》Tripa, Ninja e Buzeira: quem são os novos nomes ligados ao Corinthians no caso Vai de Bet – Expresso Noticias

São Paulo, SP, 25 (AFI) – O relatório final da Polícia Civil sobre o caso Vai de Bet trouxe novos personagens à investigação sobre irregularidades no contrato da casa de aposta com o Corinthians e colocaram o clube nas páginas policiais. Figuras como Danilo Lima de Oliveira, conhecido como “Tripa”, Marcelo Eduardo Rodrigues Sales, vulgo “Ninja”, e o influenciador digital Bruno Alexssander Souza Silva, o “Buzeira”, emergem nesse cenário.

Segundo o Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), cada um desempenhou um papel em um esquema que terminou com o desvio de valores dos cofres do clube para as mãos do crime organizado. Cabe ressaltar que eles não têm relação direta na investigação e não foram indiciados pela Polícia Civil. 

A investigação concluiu que a Rede Social Media Ltda, que intermediou o acordo de patrocínio, usou uma empresa fantasma para fazer aproximadamente R$ 1 milhão chegar à conta bancária da agência de atletas UJ Football Talent Intermediação, empresa apontada como braço do Primeiro Comando da Capital (PCC). 

De acordo com as autoridades, Augusto Melo desviou recursos do contrato de patrocínio com a empresa de apostas Vai de Bet para pagar dívidas de suas campanhas políticas com o crime organizado em 2020 e 2023 e chegar ao topo do clube. A defesa do presidente afastado nega veementemente e afirma que não há elemento concreto que o ligue com qualquer organização criminosa.

Danilo Lima de Oliveira, o “Tripa”, é identificado como um agente de jogadores que, segundo colaboração premiada de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach com o GAECO/SP, seria integrante do PCC e teria participação na UJ. Gritzbach alegou que a facção criminosa utilizava empresas de gestão de carreira de atletas para lavar dinheiro de atividades ilícitas. 

Danilo e o sócio da UJ Football Talent, Ulisses, eram vistos em 2021 como “uma das maiores referências de agenciamento no Brasil”, tendo intermediado a contratação do lateral-direito Emerson Royal pelo Barcelona.

De acordo com a investigação, a UJ Football Talent movimentou quase R$ 26 milhões entre fevereiro de 2021 e fevereiro de 2022, e R$ 280 mil foram enviados para a Lion Tecnologia e Serviços, uma empresa em nome de Danilo. Fotografias mostram Danilo ao lado de Marino Rosa e Thiago Laurindo, que atuaram com Augusto Melo no União Barbarense e permanecem próximos ao Corinthians. 

A polícia sugere que a UJ Football Talent serviu como um “elo funcional e operacional” entre o financiamento da campanha de Augusto Melo e “interesses paralelos, de natureza espúria”, além de ser o “beneficiário final” do dinheiro desviado. A reportagem busca contato com Danilo e a matéria será atualizada em caso de manifestação.

O influenciador digital Bruno Alexssander Souza Silva, o “Buzeira”, com mais de 13 milhões de seguidores no Instagram, que ostenta carros de luxo e afirma ter construído sua fortuna com sorteios, é descrito como um torcedor assíduo e próximo à diretoria do clube. Ele é o sexto maior doador na “vaquinha” da Fiel Torcida para quitar a dívida da Neo Química Arena e chegou a se reunir com Augusto Melo para oferecer auxílio nos bastidores. 

Contudo, o relatório policial levanta suspeitas sérias sobre Buzeira. Ele é investigado pela Polícia Civil de São Paulo por suposta ligação com um traficante associado ao PCC, com conversas em celulares de criminosos mostrando o influenciador pedindo a cobrança de uma dívida de R$ 400 mil. Além disso, ele já era investigado por “exploração ilegal de jogos de azar”. Um suposto ex-integrante do PCC mencionou em podcast que a lavagem de dinheiro da facção teve início com influenciadores digitais e rifas. 

A análise financeira revela que a Buzeira Digital, sua pessoa jurídica, recebeu vultosas quantias de empresas envolvidas no esquema de lavagem de dinheiro, como R$ 230.000,00 de um agropecuarista e R$ 97.768,00 de um promotor de vendas, ambos ligados à Wave Intermediações. Mais grave, a Buzeira Digital recebeu R$ 1.000.000,00 da Victory Trading apenas três dias após esta ter remetido recursos à UJ Football Talent, o destino final dos valores. 

O relatório conclui que há um “entrelaçamento atípico de pessoas ligadas, direta ou indiretamente, à direção da Agremiação lesada, com o agravante de que há fortes indícios a indicar que as sociedades empresariais em tela, bem como o influenciador Bruno Alexssander, vulgo Buzeira, estão supostamente ligadas a organizações criminosas”.

MAIS DETALHES

“E, no mínimo, suspeito constatar que os valores desviados do Clube do Parque São Jorge percorreram as contas da WAVE e da VICTORY, e que BUZEIRA – com ótimo trânsito junto à direção corintiana – foi citado no RIF da WAVE e, mais grave que isso, recebeu vultosas quantias da VICTORY”, diz Tiago Fernando Correia, delegado responsável pelo caso. As empresas citadas fazem parte de um esquema complexo pelo qual o dinheiro percorreu até chegar nas mãos do crime organizado. 

“Vislumbra-se um entrelaçamento atípico de pessoas ligadas, direta ou indiretamente, à direção da agremiação lesada, com o agravante de que há fortes indícios a indicar que as sociedades empresariais em tela, bem como o influenciador citado, mantêm aparente relação com o crime organizado”, conclui. O Estadão busca contato com Bruno Alexssander e a matéria será atualizada em caso de manifestação. 

Marcelo Eduardo Rodrigues Sales, conhecido como “Ninja”, ex-chefe de gabinete da presidência, é apontado no relatório como um dos responsáveis pela arrecadação de fundos para a campanha eleitoral de Augusto Melo à presidência do Corinthians em 2023. Rubens Gomes, ex-diretor de futebol do clube e figura central na articulação política da campanha de Melo, afirmou em depoimento que Ninja, junto com o ex-diretor administrativo Marcelo Mariano e Marcos Bocatto, ex-Superintendente de Novos Negócios e Esportes Olímpicos, eram os encarregados dessa arrecadação. 

Uma denúncia anônima recebida pela Polícia Civil teria corroborado a participação de Ninja” em atividades de lavagem de dinheiro do crime organizado, indicando que a presidência do clube seria usada para saldar dívidas de campanha e permitir que “essa gente opere dentro do clube”. A investigação sugere que Marcelo Mariano, Ninja e Marcos Bocatto detinham o controle do dinheiro durante a fase eleitoral, e que Marcelo Mariano se tornou o “operador” dos desvios após a vitória de Augusto Melo.

Ninja afirma que, apesar de ter trabalhando em duas campanhas eleitorais de Melo, “não buscou ou administrou os recursos financeiros. Também diz não ter estabelecido ”contato com nenhum empresário que tenha cedido qualquer valor para as campanhas”

“Nunca tive relação nenhuma com o crime organizado, sempre trabalhei muito e não é porque sou preto e moro na periferia que faço parte disso. Não conheço ninguém ligado a UJ e muito menos tenho qualquer relação com a empresa. O único momento que tive acesso ao dinheiro na campanha de 2023, foi quando o Rubão me pediu para pagar os colaboradores que estavam na rua com as bandeiras e os banheiros químicos que instalamos na rua do clube”, afirma.

Indiciamento

A Polícia Civil indiciou o presidente afastado Augusto Melo, o ex-superintendente de marketing Sergio Moura, o ex-diretor administrativo Marcelo Mariano e o empresário Alex Cassundé, cuja empresa teria recebido R$ 1,4 milhão por supostamente intermediar o negócio com a casa de aposta. O trio responde por associação criminosa, furto qualificado pelo abuso de confiança e lavagem de dinheiro. O trio alega inocência. 

Yun Ki Lee, ex-diretor jurídico do Corinthians e chefe do departamento na época em que o clube assinou contrato com a antiga patrocinadora foi indiciado por omissão imprópria e vai responder de acordo com os crimes de furto e lavagem de dinheiro. Ele afirma ‘fez tudo para preservar os interesses do clube’ e classifica indiciamento como ‘antijurídico’.

O promotor Juliano Atoji acompanhou as oitivas da Polícia Civil desde o princípio da investigação. Caso seja oferecida denúncia, Yun Ki Lee, Augusto Melo, Marcelo Mariano, Sérgio Moura e Alex Cassundé se tornarão réus. Caso eles seja condenados após a realização das audiências, eles ainda podem recorrer a esferas superiores, como o Supremo Tribunal Federal (STF).

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