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Messi leva a Argentina ao título da Copa após 36 anos, vira ‘deus’ em seu país e tira das costas peso do tamanho do mundo

Craque já havia tirado a Albiceleste de um jejum de 28 anos sem título, mas ainda faltava para ele dar à sua gente o troféu do maior torneio do planeta

Adrian DENNIS / AFP


Messi conquistou o último troféu que faltava em sua carreira, justamente o maior deles: o da Copa do Mundo

Em 27 de junho de 2016, Lionel Messi fez um anúncio que chocou o mundo do futebol. Com o semblante abatido — não era para menos, havia acabado de perder um pênalti contra o Chile, na decisão da Copa América —, remoendo a perda de mais um título para a Argentina, anunciou que havia chegado ao fim sua história na Alviceleste. “É incrível. Nós buscamos, tentamos… No vestiário pensei que a seleção não é para mim. É o que sinto agora, é uma tristeza grande. Foram quatro finais, infelizmente não consegui. Era o que mais desejava. É para o bem de todos. Muitos desejam isso”, disse o craque. Pesava sobre seus ombros as derrotas nas finais de três Copas Américas (2007, 2015 e 2016) e uma Copa do Mundo (2014). Para sorte dos argentinos, a aposentadoria não durou dois meses. E neste domingo, 18, no Catar, o jogador certa vez chamado de “pipoqueiro” por torcedores mais apressados do país vizinho fechou seu belíssimo ciclo na seleção argentina com a Copa do Mundo, a primeira dos “hermanos” em 36 anos (e o único troféu que faltava à sua estupenda carreira).

Como em um bom tango, houve espaço para mais sofrimento após o retorno ao time nacional. Na Copa do Mundo de 2018, Messi encontrou uma equipe em frangalhos, nada parecida com aquela que perdeu o Mundial de 2014 para a Alemanha somente na prorrogação. Quase ninguém respeitava o técnico Jorge Sampaoli, que saiu da Rússia com a imagem chamuscada — e só a recuperou no futebol brasileiro, fazendo bons trabalhos no Santos e no Atlético-MG. No entanto, os dedos em Buenos Aires, Rosário, La Plata e Mendoza ainda apontavam na direção do camisa 10. Até Maradona, sempre tão carinhoso com o pupilo, carregou nas críticas: “É inútil querer tornar líder um homem que vai ao banheiro 20 vezes antes da partida. Não deveríamos mais endeusá-lo. Messi é Messi jogando pelo Barcelona. Na Argentina, é mais um”. A redenção chegou apenas em 2021, com a volta de Messi ao Maracanã. Em uma Copa América que quase foi cancelada por causa da crise da Covid-19, a Argentina venceu a Seleção Brasileira no mítico estádio carioca e encerrou um jejum de 28 anos sem nenhum título.

O 3 a 0 sobre a Itália em junho, na recém-criada Finalíssima (torneio de um jogo que reúne as seleções campeãs da América do Sul e da Europa), sinalizaram que Lionel Messi e seus companheiros estavam realmente mais leves após a conquista no Rio de Janeiro. Não à toa, a música que embala a Albiceleste nas arquibancadas do Catar rememora o título em cima do Brasil: “Não posso explicar/Porque não vai entender/As finais que perdemos/Quantos anos as chorei/Mas isso terminou/Porque no Maracanã/A final com os ‘brasucas’/Papai voltou a ganhar”.

Também não é coincidência que outra famosa canção de estádio diga que a torcida argentina é “a que tem Messi e Maradona”. No Catar, Lionel parece ter encarnado o ídolo morto em novembro de 2020, após uma parada cardíaca. “Diego está nos empurrando lá de cima”, declarou o atual dono da camisa 10 no começo da Copa.

Em sua última dança, Messi resolveu ser mais “maradoniano”. Ele briga, xinga, provoca, não se esconde. Virou o líder que todos queriam. Contra a Holanda, nas quartas de final, discutiu com adversários e xingou um repórter: “Está olhando o quê, bobo?”. Tudo isso sem se esquivar do cargo de referência técnica da equipe. O primeiro jogador eleito duas vezes o melhor da Copa do Mundo — o prêmio de 2014 também ficou nas mãos dele, apesar do vice — superou os cinco gols de Maradona em 1986 (fez sete) e, com 13 bolas na rede em cinco Mundiais, ainda passou o próprio Diego (9) e Batistuta (10) para se tornar o maior goleador da Alviceslete na história das Copas. Os cânticos, os murais pintados em Buenos Aires e o sorriso estampado na cara de todo “hermano” deixam claro o que todos suspeitavam: há espaço hoje para dois deuses no olimpo argentino.