domingo, abril 20, 2025
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》Descolamento entre EUA e China pode forçar venda em massa de ações por investidores norte-americanos, aponta Goldman Sachs – Expresso Noticias

Vamos ao assunto:

Investidores de varejo nos Estados Unidos podem liderar um movimento de venda de recibos de ações de empresas chinesas listadas em bolsas norte-americanas, caso o governo Trump avance com medidas para promover o desacoplamento financeiro entre os mercados dos dois países.

A avaliação foi feita pelo Goldman Sachs em relatório divulgado nesta quarta-feira (17), com base em dados que indicam maior vulnerabilidade entre pessoas físicas em comparação a investidores institucionais.

De acordo com o banco de investimentos, comerciantes de varejo norte-americanos detêm atualmente cerca de US$ 370 bilhões em American Depositary Receipts (ADRs) de companhias chinesas. O número foi calculado a partir da subtração das participações institucionais e estratégicas do total de ações em circulação das empresas listadas.

Entre as companhias com maior exposição ao varejo, a Alibaba Group Holding se destaca com 40% de participação desse público.

Segundo analistas do banco, liderados por Kinger Lau e Timothy Moe, empresas com esse perfil seriam mais sensíveis à pressão vendedora, especialmente em um cenário de retirada forçada do mercado dos Estados Unidos.

O risco de fechamento de capital para empresas chinesas voltou ao centro das discussões diante do agravamento da tensão comercial entre Washington e Pequim.

Em relatório complementar, o Goldman Sachs estimou que uma eventual dissociação completa entre os mercados financeiros das duas economias poderia resultar em uma liquidação de até US$ 2,5 trilhões em ativos — considerando tanto ações quanto títulos negociados nos mercados chinês e norte-americano.

Segundo o banco, “alguns investidores de varejo dos EUA podem estar relutantes ou incapazes de converter seus ADRs em ações [listadas em Hong Kong]”. Essa limitação poderia intensificar os movimentos de venda no curto prazo, caso medidas de deslistagem avancem.

Em relação aos investidores institucionais, o Goldman estima que esse grupo possua US$ 830 bilhões em ativos distribuídos entre ADRs, ações H (negociadas em Hong Kong) e ações onshore denominadas em yuans. O total chega a US$ 960 bilhões quando se incluem empresas com sede em Hong Kong.

O banco também projetou os prazos necessários para uma liquidação completa de posições institucionais em cada categoria de ativos.

Para os ADRs, a venda levaria 97 dias, considerando um ritmo de desinvestimento equivalente a um terço do volume médio diário negociado nos últimos seis meses. A liquidação das ações H levaria 119 dias. No caso das ações onshore chinesas, a alienação poderia ser concluída em apenas um dia.

A possibilidade de uma dissociação completa também foi mencionada por Ye Bingnan, analista da CMB International, com sede em Hong Kong.

Para ele, “uma dissociação financeira pode levar à exclusão forçada de empresas chinesas com ações negociadas nos EUA”.

Segundo o analista, mesmo que os conflitos entre os dois países permaneçam restritos a setores específicos, o grau de incerteza atual tende a limitar o crescimento e o valor de mercado dessas companhias.

Atualmente, há 286 empresas chinesas listadas em bolsas norte-americanas, com valor de mercado total estimado em US$ 1,1 trilhão. Entre as maiores estão Alibaba, PDD Holdings e NetEase. A Alibaba é também proprietária do jornal South China Morning Post.

A questão da deslistagem ganhou relevância em 2022, quando um impasse entre autoridades regulatórias dos dois países sobre auditoria levou à saída de algumas empresas chinesas das bolsas norte-americanas.

Na ocasião, diversas companhias optaram por listar-se em Hong Kong, por meio de ofertas secundárias ou conversões em listagens primárias duplas, que permitem a fungibilidade entre ADRs e ações H.

No relatório desta semana, o Goldman Sachs destacou que a participação institucional representa cerca de 30% do valor de mercado das principais ações chinesas negociadas nos Estados Unidos.

Desses ativos, aproximadamente 37% já foram convertidos para ações H, o que corresponde a 11% do valor total de mercado. No entanto, cerca de 7% do valor de mercado das ações continua nas mãos de investidores que podem ter restrições para negociar em Hong Kong.

O banco também chamou atenção para os possíveis efeitos de um desacoplamento no próprio mercado de capitais dos EUA.

A CMB International afirmou que, além do impacto nas empresas chinesas, a retirada de ADRs poderia comprometer a atratividade das bolsas norte-americanas e reduzir a demanda por serviços prestados por corretoras, bolsas de valores e outras instituições intermediárias do sistema financeiro dos Estados Unidos.

O cenário ainda depende da adoção de políticas concretas por parte do governo norte-americano, mas o aumento da pressão por parte da administração Trump indica que novas ações restritivas podem ser adotadas. A resposta da China, por sua vez, segue sendo monitorada por agentes do mercado, diante da possibilidade de contramedidas e impactos adicionais sobre o comércio e os investimentos globais.

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