》Médicos e veteranos dos EUA pedem a Trump fim do apoio a Israel – Expresso Noticias

Vamos ao assunto:

Veteranos de guerra, médicos e ativistas dizem que Trump traiu a promessa de paz e o responsabilizam por sustentar a escalada de violência


Em um dia marcado por indignação e apelo à consciência internacional, veteranos de guerra, médicos e ativistas se reuniram diante do Capitólio dos Estados Unidos, nesta quinta-feira (24), para exigir que o presidente Donald Trump e os legisladores reavaliem o apoio incondicional dos EUA a Israel, diante da crescente crise humanitária em Gaza.

O protesto, que contou com a participação da congressista Rashida Tlaib (Michigan) e de diversos defensores dos direitos humanos, foi marcado por discursos emocionados e atos simbólicos que denunciaram o que chamam de “fome usada como arma de guerra” contra a população palestina no enclave de Gaza.

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Josephine Guilbeau, veterana do Exército americano com 17 anos de serviço, foi uma das vozes mais comoventes do ato. Com emoção, ela questionou a moralidade da comunidade internacional diante da fome deliberada: “O nível de maldade necessário para tomar a decisão de matar um bebê de fome como meio de guerra – a que ponto chegamos como humanidade?”

A manifestação contou com a simbólica batida de panelas vazias, em alusão à fome que assola Gaza, onde, segundo relatos da ONU e de autoridades locais, mais de 100 pessoas já morreram de inanição devido ao bloqueio imposto por Israel. Segundo os manifestantes, os Estados Unidos são cúmplices dessa situação por fornecerem bilhões de dólares em ajuda militar anualmente.

“Estamos aqui para dizer aos nossos representantes: ouçam o povo americano. Não somos todos a favor do que está acontecendo lá”, declarou Rashida Tlaib, que também criticou colegas do Congresso que, segundo ela, ignoram a crescente insatisfação popular com a política externa dos EUA em relação a Israel.

Crítica à política externa dos EUA

A manifestação também marcou uma divisão dentro do próprio espectro progressista norte-americano. Tlaib pareceu questionar o voto contrário da congressista Alexandria Ocasio-Cortez (AOC) à uma emenda que buscava cortar US$ 500 milhões em ajuda antimísseis a Israel. Embora AOC tenha justificado seu voto afirmando que armas defensivas não ajudam a deter o bombardeio a civis, Tlaib rebateu: “Não importa quais armas — ofensivas ou defensivas — vamos parar de permitir o genocídio.”

Stacy Gilbert, ex-funcionária do Departamento de Estado que renunciou em 2024 em protesto contra a postura do governo americano, também se manifestou. Ela afirmou que a fome em Gaza é resultado de decisões deliberadas de Israel e que os EUA têm o poder de mudar esse cenário: “Estou pedindo a Trump que rompa com essa política que começou com Biden — essa política desastrosa de apoio militar incondicional a Israel.”

Médicos denunciam falhas humanitárias

Nidal Jboor, médico de Michigan e integrante do grupo Médicos Contra o Genocídio, também fez um apelo direto ao presidente Trump. Ele lembrou que durante a campanha eleitoral, Trump prometeu paz à região e conquistou votos de comunidades árabes e muçulmanas com essa promessa. “As pessoas votaram nele porque ele prometeu paz, e agora ele está quebrando suas promessas”, disse Jboor à Al Jazeera.

O médico alertou que o legado de Trump será julgado pela história: “Não somos assim. Os americanos são melhores do que isso. O que estamos apoiando em Gaza não torna os Estados Unidos grandes novamente.”

Iniciativa GHF é criticada por ativistas

Em maio, os EUA e Israel lançaram uma iniciativa para centralizar a distribuição de ajuda humanitária em Gaza por meio de uma organização privada chamada GHF (Gaza Humanitarian Forum). No entanto, palestinos e grupos de direitos humanos denunciam que os locais de distribuição são controlados por forças israelenses e têm sido alvo frequente de tiroteios, resultando em dezenas de mortos.

Apesar de os EUA anunciarem a distribuição de 90 milhões de refeições por meio da GHF, esse número é considerado insuficiente para atender a população de dois milhões de pessoas em Gaza. Além disso, a ajuda tem sido interrompida repetidamente por bombardeios e tiros.

Diante disso, o porta-voz do Departamento de Estado, Tommy Pigott, afirmou que os EUA estão “cientes” da situação humanitária e reiterou o apoio ao GHF, acusando o Hamas de desviar ajuda distribuída pela ONU. No entanto, relatórios internacionais questionam essa versão e apontam o governo israelense como responsável pela restrição sistemática de alimentos e suprimentos.

Em entrevista à imprensa israelense, o Ministro do Patrimônio de Israel, Amichai Eliyahu, reforçou a linha dura do governo ao afirmar que “não há nação que alimente seus inimigos”, sugerindo que a fome em Gaza é uma consequência intencional da política de seu país.

Manifestantes apostam na pressão popular

Mesmo após 22 meses de conflito e milhares de mortos, os manifestantes diante do Capitólio demonstraram otimismo. Josephine Guilbeau resumiu o sentimento da multidão: “Cada voz é poderosa para fazer a diferença. Temos que mudar a mentalidade dos nossos líderes e fazê-los entender que, se não pararem de financiar Israel, nós os expulsaremos.”

O protesto reforça uma crescente mobilização nos Estados Unidos em defesa dos direitos palestinos e pressiona o governo americano a rever sua postura diante de uma das maiores crises humanitárias do século XXI. Ainda que os EUA continuem a defender seu apoio a Israel, a pressão popular pode ser um fator determinante nas decisões políticas dos próximos meses.

Como Israel levou Gaza ao limite: “faminta, sozinha e caçada”

Yazan, um menino palestino desnutrido de dois anos, senta-se com seus irmãos na casa destruída de sua família no campo de refugiados de Shati, a oeste da Cidade de Gaza, em 23 de julho de 2025 [Omar Al-Qattaa/AFP]
Analistas afirmam que a estratégia israelense em Gaza visa não apenas combater o Hamas, mas destruir a própria estrutura da sociedade palestina / AFP

O que começou como uma resposta militar a um ataque do Hamas em outubro de 2023 se transformou, ao longo de 21 meses, numa campanha de destruição sistemática que analistas internacionais descrevem como uma guerra contra a própria existência da sociedade palestina em Gaza.

Segundo dados compilados por organizações humanitárias e testemunhos no local, Israel já matou mais de 59.000 palestinos, feriu outros 143.000 e deslocou centenas de milhares de pessoas. A fome, usada como arma de guerra, se tornou uma realidade para grande parte da população. Apenas nas últimas semanas, mais de 100 pessoas morreram de inanição — 80 delas crianças.

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“Israel destruiu a ideia de sociedade em Gaza”, afirma Derek Summerfield, psiquiatra britânico especializado em conflitos. “Universidades, hospitais, mesquitas, tudo foi dizimado. Tornou-se uma guerra sociocida”, completa, usando um termo que descreve a destruição de estruturas sociais e identitárias de um povo.

A fome como política

A fome em Gaza não é um subproduto da guerra, mas uma política deliberada, segundo especialistas. A interrupção sistemática do fornecimento de alimentos, água e eletricidade, combinada com o cerco militar, criou condições que muitos descrevem como genocídio.

“Não se trata apenas de matar crianças de fome. Trata-se de desmantelar uma sociedade e reduzir seus habitantes a vítimas desesperadas e famintas”, afirma Alex de Waal, diretor executivo da World Peace Foundation. “Isso desumaniza e degrada o sofredor. A fome é um ato, e muitas vezes criminoso.”

A situação é tão grave que até jornalistas e trabalhadores humanitários em Gaza começaram a sofrer os efeitos da desnutrição. A Al Jazeera e a AFP fizeram apelos urgentes pedindo proteção para seus profissionais, que não conseguem mais trabalhar devido à própria deterioração física.

A estratégia de expulsão

Para muitos analistas, o objetivo de Israel não é apenas derrotar o Hamas, mas forçar a população palestina a deixar Gaza. O conceito de “cidade humanitária” proposto por Israel, segundo críticos, não passa de um campo de concentração disfarçado, onde os palestinos seriam confinados temporariamente antes de serem expulsos permanentemente.

“Israel adotou uma fórmula nas últimas semanas que está tornando as condições em Gaza intoleráveis e incapazes de sustentar a vida humana”, afirma Mouin Rabbani, coeditor do portal Jadaliyya. “Se isso pode reduzir a vida a tal nível e, ao mesmo tempo, aumentar o nível de caos e anarquia, a ideia é que as pessoas irão embora.”

A proposta israelense prevê a criação de uma zona ao longo da fronteira com o Egito, onde os palestinos seriam concentrados. Mas críticos internacionais afirmam que isso é uma forma encoberta de limpeza étnica.

Um governo dividido

A política de Israel em Gaza é marcada por uma divisão interna. Ministros de extrema-direita, como Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, defendem abertamente a expulsão dos palestinos. Por outro lado, setores da segurança israelense estão divididos entre continuar ou encerrar a ofensiva.

“Tem tudo isso: ambições messiânicas, cinismo político e oportunismo”, afirma Yossi Mekelberg, consultor da Chatham House. “Benjamin Netanyahu está sendo julgado por corrupção e sua prioridade é sobreviver politicamente. Para ele, tudo se resume a isso.”

O legado da destruição

As consequências da guerra em Gaza serão sentidas por gerações. Aqueles que sobreviveram carregarão traumas físicos e psicológicos. Aqueles que morreram provavelmente não terão sepultura. E aqueles que foram expulsos dificilmente poderão retornar.

“Israel está levando Gaza a um ponto de ruptura total”, diz Summerfield. “As pessoas estão vagando por ali, famintas, sozinhas e caçadas. É uma cena apocalíptica.”

Com a comunidade internacional assistindo impotente, e com negociações de cessar-fogo ainda sem resultados concretos, a população de Gaza continua cercada por bombardeios, fome e desesperança.

A imagem de Yazan, um menino palestino de dois anos desnutrido sentado entre os escombros da casa de sua família, resume o drama de um povo que, segundo analistas, foi levado ao limite da sobrevivência.

E a pergunta que paira sobre o mundo é: até onde o silêncio internacional vai permitir que isso continue?

Com informações de Al Jazeera*

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