》Trump prepara plano tarifário para semicondutores e chips – Expresso Noticias
Vamos ao assunto:
Trump quer forçar a produção de chips nos EUA com novas tarifas, mesmo sob risco de encarecer produtos e abalar a cadeia global de tecnologia
Em mais um movimento de sua agenda econômica baseada em protecionismo, o presidente Donald Trump anunciou nesta terça-feira (5) que está prestes a lançar um novo plano tarifário, desta vez voltado diretamente para o setor de semicondutores e chips, uma peça-chave da economia moderna e da corrida global pela inteligência artificial. Segundo declarações dadas ao programa Squawk Box, da CNBC, o anúncio será feito “na próxima semana ou algo assim”, embora o presidente não tenha detalhado alíquotas, escopo ou cronograma de implementação.
“Faremos anúncios sobre semicondutores e chips, que são uma categoria separada, porque queremos que eles sejam feitos nos Estados Unidos”, afirmou Trump, reforçando o mesmo discurso que tem guiado suas políticas sobre farmacêuticos, aço e tecnologia: a produção estratégica precisa voltar ao território nacional.
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A declaração surge em um momento de crescente tensão geopolítica e dependência tecnológica. A maioria esmagadora dos semicondutores mais avançados do mundo é fabricada em Taiwan, especialmente pela TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company), fornecedora de gigantes como Apple, Nvidia, Qualcomm e AMD. A ilha, considerada um dos pontos mais sensíveis nas relações entre EUA e China, tornou-se peça central na estratégia de segurança nacional americana — e agora, aparentemente, no radar tarifário de Trump.
Embora os EUA tenham investido bilhões no CHIPS and Science Act para atrair fábricas de chips ao país — com a TSMC já construindo instalações no Arizona —, o presidente parece insatisfeito com o ritmo de repatriação da produção. A ameaça de tarifas pode ser vista como uma forma de acelerar esse processo, forçando empresas a priorizarem a fabricação local sob pena de altos impostos sobre importações.
O anúncio vem logo após Trump assinar um novo decreto que altera as tarifas sobre importações de diversos países, parte de uma política comercial mais ampla que ele tem chamado de “dia da libertação”. Curiosamente, os produtos de Taiwan passarão a enfrentar uma tarifa de 20%, um recuo em relação aos 32% que haviam sido ameaçados anteriormente. Especialistas interpretam isso como uma manobra tática: ao mesmo tempo em que pressiona Pequim, o governo evita desestabilizar demais um dos elos mais frágeis da cadeia tecnológica global.
Ainda assim, a simples menção a tarifas sobre chips já causa preocupação no setor. Empresas de tecnologia e fabricantes de equipamentos dependem de uma cadeia de suprimentos altamente integrada e especializada. Qualquer interrupção ou aumento de custos pode impactar desde o preço de celulares e computadores até o desenvolvimento de veículos autônomos e sistemas de IA.
Analistas do Goldman Sachs alertaram que tarifas sobre semicondutores poderiam gerar efeitos dominó: “A indústria de chips é o sistema nervoso da economia moderna. Taxar insumos críticos pode elevar a inflação, atrasar inovações e prejudicar justamente os setores que os EUA querem fortalecer — como defesa, automação e computação avançada.”
Enquanto isso, o governo Trump insiste que o objetivo é estratégico. “Não podemos continuar dependentes de adversários e aliados instáveis para tecnologias essenciais”, disse um alto funcionário da Casa Branca sob condição de anonimato. “O que estamos construindo é uma indústria de semicondutores verdadeiramente americana — do design à fabricação.”
Ainda assim, o histórico do presidente traz incertezas. Suas ameaças tarifárias, especialmente no setor farmacêutico, já foram anunciadas, adiadas e reformuladas diversas vezes. A promessa de tarifas de 200% sobre medicamentos, por exemplo, foi elevada a 250% nesta mesma entrevista — um salto que surpreendeu até mesmo assessores próximos.
“Tenho os melhores números de pesquisas que já tive”, disse Trump, justificando sua política. “As pessoas adoram as tarifas.” A afirmação, porém, contrasta com dados recentes de institutos como Pew Research e Gallup, que mostram uma queda no índice de aprovação do presidente, especialmente entre eleitores independentes e consumidores preocupados com o aumento no custo de vida.
Agora, com os olhos voltados para a próxima semana, o mundo aguarda: será que Trump vai mesmo avançar com tarifas sobre os chips que movem o futuro da tecnologia? E, se avançar, o que isso significará não apenas para as empresas, mas para o bolso dos americanos e para a estabilidade da cadeia global de suprimentos?
TSMC acelera expansão nos EUA sob pressão de Trump, mas teme incerteza tarifária
Enquanto o presidente Donald Trump anuncia uma nova frente de tarifas sobre semicondutores, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), maior fabricante de chips do mundo, responde com ações concretas: acelerar a produção nos Estados Unidos. Em sua teleconferência de resultados do segundo trimestre, realizada em julho, o CEO da empresa, C.C. Wei, revelou que a companhia está “trabalhando para acelerar seu cronograma de produção em volume em vários trimestres”, diante do “forte interesse” demonstrado por seus principais clientes americanos — entre eles Apple, Nvidia, Qualcomm e AMD.
A expansão da TSMC no solo norte-americano é um dos maiores investimentos industriais da década. A empresa já prometeu um total de 165 bilhões de dólares em fábricas avançadas de semicondutores no país. No Arizona, está erguendo seis instalações de fabricação de wafers, duas plantas de embalagem de chips e um centro de pesquisa e desenvolvimento. A primeira unidade já está concluída, a segunda está pronta e a construção da terceira já começou.
“Estamos vendo um forte interesse dos clientes nos EUA”, afirmou Wei. “A TSMC continuará a desempenhar um papel essencial e integral para possibilitar o sucesso dos nossos clientes, ao mesmo tempo em que se mantém como um parceiro-chave na indústria de semicondutores dos EUA.”
O movimento é estratégico e responde diretamente à pressão geopolítica e comercial de Washington. Nos últimos anos, os EUA têm tratado a produção de chips como uma questão de segurança nacional, especialmente com o avanço da China na tecnologia de ponta e a crescente dependência americana de Taiwan — uma ilha que produz cerca de 90% dos chips mais avançados do planeta.
Ainda assim, a TSMC caminha em um terreno minado. Apesar dos bilhões investidos e da cooperação com o governo americano, a empresa ainda enfrenta a ameaça de tarifas pesadas. Em abril, Trump chegou a anunciar uma alíquota de 32% sobre produtos de Taiwan, chamando de “tarifas recíprocas” — uma medida que, segundo fontes, está sendo negociada, mas ainda não foi descartada. No início de agosto, o presidente voltou a falar em novas tarifas específicas para o setor de semicondutores, a serem anunciadas “na próxima semana ou algo assim”.
Essa incerteza preocupa a diretoria da TSMC. “Compreendemos as incertezas e os riscos do potencial impacto das políticas tarifárias, especialmente no segmento de consumo e no mercado final, sensível a preços”, disse Wei, sem citar Trump diretamente, mas deixando clara a tensão.
O receio é que, mesmo com a produção local, a cadeia de suprimentos ainda dependa de componentes e máquinas importadas — como equipamentos da Holanda e Japão, ou insumos da Coreia do Sul. Tarifas amplas poderiam elevar custos, repassados aos consumidores em forma de preços mais altos para smartphones, computadores e servidores de inteligência artificial.
Apesar dos desafios, o desempenho financeiro da TSMC segue robusto. A empresa registrou 31,7 bilhões de dólares em receita no segundo trimestre, com um lucro líquido quase 61% maior em relação ao ano anterior — um recorde que superou as expectativas do mercado. O otimismo é alimentado pela explosão da demanda por chips de IA, impulsionada por empresas como a Nvidia, que dependem da TSMC para fabricar seus processadores mais avançados.
Analistas do Morgan Stanley veem o investimento nos EUA como um sinal de compromisso, mas também como um cálculo de risco. “A TSMC está tentando se antecipar à política, não apenas seguir o dinheiro”, disse Grace Lee, analista de tecnologia. “Mas o problema é que, em Washington, o jogo muda rápido. Hoje é incentivo, amanhã pode ser tarifa.”
Enquanto isso, em Phoenix, os operários seguem trabalhando em ritmo acelerado. As placas de silício que saem da nova fábrica ainda são de geração anterior, mas a produção de chips de 3 nanômetros — os mais avançados da atualidade — está prevista para começar em breve. A promessa é que, até 2027, boa parte dos chips usados em dispositivos americanos será fabricada no próprio território nacional.
O governo Trump comemora. “É exatamente isso que queremos: tecnologia de ponta feita aqui”, disse um funcionário do Departamento de Comércio. “Mas ainda não acabou. Vamos garantir que os EUA não voltem a depender do exterior.”
EUA aliviam restrições tecnológicas à China em busca de acordo comercial e reaproximação entre líderes
Os Estados Unidos tomaram uma decisão estratégica que promete impactar diretamente a já delicada relação com a China. Segundo informações do jornal Financial Times, o governo norte-americano suspendeu algumas das restrições impostas à exportação de produtos de tecnologia para o mercado chinês. A medida faz parte de um esforço maior para fortalecer as negociações comerciais entre as duas potências e, nos bastidores, busca facilitar um aguardado encontro entre o ex-presidente Donald Trump e o presidente chinês Xi Jinping ainda este ano.
A mudança de postura foi conduzida pelo Departamento de Comércio dos EUA, que teria recebido orientações para adotar uma abordagem mais branda nas políticas de controle de exportação em relação à China. A flexibilização, segundo o FT, representa uma guinada em relação à postura mais agressiva que marcou o atual mandato de Trump, período em que Washington vinha impondo uma série de restrições sobre a transferência de tecnologia de ponta para o país asiático.
Um dos principais exemplos dessa mudança envolve a gigante norte-americana Nvidia. Recentemente, a empresa havia sido notificada pelo governo de que a exportação do chip H20 — desenvolvido especialmente para o mercado chinês — seria proibida. Essa ação veio na esteira de medidas ainda mais rígidas implementadas anteriormente pelo governo Biden, que haviam limitado a venda de chips avançados. No entanto, após conversas entre Trump e o CEO da Nvidia, Jensen Huang, a Casa Branca voltou atrás na decisão. Como resultado, a empresa anunciou neste mês que retomará as vendas do chip H20 para a China.
Segundo o secretário de Comércio, Howard Lutnick, essa retomada integra um pacote maior de negociações que envolvem também materiais estratégicos como terras raras e ímãs — recursos fundamentais para a produção de tecnologia de ponta e considerados cruciais tanto para a indústria quanto para a defesa nacional.
Apesar da sinalização de reaproximação entre os dois países, a medida gerou preocupações entre especialistas em segurança nacional. Cerca de 20 ex-integrantes do governo dos EUA e especialistas da área, incluindo o ex-vice-conselheiro de segurança nacional Matt Pottinger, divulgaram uma carta pública nesta segunda-feira alertando para os riscos da decisão. No documento, eles apontam que a flexibilização representa um “erro estratégico” que pode comprometer a vantagem dos EUA nas áreas econômica e militar, especialmente no campo da inteligência artificial.
Enquanto os bastidores políticos fervilham, diplomatas e negociadores de ambos os países se preparam para mais uma rodada de negociações, marcada para ocorrer nesta segunda-feira em Estocolmo, na Suécia. De acordo com o jornal chinês South China Morning Post, as duas nações devem anunciar a prorrogação da trégua tarifária em vigor, estendendo-a por mais 90 dias. A expectativa é de que, durante esse período, nenhum dos lados imponha novas tarifas nem adote medidas que possam agravar a guerra comercial.
Fontes ligadas à delegação chinesa indicam que Pequim deve pressionar os Estados Unidos a recuar nas tarifas extras aplicadas sobre produtos relacionados ao fentanil. Trump havia elevado essas taxas em março, sob o argumento de que a China não estaria fazendo o suficiente para conter o envio da substância aos EUA. Ainda assim, há uma possível disposição do governo chinês em aceitar uma tarifa básica de 10% sobre todas as importações, desde que as taxas adicionais sejam suspensas.
Durante uma visita à Escócia, onde se reuniu com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, Trump demonstrou otimismo quanto às negociações com o gigante asiático. “Estamos muito perto de um acordo com a China. Realmente fizemos um acordo com a China, mas vamos ver como isso vai acontecer”, disse o ex-presidente norte-americano a repórteres.
Em maio, os dois países chegaram a um entendimento temporário: as tarifas dos EUA sobre produtos chineses caíram de 145% para 30%, enquanto a China reduziu as taxas sobre produtos americanos de 125% para 10%. No entanto, o clima de trégua durou pouco. Pouco depois do anúncio, Trump acusou a China de descumprir o acordo, afirmando em sua rede social Truth Social que o país asiático “violou totalmente” os compromissos assumidos.
A acusação provocou uma rápida resposta da embaixada chinesa em Washington, que classificou as restrições dos EUA como “discriminatórias” e pediu que ambos os lados trabalhassem em conjunto para manter os consensos alcançados nas negociações realizadas em Genebra.
A longa disputa entre China e Estados Unidos ganhou força com o pacote tarifário agressivo promovido por Trump desde 2024, quando seu governo elevou substancialmente as tarifas de importação sobre produtos chineses, em uma tentativa de reduzir o déficit comercial. A China reagiu de forma proporcional, elevando também suas tarifas sobre bens americanos. A escalada incluiu trocas de ameaças e aumentos consecutivos de tributos, levando as duas maiores economias do planeta a uma verdadeira guerra tarifária.
Mesmo com as tensões acumuladas, os últimos movimentos indicam uma possível abertura para o diálogo — ainda que com cautela. A retomada de exportações da Nvidia, a extensão da trégua tarifária e o agendamento de novas rodadas de negociação apontam para um cenário onde diplomacia e pragmatismo voltam a ganhar espaço. No entanto, as divergências estruturais entre os dois países permanecem e o caminho para um entendimento duradouro ainda será longo.
Com informações da CNBC, Financial Times e Agências de Notícias*
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