》A China no centro de uma nova ordem mundial multipolar – Expresso Noticias

Vamos ao assunto:

A ordem internacional dá sinais de mudança, e a China se apresenta como arquiteta de um projeto multipolar que desafia velhas estruturas


Na vasta paisagem geopolítica do século XXI, poucos eventos recentes carregam tamanha simbologia e profundidade estratégica quanto a Cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCS) realizada em Tianjin, seguida pelo desfile militar em Pequim. Esses dois eventos, articulados com precisão diplomática e grandiosidade simbólica, não foram meras demonstrações de força ou reuniões protocolares. Foram, acima de tudo, uma afirmação clara e inequívoca da liderança da China na construção de uma nova ordem internacional — mais justa, mais equilibrada e menos subordinada à hegemonia ocidental, particularmente aos interesses dos Estados Unidos.

A escolha de Tianjin, cidade estratégica no norte da China, para sediar a cúpula da OCS — o maior bloco regional do mundo em termos de população, território e recursos naturais — não foi casual. Foi um ato político calculado.

A presença de mais de 20 chefes de Estado e de governo, incluindo figuras centrais como o presidente russo Vladimir Putin e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, transformou a cidade em um epicentro global de decisões. Mais do que um encontro diplomático, o evento em Tianjin foi um manifesto coletivo contra o unilateralismo, uma rejeição ao domínio político, econômico e militar exercido pelos Estados Unidos sobre os destinos do planeta.

Leia também:
Cúpula asiática lança sombras sobre a hegemonia dos EUA
Vídeo sobre Pix de Nikolas derruba leis e abre brecha para o PCC
China lança primeiro chip 6G do mundo capaz de atingir 100 Gbps

A OCS, criada com o apoio decisivo de Pequim, tem se consolidado como o principal fórum de cooperação entre nações que buscam autonomia estratégica. Seu crescimento é impressionante: membros plenos como Índia, Paquistão, Irã e Bielorrússia; observadores como Afeganistão e Mongólia; e uma lista crescente de parceiros de diálogo, entre eles Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Turquia, Catar, Mianmar e Sri Lanka. Esse mosaico de nações, embora marcado por rivalidades históricas e interesses divergentes, converge em um ponto fundamental: a necessidade de um mundo multipolar, onde a soberania de cada nação seja respeitada e onde as decisões globais não sejam ditadas por uma única potência.

A China, por meio da OCS, tem demonstrado com maestria sua capacidade de unir países com trajetórias distintas sob um mesmo teto diplomático. É verdade que tensões existem — a Índia, por exemplo, mantém disputas fronteiriças com a China e com o Paquistão; o Irã e a Arábia Saudita carregam rivalidades profundas; e a Ásia Central ainda sente os ecos da influência russa.

Mas é justamente nesse contexto de diversidade que a diplomacia chinesa se destaca. Em vez de impor soluções, Pequim promove o diálogo, o respeito mútuo e a cooperação prática. A própria realização da cúpula já é uma vitória diplomática: reunir tantos atores com interesses conflitantes em torno de uma mesa é um feito raro na história da política internacional.

E é nesse cenário que a China emerge como o verdadeiro arquiteto de um novo paradigma. Enquanto os Estados Unidos insistem em estratégias de contenção, sanções unilaterais e alianças militares como o QUAD — que claramente visam conter a ascensão chinesa —, Pequim oferece uma alternativa baseada no multilateralismo, na não ingerência e na cooperação econômica. A prova disso está no comércio chinês com a Rússia, que tem sustentado a economia russa diante das pressões ocidentais, ou nas relações cada vez mais estreitas com países do Sudeste Asiático, Oriente Médio e África.

A interação entre o presidente Xi Jinping e o primeiro-ministro Modi, após sete anos de distanciamento, é um exemplo claro dessa nova dinâmica. Embora as relações entre China e Índia ainda sejam marcadas por desconfiança, especialmente após o confronto no Himalaia em 2020, a Índia tem começado a repensar sua aliança com Washington.

As tarifas de 50% impostas pelo ex-presidente Donald Trump, em retaliação às compras indianas de petróleo russo, foram um alerta: a dependência estratégica dos EUA vem com custos políticos e econômicos altos. A China, por outro lado, oferece um caminho de diálogo, cooperação e respeito à soberania. A assinatura de um acordo sobre a linha de fronteira em 2024, ainda que frágil, é um sinal de que o diálogo é possível — e que a China está disposta a liderar esse processo com paciência e firmeza.

A reunião entre Xi Jinping e Vladimir Putin, a primeira após o encontro entre Putin e Trump no Alasca, também carrega um peso simbólico profundo. Enquanto os EUA tentam, em vão, isolar a Rússia, a China reafirma seu compromisso com uma parceria estratégica “sem limites”.

Esse alinhamento não é apenas econômico — é político, diplomático e civilizacional. Ele representa a consolidação de um eixo que desafia a narrativa ocidental de superioridade moral e política. E, ao mesmo tempo, coloca a China em uma posição central: não como um aliado subordinado, mas como um parceiro igual, capaz de moldar o futuro da Eurásia.

Mas a mensagem da China não se limita às salas de reunião. Ela também se manifesta em atos de grande simbolismo. A decisão de prolongar a estadia dos líderes em solo chinês para participar do desfile militar em Pequim, em 3 de setembro, data que marca os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial na Ásia, é um exemplo claro disso.

Mais do que uma celebração histórica, o desfile é uma afirmação de soberania, uma demonstração de força e uma homenagem aos milhões de chineses que resistiram à agressão imperial japonesa. É também um recado ao mundo: a China não será mais uma nação subjugada. Ela é uma potência que resiste, que se desenvolve e que está pronta para liderar.

A presença confirmada de líderes como Kim Jong Un, da Coreia do Norte, Aleksandar Vucic, da Sérvia, e Robert Fico, da Eslováquia, reforça o alcance da influência chinesa. Esses países, muitas vezes marginalizados ou pressionados pelo Ocidente, encontram em Pequim um parceiro que respeita sua independência. A ausência esperada de Modi no desfile — com a possibilidade de envio de seu chanceler como representante — mostra que até mesmo os aliados mais próximos de Washington estão reavaliando suas posições. A China não exige lealdade cega; ela oferece respeito, cooperação e oportunidades.

É nesse contexto que a estratégia chinesa se revela com clareza: Tianjin foi o palco da diplomacia multilateral, do diálogo e da construção de consensos. Pequim será o palco da afirmação de poder, da memória histórica e da projeção de liderança. Juntos, os dois eventos formam uma narrativa coerente: a China não busca confronto, mas não teme o confronto. Ela defende a paz, mas está pronta para proteger sua soberania. Ela respeita as diferenças, mas não aceita ingerência.

A declaração conjunta esperada ao final da cúpula — cuidadosamente redigida para agradar a todos os membros, com menções à segurança, cooperação econômica e ao multilateralismo — pode parecer vaga para os observadores ocidentais. Mas seu verdadeiro valor está no simbolismo: alcançar um consenso entre tantas nações com interesses distintos é, em si, uma vitória. E é uma vitória chinesa. Como afirmou o pesquisador Daniel Balazs, “o simbolismo de realmente alcançar uma declaração conjunta é mais importante do que o conteúdo da declaração em si”.

A China, sob a liderança de Xi Jinping, entende perfeitamente que o poder global hoje não se mede apenas em tanques ou mísseis, mas em redes de influência, em capacidade de articulação diplomática e na habilidade de oferecer uma visão de futuro. A OCS é a prova viva disso. Ela não é uma aliança militar como a OTAN, nem um bloco ideológico fechado. É um espaço de cooperação pragmática, onde a soberania é inegociável, onde o desenvolvimento é coletivo e onde o respeito mútuo é a base de tudo.

Enquanto o Ocidente insiste em promover uma ordem baseada em sanções, intervenções e divisão, a China propõe uma ordem baseada em diálogo, desenvolvimento compartilhado e paz duradoura. E é por isso que o mundo está olhando para Tianjin. É por isso que os líderes do Sul Global estão cada vez mais voltados para Pequim.

A nova ordem mundial não será unipolar. Nem será bipolar. Será multipolar — e a China já está no centro dela.

Com informações de Agências de Notícias*

www.expressonoticias.website