista à Bloomberg. “Muita energia e esforço estão sendo investidos nessas questões comerciais, e a capacidade de chegar a um consenso é limitada.”

Ausências marcantes em Durban

A turbulência política e comercial tem prejudicado a participação de altos funcionários no evento realizado em uma propriedade tropical nos arredores de Durban, terceira maior cidade da África do Sul. No local, os delegados podem contemplar o Oceano Índico e observar macacos-vervet escalando os telhados.

Além do secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, outras ausências notáveis incluem o ministro das finanças francês, Eric Lombard, e seus colegas argentino e australiano, Luis Caputo e Katy Gallagher. Vários outros chefes de finanças nacionais também optaram por não comparecer ao encontro.

Apesar das dificuldades, fontes de várias delegações indicaram que há consenso em torno de uma série de questões que serão abordadas na declaração final, incluindo tratamento da dívida soberana e desenvolvimento de infraestrutura.

“Apesar dos desafios em torno da situação tarifária, sinto que as pessoas hoje nas discussões sabem que há diferenças, mas há muito que podemos fazer juntos”, afirmou o ministro das finanças canadense, François-Philippe Champagne.

Pontos de discórdia e concessões

Godongwana identificou as finanças sustentáveis e os desequilíbrios do comércio global como os principais pontos de discórdia nas negociações. “Os EUA adotaram uma posição sobre as mudanças climáticas, o financiamento climático e todas essas questões e, portanto, trazer esse assunto para o debate no G-20 criou uma tarefa difícil para nós”, explicou.

Outra questão sensível diz respeito à referência a “desequilíbrios globais” no texto do comunicado. A delegação chinesa vê nessas menções uma crítica direta a Pequim, o que representa uma “questão importante” nas negociações, segundo Godongwana.

Apesar das divergências, há acordo substancial em diversas questões, segundo três pessoas familiarizadas com o pensamento do governo sul-africano. No entanto, os objetivos se baseiam nas reuniões do G-20 dos últimos anos, em vez de tentar inovar, já que ainda há muito a ser implementado a partir dos acordos anteriores.

Críticas e expectativas

Essa abordagem mais conservadora tem atraído críticas de ativistas e organizações da sociedade civil. “Precisamos ver o nível de ousadia aumentar substancialmente”, afirmou Jenny Ricks, secretária-geral da Aliança de Combate à Desigualdade. “Você não pode ser refém de um dos membros do G-20. Mesmo que, é claro, eles sejam o membro mais poderoso econômica e politicamente.”

Mesmo diante das críticas, Godongwana mantém-se otimista quanto ao resultado das negociações. Embora os EUA não tenham enviado seus principais representantes, aqueles que compareceram têm “um mandato claro” para falar em nome de seu governo, segundo ele.

“Estamos mais perto de fechar um acordo e alcançar um consenso que surgirá como um comunicado”, afirmou o ministro sul-africano. “Suspeito que um comunicado surgirá.”

A África do Sul assume a presidência rotativa do G-20 no final de novembro, com a cúpula dos líderes marcada para 2026. A capacidade do país de navegar pelas águas turbulentas do momento atual poderá definir o tom das discussões futuras do grupo.

Chefes de finanças do G-20 enfrentam impacto no crescimento causado pelas tarifas de Trump

Esta é a terceira reunião financeira do G-20 este ano. As duas anteriores não produziram um comunicado, com um resumo do presidente indicando que o grupo não conseguiu chegar a um consenso.Fotógrafo: Per-Anders Pettersson/Getty Images
Trump flerta com o isolamento em palco mundial / Per-Anders Pettersson/Getty Images

Os ministros das finanças e presidentes de bancos centrais do G-20 confrontam nesta quarta-feira os efeitos diretos das tarifas comerciais impostas pelo presidente americano, Donald Trump, em um momento crucial para a economia global. A reunião, realizada em um luxuoso resort às margens do Oceano Índico, próxima a Durban, ocorre em meio a crescentes preocupações sobre o impacto das barreiras comerciais na recuperação econômica mundial.

O ministro das finanças sul-africano, Enoch Godongwana, alertou os participantes sobre os ventos contrários que ameaçam a economia global, destacando a incerteza nos mercados, o aumento das barreiras comerciais e os persistentes desequilíbrios globais, agravados por novos riscos geopolíticos.

“Embora a inflação esteja diminuindo e as condições financeiras tenham começado a se estabilizar em algumas regiões, a incerteza continua pesando fortemente sobre as perspectivas de crescimento global”, afirmou Godongwana aos seus colegas durante o encontro de dois dias.

Ameaça às perspectivas econômicas

As declarações do ministro sul-africano ecoam as preocupações de economistas ao redor do mundo, diante das ameaças reais de uma nova onda de protecionismo liderada pelos Estados Unidos. Trump tem abalado os mercados financeiros com suas declarações sobre tarifas que entrarão em vigor em 1º de agosto, incluindo uma taxa de 30% sobre produtos sul-africanos — um golpe particularmente duro para o país que atualmente preside o G-20.

O presidente americano também tem feito acusações infundadas contra a África do Sul, alegando erroneamente que o país permite um genocídio contra fazendeiros afrikaners brancos. A situação tem gerado tensão diplomática e comercial entre os dois países.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) já demonstrou preocupação com o cenário atual, reduzindo em abril sua projeção de crescimento global para 2025 de 3,3%, previsto em janeiro, para 2,8%.

Inflação persistente preocupa bancos centrais

Separadamente, o governador do Banco da África do Sul, Lesetja Kganyago, também expressou preocupação com a trajetória da inflação em diferentes partes do mundo. Embora tenha reconhecido que os índices estejam diminuindo em alguns lugares, ele destacou que em outras regiões os níveis permanecem “mais altos do que o desejável e persistentes”.

“Para os bancos centrais do G-20, o grande desafio será navegar o que essa incerteza significa tanto para seus mandatos de preços quanto para estabilidade”, afirmou Kganyago.

Dificuldades para alcançar consenso

Esta é a terceira reunião de finanças do G-20 realizada neste ano. As duas anteriores não conseguiram produzir um comunicado oficial, resultando apenas em um resumo do presidente que indicava a impossibilidade de se chegar a um consenso entre os participantes.

A ausência de um documento comum tem preocupado especialistas, que veem na falta de alinhamento entre as maiores economias um sinal de fragilidade do sistema multilateral. Os Estados Unidos, que assumirão a presidência rotativa do G-20 em dezembro, têm se posicionado consistentemente contra formulações que incluam financiamento climático e a inclusão de instituições que têm sido o cerne da agenda sul-africana.

Chamado por cooperação renovada

Diante do cenário desafiador, Godongwana fez um apelo direto por maior cooperação entre as economias avançadas do grupo. “Temos um papel crítico a desempenhar na revitalização e fortalecimento do multilateralismo, promovendo diálogo inclusivo, reforçando a cooperação baseada em grupos e impulsionando a ação coletiva diante dos desafios globais”, declarou.

A reunião em Durban ocorre em um momento especialmente delicado, quando o mundo busca sinais de estabilidade econômica após anos de incertezas provocadas por guerras comerciais, pandemias e conflitos geopolíticos. A capacidade do G-20 de apresentar uma frente unida diante desses desafios poderá definir o rumo das políticas econômicas globais nos próximos meses.

Com informações de Bloomberg*

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