》Dragão e elefante retomam voos e estreitam laços – Expresso Noticias

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A retomada dos voos diretos entre China e Índia fortalece intercâmbios econômicos, culturais e estratégicos entre as duas maiores nações da Ásia


A China e a Índia vêm mantendo uma comunicação estreita para promover a retomada antecipada dos voos diretos entre os dois países, afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, nesta quinta-feira. Segundo ele, o diálogo constante entre as autoridades de aviação e diplomáticas sinaliza a disposição de ambos os lados em fortalecer a conectividade aérea e, consequentemente, o intercâmbio econômico e cultural entre as duas maiores nações da Ásia.

“Estamos trabalhando em conjunto com a Índia para retomar as conexões aéreas diretas já no próximo mês”, disse Lin, acrescentando que o governo indiano já solicitou que suas companhias aéreas se preparem para operar voos com destino à China em curto prazo. O porta-voz ressaltou que, somando suas populações, China e Índia abrigam mais de 2,8 bilhões de habitantes, um mercado de enorme relevância para o turismo, os negócios e a cooperação internacional. “A retomada dos voos diretos facilitará viagens transfronteiriças, intercâmbios e colaboração entre nossos países”, afirmou.

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O momento atual, segundo Lin, demonstra a maturidade e a responsabilidade da relação bilateral. Perguntado sobre o clima positivo nas relações China-Índia e sobre a cooperação global entre os dois países, ele destacou o simbolismo do “pas de deux cooperativo do dragão e do elefante”, referindo-se à parceria estratégica entre as duas grandes potências asiáticas. “Este é o caminho certo para ambos os lados, pois China e Índia são grandes países em desenvolvimento e membros importantes do Sul Global, capazes de apoiar-se mutuamente no fortalecimento de suas economias e de sua influência internacional”, explicou o porta-voz.

Lin sublinhou que a China está pronta para trabalhar com a Índia na implementação dos importantes entendimentos alcançados pelos líderes dos dois países. Entre as prioridades estão o aumento da confiança política mútua, a expansão dos intercâmbios e da cooperação em múltiplos setores, a gestão cuidadosa de eventuais diferenças, sempre considerando o panorama estratégico mais amplo, e a intensificação da coordenação em plataformas multilaterais como a Organização de Cooperação de Xangai. “Nosso objetivo é promover um desenvolvimento sólido e estável das relações China-Índia, reforçando a soberania, a autonomia estratégica e a liderança asiática no cenário global”, disse Lin.

Para especialistas em relações internacionais, a retomada dos voos diretos simboliza mais do que uma facilidade logística: é um reflexo do fortalecimento da cooperação regional e da integração econômica entre duas potências que compartilham desafios e ambições similares. Com uma população combinada que representa quase um terço da humanidade, China e Índia têm capacidade de influenciar positivamente o desenvolvimento do Sul Global, servindo de modelo de parceria entre grandes países emergentes.

À medida que o dragão e o elefante avançam lado a lado, a Ásia reafirma sua centralidade no mundo, mostrando que soluções regionais autônomas, construídas sobre confiança, respeito mútuo e objetivos estratégicos comuns, são capazes de gerar estabilidade, prosperidade e inovação para bilhões de pessoas.

Tarifas de Trump fortalecem o BRICS

Além dos avanços bilaterais, fatores externos têm acelerado a integração China-Índia. As tarifas impostas unilateralmente pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criaram um efeito inverso ao esperado: em vez de enfraquecer, China e Índia se aproximaram, consolidando o BRICS — bloco do qual também fazem parte Brasil, Rússia e África do Sul.

O porta-voz Lin Jian ressaltou que a ofensiva americana não apenas reforçou a importância de uma cooperação autônoma entre os países do Sul Global, como também evidenciou a necessidade de mecanismos independentes, como o BRICS Pay, sistema de pagamentos em moedas locais lançado em 2024. “China e Índia atuam para ampliar de forma consistente a confiança política mútua e fortalecer plataformas multilaterais, promovendo o desenvolvimento saudável e estável das relações bilaterais”, afirmou.

Enquanto Trump aplicava tarifas sobre produtos chineses de até 145% e punia a Índia com taxas de 50% sobre exportações, Pequim e Nova Délhi avançaram em iniciativas estratégicas, ampliando a cooperação econômica e diplomática. Modi, por exemplo, estreitou laços com Rússia e Brasil, enquanto a China reforçou seu papel de liderança dentro do BRICS, defendendo uma agenda de soberania e independência econômica para o Sul Global.

Histórico de conflitos e novo momento estratégico

China e Índia compartilham mais de seis décadas de rivalidades territoriais, desde a Guerra Sino-Indiana de 1962 até os confrontos em Doklam (2017) e Galwan (2020). Apesar dos episódios de tensão, o recente movimento em direção à cooperação econômica e diplomática demonstra que ambos os países conseguem colocar parte de suas diferenças de lado em nome de interesses estratégicos maiores.

“A recente aproximação representa uma mudança estratégica significativa”, afirma analista internacional. Ao priorizar estabilidade regional e integração econômica, China e Índia não apenas fortalecem o BRICS, mas também promovem uma ordem multipolar mais equilibrada, reduzindo a dependência de centros de poder tradicionais e reafirmando a soberania asiática.

Rumo a um futuro multipolar e autônomo

Com a retomada de voos diretos, a presença de líderes na OCX e o fortalecimento do BRICS, China e Índia mostram que é possível construir uma parceria madura, pragmática e estratégica, capaz de gerar prosperidade e estabilidade para bilhões de pessoas. O dragão chinês e o elefante indiano consolidam, assim, um novo capítulo nas relações internacionais, no qual a Ásia reafirma seu papel de protagonista global, atuando com autonomia, cooperação e visão de longo prazo.

Com informações de Xinhua e Revista Fórum*

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