Jô no pagode, casos de polícia e calote: problemas extracampo tumultuam o Corinthians
Apesar de ocupar a segunda posição do Brasileiro e estar classificado para as oitavas da Libertadores e da Copa do Brasil, o Timão ainda não conseguiu ficar um mês deste ano sem ‘apagar um incêndio’
A palavra “caótico” pode definir muito bem o primeiro semestre do Corinthians em 2022. Apesar de ocupar a segunda posição do Campeonato Brasileiro e estar classificado para as oitavas da Libertadores da América e da Copa do Brasil, o Timão ainda não conseguiu ficar um mês deste ano sem “apagar um incêndio”. O último aconteceu na metade desta semana, quando o atacante Jô, que se recupera de uma lesão, foi flagrado em uma roda de pagode durante o revés do time para o Cuiabá, na terça-feira passada. Para piorar a situação, o centroavante faltou ao treino do dia seguinte, provocando mais burburinho nos bastidores do Parque São Jorge. A rescisão de contrato foi a única saída para as partes. O incidente, no entanto, foi só a ponta do iceberg da temporada do Alvinegro. Abaixo, a Jovem Pan Online mostra o quão está sendo conturbada a vida do presidente Duílio Monteiro Alves e do restante da diretoria corintiana.
Demissão de Sylvinho
A diretoria corintiana optou por manter Sylvinho no cargo após o treinador atingir o objetivo da temporada passada: colocar o Corinthians na fase de grupos da Libertadores. Contestado, o treinador praticamente não teve tempo para mostrar o seu trabalho em 2022. Logo na terceira rodada do Paulistão, ele foi demitido depois de uma derrota para o Santos, quando milhares de torcedores presentes na Neo Química Arena pediram a saída do comandante. A decisão gerou críticas de parte da imprensa aos diretores corintianos, que desperdiçaram a já curta pré-temporada de 2022.
Tabu em clássicos e declarações de Vitor Pereira
Quinze dias após demitir Sylvinho, a diretoria corintiana anunciou a contratação de Vitor Pereira, voltando a ter um técnico estrangeiro após 17 anos. O treinador, no entanto, chegou em uma “fogueira”, enfrentando e os rivais Palmeiras e São Paulo como visitante. O Alvinegro, inclusive, acabou sendo eliminado na semifinal do Estadual pelo Tricolor, causando certa pressão ao português logo nas primeiras semanas de trabalho. Os problemas de VP no Timão, no entanto, não se atêm ao fato de não ter vencido um clássico.
Durante sua passagem pelo Alvinegro, Vitor Pereira chegou a trocar recados via imprensa com Róger Guedes, atacante que passou a ficar insatisfeito com o status de reserva. Depois de saber que o jogador estava pedindo mais oportunidades em sua posição de origem, o “professor” pediu ao atleta mais empenho nos treinos. Também durante entrevista coletiva, o português polemizou ao dizer que preferia treinar o Liverpool, algo que não foi bem aceito por uma parcela da diretoria corintiana. Depois, pediu desculpas: “Em casa, ao ouvir minhas palavras, vi que não fui feliz ao expressar aquilo que pretendia”.
Calote de patrocinadora
Ainda em dezembro do ano passado, a diretoria do Corinthians fez “barulho” ao anunciar o retorno do meio-campista Paulinho, ídolo da Fiel. Na apresentação do volante, os dirigentes corintianos comunicaram que uma nova patrocinadora, chamada Tausna, arcaria com os vencimentos do badalado jogador e ainda investiria em outros negócios. Após alguns meses, no entanto, veio à tona que a empresa ligada ao agronegócio não estava cumprindo com sua palavra, aplicando um calote no clube da capital paulista. Precisando acionar o departamento jurídico, o Corinthians segue lidando com o problema nos tribunais. Para piorar a situação, o veterano atleta rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo e só retornará aos gramados na próxima temporada.
Casos de polícia
O torcedor corintiano também passou acompanhar o time do coração na editoria de polícia dos veículos de comunicação. Ainda em fevereiro, o zagueiro Robson Bambu, contratado por empréstimo no início da temporada, foi acusado de ter estuprado uma jovem. Mesmo com o episódio, o defensor continuou sendo relacionado para as partidas do Alvinegro. Três meses depois da acusação, o Ministério Público pediu o arquivamento do caso. Outro atleta do Timão que está passando por problemas extracampo é o lateral-direito Rafael Ramos, também contratado nesta temporada. Durante a partida diante do Internacional, pelo Brasileirão, o português foi acusado de ter cometido injúria racial por chamar o meio-campista Edenilson de “macaco”. Nesta semana, a perícia oficial disse que a leitura labial foi “inconclusiva”, repassando o laudo para a Polícia Civil, responsável pela investigação — o episódio também é apurado pelo Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).
Os jogadores do Corinthians, por outro lado, também foram vítimas. Cássio, um dos maiores ídolos da história do clube, Willian e outros atletas foram ameaçados de morte em meio aos resultados ruins da equipe — o goleiro e o meio-campista levaram o caso para a Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (DRADE). O episódio também envolveu o presidente Duílio Monteiro Alves, que alegou ter sido intimidado pelo influenciador Kelvin Thiago, conhecido como “Mil Grau”. O corintiano chegou a prestar depoimento e disse que não cometeu tal delito.
Reclamação de torcedor que denunciou racismo
Um torcedor do Corinthians denunciou um caso de racismo na partida com o Boca Juniors, na Neo Química Arena, pela fase de grupos da Copa Libertadores da América. Na arquibancada, o corintiano viu um homem com a camisa do time argentino imitando um macaco e acionou a Polícia Militar presente no estádio — o infrator chegou a passar a noite na delegacia, mas foi liberado após pagamento de fiança. O denunciante, no entanto, reclamou da forma como foi tratado pela diretoria do clube durante o processo. “Eu fiquei revoltado, estava do lado do cara. Ele não ficou numa cela. O que mais me deixou irritado foi que, quando eu fui depor, ele não estava como um réu. A situação dele estava resolvida, e a minha, não”, disse, em entrevista ao site GE. “O Corinthians não me deu nenhum suporte. Quem me deu suporte foram os policiais do Choque, que me ofereceram água, cadeira, me trataram superbem. Não fui tratado como um bicho pela polícia, fui tratado como um bicho pelo Corinthians. O clube pegou meu nome, o advogado deles estava lá, sim, mas não foi falar comigo em nenhum momento”, acrescentou.
Luan
Com o Corinthians em grave crise financeira, Luan permanece recebendo um salário alto, mas sem render o esperado. O meia-atacante, é verdade, foi contratado em 2020 e não é exatamente um problema recente. Nesta temporada, porém, o jogador de 29 anos praticamente não entrou em campo — ele participou de apenas três jogos em 2022. A diretoria corintiana, desta forma, espera resolver mais esse problema em julho, quando abre a janela de transferências. “É um atleta que foi eleito Craque das Américas, sabemos do potencial dele, mas não sabemos o que está acontecendo. Ele foi convocado para alguns jogos, e na véspera do jogo, se colocou fora porque estava sentindo dores. É uma situação delicada, o Corinthians tem contrato com o atleta, não é tão simples fazer a rescisão”, declarou Roberto de Andrade, diretor de futebol do Timão.