》Carne vira artigo de luxo nos EUA após Trump taxar agro do Brasil – Expresso Noticias
Vamos ao assunto:
Com queda histórica no rebanho e tarifas contra o Brasil, os EUA enfrentam alta recorde nos preços da carne e um impacto direto na mesa do consumidor
Com churrasqueiras acesas e a temporada de grelhados em alta, os americanos se deparam com um cenário nada saboroso: os preços da carne bovina atingiram os maiores níveis já registrados no país. Bifes e hambúrgueres estão mais caros do que nunca, e o motivo vai além da inflação. Se você anda achando que preparar um bom churrasco tem exigido mais do que talento na grelha, está certo. O preço médio do bife cru nos Estados Unidos subiu 8% no último ano, chegando a US$ 11,49 por libra — o maior valor já registrado, segundo dados do governo federal. Já a carne moída, essencial para o tradicional hambúrguer americano, disparou quase 12%, alcançando o também inédito patamar de US$ 6,12 por libra.
O impacto é direto no dia a dia. Para muitas famílias, um simples jantar de hambúrguer em casa exige não apenas o queijo cheddar derretido, mas também um orçamento mais generoso. As altas sucessivas nos preços têm transformado o que sempre foi um símbolo de praticidade e confraternização em um item quase de luxo na mesa dos norte-americanos.
Leia também:
Tarifa dos EUA derruba valores no mercado brasileiro
The Guardian defende Gaza em editorial: ‘será preciso mais para deter o genocídio’
Nova pesquisa aponta queda histórica na aprovação de Trump
Por que a carne está tão cara?
A resposta está no campo — ou melhor, na escassez dentro dele. O rebanho bovino dos EUA encolheu e está hoje 8% menor que em 2019, atingindo seu nível mais baixo em mais de 70 anos. A causa principal? Uma combinação de anos de seca e altos custos operacionais.
Com menos pasto disponível e o custo de alimentação animal nas alturas, os fazendeiros foram forçados a vender parte de seus rebanhos, inclusive fêmeas que seriam usadas para reprodução. Resultado: menos bezerros nascem, e a reposição do gado se torna mais lenta e cara.
Além disso, os juros altos têm dificultado o financiamento para quem pensa em investir na ampliação dos rebanhos. Em um cenário em que empréstimos custam caro, muitos produtores optam por não arriscar — e o ciclo de escassez se retroalimenta.
Nem a carne de fora tem salvado
Importar carne bovina poderia ser uma saída, mas os obstáculos se acumulam. O governo dos EUA suspendeu recentemente as importações de gado vivo do México como forma de barrar a entrada da bicheira-do-Novo Mundo, uma mosca carnívora que ameaça os rebanhos locais.
A situação se agrava com as decisões comerciais do presidente Donald Trump. Segundo a Axios, cerca de 23% da carne bovina importada pelos EUA vem do Brasil, e a partir de 1º de agosto entrará em vigor uma tarifa de 50% sobre esses produtos. O anúncio já levou frigoríficos brasileiros a reconsiderarem envios futuros, como revelou a Reuters.
Impacto prolongado e ações preventivas
Não se trata de um problema pontual. A expectativa, segundo especialistas do setor, é de que a instabilidade nos preços da carne bovina se estenda por pelo menos dois a quatro anos. A KC Cattle Company, referência no setor, declarou à Axios que o mercado ainda deve passar por um período turbulento antes de alguma estabilização.
Na tentativa de se proteger, grandes redes de varejo já estão reagindo. O Walmart, por exemplo, inaugurou recentemente sua primeira unidade própria de processamento de carne bovina, buscando ter maior controle sobre a cadeia de suprimentos e reduzir dependências externas.
Enquanto isso, o consumidor segue tentando equilibrar o apetite com o orçamento. Em tempos em que um bom hambúrguer exige mais cálculo do que condimentos, as grelhas seguem acesas — mas com porções cada vez mais moderadas.
Trump impõe tarifas ao Brasil e acende alerta em setores estratégicos: “É chantagem”, dizem especialistas
Com uma canetada, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reescreveu as regras do jogo comercial com o Brasil. A partir de 1º de agosto, todas as exportações brasileiras para o mercado norte-americano sofrerão uma tarifa de 50%, medida que especialistas classificam como uma forma explícita de pressão política — e que poderá trazer consequências graves para a economia brasileira.
A decisão foi anunciada oficialmente em uma carta enviada a Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, e não demorou a gerar forte repercussão. Para economistas e analistas de comércio internacional, o cenário é alarmante: trata-se, na prática, de um bloqueio comercial disfarçado de tarifa, capaz de afetar cadeias produtivas inteiras, gerar desemprego e derrubar o preço de alimentos e commodities no mercado interno.
“Do total das exportações do Brasil, cerca de 15% vão para os Estados Unidos. Mas é importante destacar que é sobretudo produto manufaturado e semimanufaturado. Se isso se mantiver, nós vamos ter desemprego no Brasil, vamos ter uma diminuição da entrada de dólares no país e isso é muito grave”, afirma Roberto Goulart Menezes, professor da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Instituto Nacional dos EUA (INEU).
Leia também:
Brasil vira página e se aproxima da China diante de ameaça tarifária dos EUA
Quando o ativismo vira crime no ambiente acadêmico dos EUA
Itamaraty desafia Israel e apoia denúncia de genocídio
Petróleo, aço, aeronaves: os alvos preferenciais da tarifa
Entre os setores que sentirão primeiro o baque da nova política tarifária estão os de petróleo, aço, máquinas, aeronaves e eletrônicos. Empresas como Petrobras e Embraer podem ser diretamente impactadas, com exportações travadas ou inviabilizadas pelos novos custos.
“A Embraer tem um mercado razoável nos EUA com alguns dos seus jatos, e a Petrobras exporta petróleo para lá. Elas podem redirecionar parte dessas vendas, mas perdem acesso ao mercado mais estratégico do planeta”, explica Alexandre Pires, professor de Relações Internacionais e Economia no Ibmec-SP.
Agronegócio sob pressão: açúcar, carne, café e suco de laranja em xeque
No campo, o golpe pode vir com força. Açúcar, café, carne bovina e suco de laranja — pilares do agronegócio brasileiro — fazem parte da pauta de exportações para os EUA. Com a tarifa, muitos desses produtos deverão perder competitividade lá fora, obrigando produtores a direcionarem a produção ao mercado interno.
O efeito mais imediato? Queda de preços no Brasil, especialmente no caso de commodities agrícolas. Se, por um lado, o consumidor poderá encontrar carne e café mais baratos, por outro, a pressão sobre produtores e indústrias será imensa.
“Toda vez que ocorre algum tipo de fechamento, mesmo quando é autoembargo por questões fitossanitárias, os preços caem. E é provável que isso aconteça agora com carne, suco de laranja e café”, afirma Pires.
Pressão empresarial e riscos prolongados
A expectativa entre especialistas é de que as elites econômicas brasileiras pressionem por uma solução rápida. No entanto, qualquer negociação dependerá de abertura por parte de Trump — algo incerto, especialmente em ano eleitoral nos EUA.
“Mesmo que essas tarifas durem seis meses ou um ano, o problema vai ser retomar esses mercados depois. O dano pode ser duradouro”, adverte Pires.
Superávit dos EUA e retórica agressiva
Embora Trump justifique as tarifas com o argumento de suposta injustiça nas relações comerciais, os dados mostram outra realidade. O comércio bilateral entre Brasil e EUA gira em torno de US$ 80 bilhões anuais, e os próprios Estados Unidos registram superávit de US$ 200 milhões nessa balança.
“O que o Donald Trump está fazendo é tentar bloquear o comércio Brasil-Estados Unidos. Uma chantagem. Essas tarifas não são razoáveis”, afirma Roberto Goulart.
Segundo ele, a tática agressiva é conhecida e já foi usada por Trump em seu mandato anterior, com alvos como Canadá, México, Japão e Coreia do Sul.
Conflito geopolítico e tensão com os Brics
O momento da decisão também não é por acaso. A sanção chega na mesma semana da cúpula dos Brics no Rio de Janeiro, evento marcado por embates retóricos entre Lula e Trump. O norte-americano já havia sinalizado que retaliaria os países do bloco — especialmente por enxergar a expansão da influência do grupo como uma ameaça direta à hegemonia dos EUA.
“Trump confunde multipolaridade e transformações na dinâmica da geopolítica global com antiamericanismo. No fundo, para ele, enfrentar os Brics é uma forma de enfrentar a China”, analisa Goulart.
Um recado além da economia
A decisão de Trump carrega também componentes simbólicos e políticos. Segundo especialistas, além de punir comercialmente o Brasil, o gesto também mira posicionamentos recentes do governo Lula, como a defesa de regulação das redes sociais, a atuação no Supremo Tribunal Federal (STF) e o estreitamento de laços com a China.
“Essa tarifa contra o Brasil apresenta vários componentes: efeito STF, efeito Brics, efeito redes sociais. E, por último, supostas razões comerciais”, pontua Alexandre Pires.
O que vem pela frente?
Com o prazo para início das tarifas se aproximando — 1º de agosto, o Brasil terá pouco tempo para negociar. A expectativa, agora, é de que o governo Lula busque apoio internacional e tente abrir canais diplomáticos com outros atores relevantes, incluindo a União Europeia e países asiáticos.
Enquanto isso, setores estratégicos da economia já se movimentam para recalcular rotas, rever orçamentos e lidar com os prejuízos. Para muitos, o prejuízo político e simbólico pode ser ainda mais difícil de remediar do que as perdas financeiras.
Com informações de Morning Brew e Agência Brasil*
www.expressonoticias.website