》Mulher denuncia médica por perder parte da visão e parar de andar após implante de silicone no RJ; médica nega erro – ExpressoNoticias
Vamos ao assunto:
A vendedora Luciene de Souza, de 27 anos, acusa a médica Sandra Patricia Naranjo Gonzalez de lesão corporal após uma cirurgia de implante de prótese de silicone. O procedimento, realizado em julho de 2024, teria resultado em uma série de complicações, como perda parcial da visão e da audição, além de comprometimento dos movimentos. O caso é investigado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro.
Segundo o boletim de ocorrência registrado no último dia 9, na 27ª DP (Vicente de Carvalho), Luciene alega que a médica “não fez o acompanhamento adequado durante sua permanência no hospital”. Quase nove meses depois do procedimento, a vendedora segue paraplégica, perdeu 30% da visão, não recuperou a audição e faz uso de sonda vesical.
“Mesmo com toda a situação, a doutora me deu alta e me mandou para casa”, contou Luciene em um vídeo publicado nas redes sociais. Na legenda, ela explicou que demorou para tornar o caso público “por achar que a situação mudaria”.
“No dia 26 de julho de 2024, eu realizaria um sonho: colocaria silicone. Mas esse sonho virou um pesadelo. Fui fazer uma cirurgia, feliz, porque eu queria colocar [as próteses] após ser mãe. Juntei dinheiro e paguei tudo. Mas, ao acordar, começou o pesadelo. [Após a operação] estava tudo escuro e eu pensei: ‘estou morta’. Comecei a falar com Deus, em pensamento, para que ele não me deixasse morrer. Quem cuidaria dos meus filhos? Eles precisam de mim. Não sei quanto tempo depois, acordei já sem audição e com meu corpo paralisado do peito para baixo. Bateu um desespero”, relatou a jovem.
A mulher contou que passou por diversos exames no Hospital Semiu para tentar descobrir o que havia acontecido, mas os profissionais acabaram esquecendo de fazer os curativos nos seios. Quando perceberam, segundo ela, os peitos já estavam necrosando: “Eles esqueceram que colocaram o silicone. Quando abriram para fazer os curativos, estava necrosado. Tinha um buraco no meu peito. Mesmo assim, a médica me deu alta”.
A unidade particular afirmou que a médica não possui vínculo com o local e que a operação foi feita de forma autônoma. “A referida cirurgia se deu de forma autônoma e sob exclusiva responsabilidade”, diz a nota da instituição. “Importante destacar que é comum e rotineiro que médicos sem qualquer relação de preposição com hospitais utilizam-se dos centros cirúrgicos dos nosocômios para realizarem procedimentos médicos em seus pacientes, como no caso em questão, sendo esses médicos responsáveis pelo pré e pós cirúrgico dos pacientes”, apontou.

“As obrigações assumidas diretamente pelo complexo hospitalar em casos como esses ficam adstritos ao fornecimento de recursos materiais (instalações adequadas), aos quais a paciente jamais se queixou”, pontuou.
O hospital também informou que “possui toda estrutura e suporte necessário para garantir a segurança para o tipo de procedimento que fora realizado pela paciente Luciene de Souza”.
A defesa da médica, representada pelo advogado João Paulo Cruz, nega qualquer falha. Em nota, Gonzalez afirmou: “Não há qualquer indício de falha médica ou condenação contra mim. Confio plenamente na elucidação dos fatos e sigo firme no compromisso com a medicina responsável, ética e transparente. Reafirmo que todos os cuidados foram prestados com responsabilidade, seguindo os protocolos técnicos da especialidade. A paciente foi devidamente orientada antes da cirurgia, recebeu assistência pós-operatória contínua por mais de 30 dias e permaneceu sob acompanhamento até meu afastamento, por divergências com familiares quanto aos limites legais da atuação médica. Mesmo diante disso, sigo à disposição para qualquer esclarecimento, sempre respeitando o sigilo profissional e as normas éticas que regem minha profissão.
Luciene disse que o valor pago pelo procedimento foi de aproximadamente R$ 20 mil, incluindo os custos com internação. No prontuário médico enviado por familiares, consta que a cirurgia “ocorreu sem anormalidades” e que a paciente foi transferida para a clínica médica após o procedimento.
Um laudo posterior feito por uma neurologista aponta quadro compatível com a Síndrome de Devic, doença autoimune que pode afetar o sistema nervoso. Foi essa médica quem indicou o tratamento que devolveu parte da visão à paciente. Com base na avaliação, Sandra assinou a alta de Luciene, afirmando que continuaria o acompanhamento em consultório.

No mesmo documento, a especialista orientou que a paciente buscasse atendimento em uma universidade privada para iniciar o tratamento da síndrome diagnosticada. Ao retornar para casa, a família percebeu que Luciene precisava de cuidados especiais. Dandara Castro, prima da jovem e técnica de enfermagem, contou que a médica arcou com itens como uma cadeira de rodas e uma cama especial. Ainda assim, as complicações continuaram.
Semanas após a alta, a jovem passou a apresentar secreção constante nas mamas. Sandra, então, a encaminhou para o Hospital Municipal Souza Aguiar, onde ela foi internada novamente, em agosto. Os médicos identificaram a necessidade de uma cirurgia para a retirada das próteses, devido ao risco de uma infecção grave. No entanto, segundo a prima, as demais sequelas não foram tratadas nem investigadas durante esse período.
“A minha prima foi submetida a 2 cirurgias no Souza Aguiar, após essa médica mandá-la para lá. Ela teve que fazer um enxerto, tirar das pernas e do bumbum para colocar no peito. Após a cirurgia, ninguém deu assistência. Ninguém fala o que aconteceu. Só disseram que ela teve uma parada cardíaca, e ficou por isso mesmo”, relatou Dandara.
“Eu [estava] sem ouvir, sem enxergar e sem andar, mas isso ela [Sandra] não quis saber se foi através da cirurgia que eu fiquei assim. Se fosse para ficar antes, eu ficaria antes”, disse Luciene.
A paciente recebeu alta em outubro, sem avanços no quadro neurológico. Embora houvesse encaminhamento para continuidade do tratamento, os familiares afirmam que seguem sem qualquer tipo de suporte: “Quando eu fui para casa, a doutora nunca mais quis saber de mim. Disse que não poderia me ajudar e eu tenho que me virar com tudo, para cuidar de tudo”.
Hoje, a jovem recebe auxílio dos familiares, enquanto amigos e doações ajudam a arcar com os custos de medicamentos para dor e com a manutenção da casa e dos filhos. “Os médicos não aceitam [tratá-la], os hospitais não aceitam. Ela tem febre e a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) a manda de volta para casa. A gente segue pedindo essa solução porque não sabe o que aconteceu, se é reversível ou não”, disse Dandara. Veja o relato da vítima:
Mulher diz que ficou sem andar, cega e surda após aplicação de silicone no RJ pic.twitter.com/B657IcOexx
— WWLBD ✌🏻 (@whatwouldlbdo) April 15, 2025
A Polícia Civil solicitou documentos ao Hospital Semiu e segue apurando o ocorrido. Até o momento, a médica Sandra Gonzalez não foi ouvida oficialmente. Segundo a Folha de S.Paulo, o Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro) abriu uma investigação após a repercussão do caso. O conselho informou que, por enquanto, o processo segue em sigilo e não divulgou quais medidas estão sendo adotadas.
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