》A grande dúvida sobre o que está por trás do desemprego nos EUA – Expresso Noticias

Vamos ao assunto:

O futuro do trabalho americano pode estar preso entre decisões de juros, imigração e incerteza econômica


O cenário econômico dos Estados Unidos entrou em um campo de incertezas tão denso que até os mais experientes analistas de Wall Street estão divididos. O último relatório de empregos, divulgado em 1º de agosto pelo Departamento de Estatísticas do Trabalho (Bureau of Labor Statistics), provocou um verdadeiro abalo nos mercados financeiros — não apenas pelo conteúdo, mas pela forma como as cifras foram revisadas. O número de novos empregos criados em julho veio muito abaixo do esperado, e as estimativas dos dois meses anteriores foram drasticamente rebaixadas. Juntos, esses ajustes reduziram a média de crescimento da folha de pagamento para apenas 35 mil vagas por mês nos últimos três meses — o menor ritmo desde 2020.

Apesar da taxa de desemprego ter subido para 4,2% em julho — o patamar mais alto desde 2021 —, esse índice ainda não se distancia tanto do registrado no ano anterior. A verdadeira surpresa, no entanto, foi o tamanho e a velocidade da correção nos dados. Tanto que o presidente Donald Trump, em reação imediata, demitiu o chefe do BLS, acusando a agência, sem apresentar provas, de manipular os números para prejudicar sua imagem política. A atitude gerou ainda mais desconfiança e intensificou o debate sobre a confiabilidade dos indicadores e sobre o que realmente está acontecendo com a economia americana.

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No centro dessa tempestade está uma pergunta que divide os principais economistas do país: o que está por trás da desaceleração nas contratações? É uma questão que vai muito além de gráficos e projeções — tem implicações diretas sobre o futuro da política monetária, a estabilidade do mercado e, em última instância, o bem-estar de milhões de trabalhadores.

Dois cenários opostos se enfrentam. De um lado, há quem defenda que o principal problema é a falta de trabalhadores disponíveis. Segundo essa visão, a forte repressão às políticas de imigração adotada pelo governo Trump nos últimos meses reduziu significativamente o fluxo de mão de obra estrangeira, especialmente em setores como construção civil, serviços, agricultura e logística — áreas que historicamente dependem de imigrantes. Com menos gente no mercado, as empresas simplesmente não conseguem preencher todas as vagas, mesmo oferecendo salários mais altos.

Do outro lado, há quem veja um sinal mais preocupante: a queda na demanda por trabalho. Nesse caso, o problema não é a escassez de pessoas, mas sim a perda de impulso da economia. Empresas estariam contraindo seus planos de expansão, adiando contratações ou até mesmo reduzindo o quadro por medo de uma desaceleração mais profunda. Se for esse o caso, a fraqueza no mercado de trabalho pode ser o primeiro aviso de uma desaceleração mais ampla — ou até de uma recessão.

A distinção entre essas duas leituras é fundamental. Se a causa for mesmo a oferta limitada de trabalhadores, o Federal Reserve (banco central dos EUA) pode se sentir mais confortável para manter as taxas de juros em níveis elevados, já que não haveria risco iminente de demissões em massa. Mas se o problema for uma queda na demanda, o Fed poderia ser forçado a agir mais cedo, cortando juros para estimular a economia antes que o desemprego dispare.

“Se o que estamos vendo são apenas efeitos da imigração ou se são verdadeiros efeitos da demanda é definitivamente a questão-chave”, disse Veronica Clark, economista do Citigroup Inc., resumindo o dilema que domina as mesas de análise em Wall Street. “É muito provável que haja alguns efeitos da imigração nos dados, mas os detalhes também sugerem uma demanda mais fraca não relacionada à imigração, que parece estar piorando.”

A fala de Clark reflete um sentimento crescente: que ambos os fatores podem estar em jogo, mas que a contribuição da queda na demanda talvez esteja sendo subestimada. Alguns indicadores secundários, como a redução no número de horas trabalhadas e na rotatividade de empregos, apoiam essa hipótese. Além disso, o ambiente de negócios tem sido afetado por outras medidas do governo Trump — como as novas tarifas comerciais e a instabilidade nas relações com parceiros estratégicos — que podem estar desacelerando investimentos e ampliando a cautela das empresas.

O debate ganhou ainda mais peso após declarações do presidente do Fed, Jerome Powell. Dois dias antes da divulgação do relatório de empregos, ele afirmou que o banco central poderia ignorar temporariamente uma desaceleração no ritmo de contratações — desde que a taxa de desemprego não subisse de forma sustentada. Powell chegou a sugerir que a chamada “taxa de equilíbrio” — o número de empregos que a economia precisa criar mensalmente para manter a taxa de desemprego estável — poderia estar perto de zero, dada a retração no crescimento da força de trabalho, especialmente por conta da imigração.

Essa interpretação, embora tranquilizadora para quem acredita na tese da escassez de mão de obra, não convenceu todos. Muitos economistas renomados — como os times do Morgan Stanley, Barclays Plc e Bank of America Corp. — passaram a defender que a desaceleração se deve, sim, em grande parte à queda na oferta de trabalhadores. Eles argumentam que, com a imigração restrita, o mercado de trabalho está simplesmente operando com menos gente, o que naturalmente limita o crescimento do emprego.

Com base nisso, esses analistas acreditam que o Fed pode esperar até dezembro — ou mesmo mais — antes de começar a cortar os juros. Para eles, não há pressão urgente para afrouxar a política monetária, pois o desemprego ainda está sob controle e a inflação, embora persistente, vem mostrando sinais de moderação.

Mas há vozes dissidentes. Alguns observadores alertam que focar apenas na imigração pode cegar o mercado para sinais mais perigosos. Afinal, mesmo com menos imigrantes chegando, a economia americana ainda deveria ser capaz de criar mais empregos se a demanda estivesse forte. O fato de não estar fazendo isso indica que algo mais está em jogo — talvez uma perda de confiança, um excesso de endividamento ou o impacto cumulativo das políticas protecionistas.

Nos corredores de Wall Street, o debate continua acalorado. Reuniões de análise se estendem por horas, planilhas são refeitas, projeções são ajustadas. Nunca antes, talvez, uma simples mudança nos dados de emprego gerou tanta reflexão. O que está em jogo não é apenas a trajetória dos juros, mas a própria narrativa sobre a saúde da economia americana.

Enquanto isso, milhões de trabalhadores seguem vivendo o dia a dia sem saber se a economia vai acelerar, estagnar ou recuar. Para eles, as divisões de Wall Street podem parecer distantes. Mas as decisões que saírem desses debates — sobre juros, empregos e investimentos — terão impacto direto em suas vidas. Afinal, por trás de cada número, há um salário, um lar, um sonho. E é por isso que, mesmo no meio de gráficos e teorias, a economia sempre será, acima de tudo, uma questão humana.

A grande disputa de Wall Street: imigração ou demanda? O que realmente trava o mercado de trabalho dos EUA

Enquanto o debate sobre a saúde da economia americana ganha contornos de uma batalha ideológica nos corredores do poder, os economistas de Wall Street seguem divididos entre duas narrativas que, embora distintas, não se excluem completamente. De um lado, os que enxergam na repressão imigratória do governo Trump o principal vilão por trás da desaceleração no crescimento de empregos. De outro, os que alertam para um sintoma mais perigoso: a queda na demanda por mão de obra — um sinal de que a economia pode estar perdendo força.

Essa divisão não é apenas técnica. Ela tem implicações diretas sobre o que o Federal Reserve (Fed) fará com os juros nos próximos meses — e, consequentemente, sobre o rumo da economia global. Enquanto alguns bancos de investimento como Morgan Stanley, Barclays e Bank of America acreditam que o Fed pode manter os juros altos até dezembro, outros — como Goldman Sachs, Citigroup e UBS — defendem que a desaceleração nas contratações é um sinal claro de fraqueza estrutural e que o banco central deverá agir já em sua próxima reunião de política monetária, marcada para setembro.

“Vemos pouca contradição entre o lento crescimento do emprego e uma baixa taxa de desemprego quando os efeitos dos controles de imigração são levados em consideração”, escreveram os economistas do Morgan Stanley, liderados por Michael Gapen, em um relatório divulgado logo após a publicação dos dados do Departamento de Estatísticas do Trabalho (BLS), em 1º de agosto. “Ainda assim, dada a rapidez com que as contratações parecem estar desacelerando, não seria preciso muito para mudarmos de ideia.”

A frase, aparentemente neutra, carrega um alerta: mesmo os que defendem a tese da escassez de mão de obra reconhecem que o cenário pode mudar rapidamente — e que o risco de uma desaceleração mais profunda está longe de ser descartado.

A imigração como argumento político

O relatório do BLS trouxe dados que foram imediatamente usados como arma política. Uma análise baseada na pesquisa domiciliar — que coleta informações diretamente de lares — indicou que a força de trabalho estrangeira caiu cerca de um milhão de pessoas nos últimos três meses. Um número que o governo Trump não perdeu tempo em celebrar.

“Desde que o presidente assumiu o cargo, ele criou cerca de 2,5 milhões de empregos para americanos, enquanto eliminamos cerca de um milhão de empregos para trabalhadores estrangeiros”, afirmou Stephen Miran, presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, durante uma entrevista à CNN no mesmo dia da divulgação dos dados. “Isso é resultado da nossa forte política de imigração, da nossa forte política de fronteira, mantendo a América segura.”

Miran, indicado por Trump para uma vaga temporária no Conselho de Governadores do Fed, usou o momento para reforçar a narrativa de que a restrição imigratória não só protege a soberania nacional, mas também beneficia os trabalhadores americanos, ao “liberar” vagas para cidadãos nativos.

Mas muitos analistas olham com ceticismo para esses números. A pesquisa domiciliar, embora valiosa, é notoriamente volátil e sujeita a flutuações estatísticas que nem sempre refletem mudanças reais na população. E é aí que o debate se complica.

Jonathan Pingle, economista-chefe do UBS para os EUA, foi direto ao ponto: “Não é que de repente demos à luz muitos jovens de 16 anos e aumentamos a população nativa.” Ele se refere a um dado curioso — e, para muitos, suspeito — presente no relatório: o aumento simultâneo da força de trabalho nativa e a queda acentuada na força de trabalho estrangeira. Uma combinação que, em termos demográficos, parece improvável.

Com a análise baseada na pesquisa domiciliar cada vez mais questionada, os economistas estão voltando sua atenção para a pesquisa com empresas, que é a fonte principal dos dados de emprego e que, desta vez, sofreu grandes revisões para baixo nos meses de maio e junho. É nesse conjunto de dados que a verdadeira história pode estar escondida.

Setores em xeque: onde a imigração pesa mais?

Para tentar isolar o impacto da imigração, analistas estão comparando o desempenho de setores historicamente dependentes de mão de obra imigrante — como construção civil, agricultura, serviços de limpeza, hotelaria e lazer — com aqueles menos expostos a esse fluxo.

O Bank of America destacou que justamente esses setores estão entre os que mais desaceleraram suas contratações. A construção, por exemplo, praticamente estagnou. O lazer e a hotelaria, que vinham se recuperando com força, agora mostram sinais de exaustão. Para os analistas do banco, isso é um indício claro de que a falta de trabalhadores está travando o crescimento.

Já os economistas do Goldman Sachs chegaram a uma conclusão diferente. Ao comparar os setores mais dependentes de imigrantes com outros que estão mais expostos às tarifas comerciais — como indústrias de transformação e manufatura —, eles notaram que o desempenho não é tão distinto. Em outras palavras, se a imigração fosse o fator dominante, esses setores deveriam estar muito piores. Mas não estão.

“Os dados não mostram um colapso específico nos setores imigrantes”, argumentou uma análise do Goldman. “O que vemos é uma desaceleração generalizada — e isso aponta para um problema de demanda.”

A queda na participação da força de trabalho: um sinal de alerta

Um dos indicadores mais preocupantes do relatório foi a queda de 0,4 ponto percentual na taxa de participação da força de trabalho nos últimos três meses — a maior queda em oito anos, desconsiderando o início da pandemia de 2020. Esse número mede a proporção de pessoas em idade ativa que estão trabalhando ou procurando emprego. Quando ela cai, pode significar que pessoas estão desistindo de procurar trabalho — o que, em tempos normais, é um sinal de desânimo econômico.

Quem defende a tese da imigração vê nisso uma confirmação: com menos imigrantes entrando no país, a base de trabalhadores disponíveis encolhe naturalmente. Já quem acredita na queda da demanda interpreta essa queda como um sinal de que a economia está perdendo fôlego — afinal, a participação tende a cair em períodos de recessão, quando as oportunidades diminuem e as pessoas desistem.

Veronica Clark, do Citigroup, sintetizou bem o dilema: “Ambas as questões implicariam uma queda na oferta de mão de obra este ano — desaceleração da imigração e demanda fraca, já que a participação na força de trabalho normalmente cai em períodos de recessão. Mas se a demanda fraca for a força mais avassaladora, não será suficiente para impedir o aumento da taxa de desemprego.”

E é aí que o risco se torna real. Por enquanto, o desemprego ainda está em 4,2% — alto para os padrões recentes, mas longe de um patamar crítico. Mas se a demanda continuar fraca, esse número pode começar a subir. E aí, o Fed não terá escolha senão agir.

O que vem pela frente?

Com os dados se mostrando ambíguos e as interpretações cada vez mais polarizadas, o caminho para o Fed está longe de ser claro. A decisão de manter os juros altos ou cortá-los depende de uma leitura que ainda não existe consenso.

O que está em jogo vai além da economia: é uma questão de confiança. Confiança dos consumidores, dos empresários, dos investidores. E, no meio disso tudo, milhões de pessoas que acordam todos os dias para trabalhar, estudar, sustentar suas famílias — sem saber se a economia vai abrir novas portas ou fechar as que ainda estão abertas.

Wall Street pode estar dividida, mas uma coisa é certa: o tempo para decidir está se esgotando. E quando o Fed se reunir em setembro, o peso dessas análises — e das vidas que elas representam — estará sobre a mesa.

Com informações de Bloomberg e Agências de Notícias*

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