Câncer de cólon: o que é a doença que causou a morte do Rei Pelé?
Apenas neste ano o Brasil registrou cerca de 40 mil novos casos da doença, mais comum entre pessoas acima dos 50 anos
O ex-jogador Pelé faleceu nesta quinta-feira, 29, vítima de complicações de um câncer de cólon. Segundo estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA), este tipo de tumor é o quinto mais comum na população brasileira, sem considerar os tumores de pele não-melanoma. O cirurgião do aparelho digestivo Dr. Rodrigo Barbosa explica que o câncer de cólon se desenvolve no intestino grosso e é um tumor que pode ser prevenido. Ele alerta para os sintomas que não podem ser negligenciados: azia, má digestão, dificuldade para engolir e perda de peso. “Alguns sinais ajudam na detecção precoce como diarreia ou prisão de ventre, sangue nas fezes, dor ou desconforto abdominal, além de sensação de cansaço ou até anemia. Esse tipo de câncer, se detectado precocemente, tem cura. A maior prevenção é alimentação saudável rica em fibras e com diminuição na quantidade de sal, enlatados e embutidos. Também é importante evitar bebidas alcoólicas e cigarro e praticar atividade física regular. O check up anual precisa fazer parte da vida de todo mundo, com a realização anual do exame de sangue oculto nas fezes, principalmente para pessoas acima de 50 anos”, esclarece.
“Após os 50 anos de idade, a chance de apresentar pólipos aumenta, ficando entre 18% e 36%, o que consequentemente representa um aumento no risco de tumores malignos decorrentes da condição a partir dessa fase da vida e por isso ela foi estabelecida como critério para início do rastreio ativo. Além de detectar esses pólipos, a colonoscopia permite que eles sejam retirados, o que funciona como mais uma forma de prevenir o câncer”, explica a oncologista Renata D’Alpino, co-líder da especialidade de tumores gastrointestinais do Grupo Oncoclínicas. Ela lembra que pessoas com histórico pessoal de pólipos ou de doença inflamatória intestinal, como retocolite ulcerativa e doença de Crohn, bem como registros familiares de câncer colorretal em um ou mais parentes de primeiro grau, principalmente se diagnosticado antes de 45 anos, devem ter atenção redobrada e realizar controles periódicos antes da idade base indicada para a população em geral.
O INCA estima que, neste ano, o Brasil somou 40.990 casos novos de câncer de cólon e reto, afetando em proporção quase igual ambos os gêneros. Já o número de mortes chega a 18.867, sendo 9.207 homens e 9.660 mulheres, de acordo com os dados mais recentes disponíveis. Quando descoberto em estágios iniciais, o tumor pode ser curado em 70% dos casos. Renata afirma que há muitos tabus que cercam o rastreio preventivo do câncer colorretal, o que contribui para a baixa adesão ao controle precoce da doença mesmo entre pessoas que fazem parte do grupo com risco aumentado. “Muitas vezes, o tumor só é descoberto tardiamente, diante de sintomas mais severos. Apesar do sangue nas fezes ser um indício inicial de que algo não vai bem na saúde, muitas pessoas costumam creditar essa ocorrência a outras causas convencionais, como hemorroidas, e acabam postergando a busca por aconselhamento médico e a realização de exames específicos. Isso faz com que muitas pessoas só descubram o câncer em estágios avançados”, diz a médica.
A especialista complementa que hábitos de vida menos saudáveis, com maior taxa de sedentarismo e consumo de alimentos ultraprocessados como refrigerantes, salgadinhos e enlatados podem contribuir para o aparecimento da condição “A predisposição genética conta como risco, mas não podemos esquecer que há outros fatores que podem contribuir para o surgimento da doença, tais como obesidade, sedentarismo, dieta rica em carnes vermelhas, tabagismo e alcoolismo. E esses são fatores que fazem parte da ‘vida moderna’ e ajudam a desvendar as razões pelas quais devemos reforçar a conscientização sobre os impactos das nossas decisões pessoais no crescimento de casos de câncer – e não apenas do colorretal”, finaliza Renata D’Alpino.