》Tarifas de Trump começam a provocar inflação nos EUA – Expresso Noticias

Vamos ao assunto:

Matéria do The New York Times mostra que a inflação americana acelerou em julho, em meio a pressões de tarifas, e empresas começam a repassar custos ao consumidor


O ritmo da inflação nos Estados Unidos ganhou força em julho, impulsionado principalmente por um aumento no chamado “núcleo” do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) — medida que exclui alimentos e energia, itens conhecidos pela volatilidade. Os dados, divulgados pelo Departamento de Estatísticas do Trabalho, revelam que o cenário inflacionário está começando a sentir de forma mais evidente o impacto das tarifas impostas pelo presidente Donald Trump.

O IPC geral manteve alta de 2,7% na comparação com julho do ano passado. No acumulado do mês, houve avanço de 0,2% frente a junho. Já o núcleo da inflação, considerado um termômetro mais fiel da tendência de preços e acompanhado de perto pelo Federal Reserve, avançou 0,3% em julho, acumulando alta de 3,1% em 12 meses. Trata-se de uma das maiores variações mensais do ano e do crescimento anual mais rápido registrado nos últimos cinco meses. Em junho, o núcleo havia subido 0,2% no mês e 2,9% no acumulado de 12 meses.

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Segundo economistas, o movimento reflete a dificuldade das empresas em absorver os custos adicionais impostos pelas tarifas, especialmente sobre importações. “A economia está mais fraca por causa das tarifas”, afirmou Stephen Stanley, economista-chefe do Santander para os EUA. “As empresas estão muito cautelosas. Elas não estão investindo e não estão contratando”, destacou, acrescentando que o consumidor também sente o peso dos preços mais altos e começa a reduzir gastos.

Desde abril, todas as importações passaram a pagar uma tarifa de 10%, além de impostos adicionais sobre aço, alumínio e produtos vindos da China e do Canadá. Algumas tarifas mais severas entraram em vigor apenas no início de agosto, portanto ainda não aparecem nos dados de julho. Até aqui, muitas empresas haviam recorrido a estoques preventivos e absorção de custos para evitar repassar aumentos, mas os números mais recentes indicam que essa estratégia está chegando ao limite.

O setor de serviços registrou, em julho, o maior avanço mensal no ano — considerando valores ajustados pela exclusão de custos de energia. Entre os segmentos mais afetados pelas tarifas e que apresentaram elevação de preços estão móveis, eletrodomésticos, artigos de recreação e calçados.

O índice de mobiliário doméstico subiu 0,7% no mês, após alta de 1% em junho, acumulando 2,4% em um ano. Produtos ligados à recreação tiveram aumento de 0,4%. Já o vestuário para bebês e crianças pequenas registrou salto de 3,3% em julho, enquanto o preço dos calçados avançou 1,4%.

Para Stanley, a pressão é inevitável: “As tarifas são altas o suficiente para que, mais cedo ou mais tarde, a maioria dos setores tenha de aumentar preços. É apenas uma questão de quando e como fazer isso.”

Apesar do avanço, o resultado de julho veio dentro das expectativas de mercado, o que abre espaço para que o Federal Reserve mantenha seus planos de cortar novamente a taxa básica de juros — movimento interrompido desde dezembro.

Passagens aéreas disparam e pressão sobre consumidores aumenta em meio a cenário econômico incerto

Os dados de julho mostram que o transporte aéreo foi um dos destaques de alta no mês. As passagens subiram 4%, revertendo uma sequência de quedas registrada nos meses anteriores. No entanto, os custos de hospedagem continuaram contidos, com despesas em hotéis praticamente estáveis.

No setor automotivo, as montadoras vinham segurando preços para proteger consumidores das tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, evitando repassar de imediato o aumento de custos. Mas essa postura começou a mudar. Em julho, os preços de carros e caminhões usados avançaram 0,5%, enquanto os veículos novos permaneceram estáveis.

Uma das poucas forças atuando para conter a inflação foi a queda acentuada nos preços da energia. O índice geral do setor recuou 1,1%, com destaque para a gasolina, que ficou 2,2% mais barata. Essa retração ajudou a compensar parcialmente os aumentos em outras áreas.

Ainda assim, o cenário para o consumidor americano é de cautela. Com contratações desacelerando nos últimos meses e revisões negativas nos números de emprego — em maio e junho, foram retiradas das estatísticas 258 mil vagas previamente contabilizadas —, muitas famílias estão mais seletivas sobre como gastar. “O consumidor não tem condições de ir às compras e pagar preços mais altos”, avaliou Nancy Lazar, economista-chefe global da Piper Sandler, ressaltando que a renda real, ajustada pela inflação, estagnou.

Embora as empresas ainda evitem cortes de pessoal em larga escala, economistas alertam que, caso as tarifas continuem corroendo margens de lucro, o enxugamento de custos poderá se tornar inevitável.

O quadro cria um dilema para o Federal Reserve. A autoridade monetária precisa equilibrar dois objetivos que agora caminham em direções opostas: conter a inflação, que dá sinais de aceleração, e impedir um enfraquecimento mais profundo do mercado de trabalho. Desde o início do ano, o Fed manteve as taxas de juros estáveis, aguardando maior clareza sobre os impactos da política comercial de Trump.

Essa postura, porém, tem atraído críticas crescentes do presidente. Na terça-feira, Trump voltou a atacar diretamente Jerome H. Powell, presidente do banco central, e o Conselho de Governadores, chamando-o de “perdedor” e acusando-o de causar prejuízos “incalculáveis” à economia americana.

Trump amplia ofensiva contra o Federal Reserve e promove mudanças estratégicas antes de decisão sobre juros

A tensão entre a Casa Branca e o Federal Reserve ganhou novos capítulos nesta semana. O presidente Donald Trump ameaçou abrir o que chamou de processo “importante” contra o presidente do Fed, Jerome Powell, criticando duramente as reformas em andamento na sede do banco central, em Washington. Segundo ele, o projeto representa um desperdício de recursos e tornou-se um dos principais alvos de sua ira, sobretudo diante da resistência do Fed em cortar as taxas de juros ao longo deste ano.

Na semana passada, Trump anunciou que indicaria um governador temporário para ocupar uma vaga inesperada no Conselho do Fed, responsável por votar as taxas de juros em todas as reuniões de política monetária — a próxima marcada para setembro. A posição ficou aberta após Adriana Kugler anunciar sua saída antes do fim do mandato, previsto para janeiro.

Para o cargo, o presidente escolheu Stephen Miran, crítico de longa data do Fed e ex-presidente do Conselho de Assessores Econômicos de Trump. Na terça-feira, Miran afirmou que os dados mais recentes “não apresentaram nenhuma evidência” de que as tarifas teriam impulsionado os preços, contrariando análises de diversos economistas. “Simplesmente não deu certo”, disse ele.

Miran, que ainda precisa passar pela confirmação do Senado, se somaria a um conselho que começa a mostrar divisões internas sobre o momento certo para retomar os cortes de juros. Dois membros indicados anteriormente por Trump já defenderam publicamente a redução imediata das taxas. O próprio Powell admitiu, neste verão, que, não fosse a pressão inflacionária causada pelas tarifas, o Fed provavelmente já teria reduzido os custos dos empréstimos.

O relatório de inflação de julho também marcou a primeira divulgação econômica relevante do Departamento de Estatísticas do Trabalho desde que Trump demitiu a chefe da agência, Erika McEntarfer. Ela havia comandado o órgão desde 2024 e foi afastada após a divulgação de um relatório de empregos mais fraco que o esperado. O presidente alegou, sem apresentar provas, que McEntarfer teria “manipulado” os números de contratações no governo federal para prejudicá-lo politicamente — acusação duramente rebatida por economistas e especialistas em dados públicos, que alertaram para os riscos de enfraquecer a credibilidade de estatísticas historicamente independentes e confiáveis.

No lugar dela, Trump indicou EJ Antoni, economista da conservadora Heritage Foundation e crítico declarado do Bureau of Labor Statistics. A escolha reforça a guinada política na condução de órgãos técnicos e acrescenta mais um ponto de tensão ao já delicado equilíbrio entre dados econômicos, política monetária e cenário eleitoral.

Com informações de New York Times*

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