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Paulistinha ou Paulistão? Palmeiras sacrifica até estreia na Libertadores para não reviver zebra após 37 anos

Derrota no Estadual de 1986 deixou traumas que aterrorizam a torcida palestrina até hoje

Cesar Greco/Palmeiras
Gabriel Menino foi o único titular de Abel Ferreira em campo na estreia do Palmeiras na Libertadores

No documentário “12 de Junho de 93 – O Dia da Paixão Palmeirense”, que conta a história dos 16 anos e nove meses do jejum de títulos do Palmeiras, há um capítulo especial para o Paulistão de 1986. Naquele ano, o Verdão tinha a faca e o queijo na mão para findar a fila de uma década, mas a final no Morumbi terminou com vitória da Inter de Limeira por 2 a 1, com gols de Kita e Tato para o time do interior. “Quando acabou, eu não parava de chorar. A tristeza era muito grande”, revelou o lateral Denys, que falhou no segundo gol da equipe do interior. “Foi horroroso. Não passou até hoje”, confessou Martorelli, goleiro alviverde na final. Codiretor do filme, Mauro Beting, comentarista da Jovem Pan News, revelou em seu depoimento que ficou incrédulo com o resultado: “A gente não vai ser campeão em cima da Inter de Limeira com dois jogos em casa? A gente nunca mais vai ser campeão na vida”, chegou a pensar o jornalista.

A dor pela perda de um título contra um azarão gerou um trauma muito grande entre os alviverdes, que se renova a cada “palmeirada”, uma expressão inventada pelos próprios palestrinos para se referir a derrotas inesperadas. Exemplos não faltam: um doloroso e fatal 3 a 0 imposto pelo Bragantino no Paulista de 1989, a queda no Estadual de 1990 após empate em casa contra uma combalida Ferroviária, a eliminação para o ASA, na Copa do Brasil de 2002, a derrota para o Tigres (MEX), na semifinal do Mundial de Clubes de 2020… Neste domingo, 9, o Verdão entrará em campo para evitar mais uma zebra em sua gloriosa história, diante do Água Santa, clube que trocou o futebol de várzea pelo profissional apenas em 2014. A decisão, marcada para as 16h, será no Allianz Parque.

É verdade que a pressão não se compara aos anos de fila, quando uma derrota poderia terminar em confusão. Porém, até mesmo em sua era mais gloriosa, o Palmeiras ainda tem a sua turma do amendoim (expressão popularizada por Luiz Felipe Scolari nos anos 1990 para se referir aos mais corneteiros). Para minimizar os riscos, Abel Ferreira sacrificou até mesmo a estreia na Libertadores, menina dos olhos do torcedor palmeirense. O Verdão entrou em campo para enfrentar o Bolívar com 11 reservas. Caras pouco conhecidas como os “crias da Academia” Gustavo Garcia (lateral direito, improvisado na ponta), Kaiky Lopes (zagueiro) e Fabinho (meio-campista) foram titulares na derrota por 3 a 1 em La Paz. O único titular a jogar no estádio Hernando Siles foi Gabriel Menino, que substituiu Mayke após o lateral sofrer uma lesão. Os demais nem viajaram à Bolívia. Tudo para reverter o placar contra a equipe de Diadema e evitar a nova “palmeirada” no campeonato que os palmeirenses já chamaram de Paulistinha devido a uma polêmica derrota para o Corinthians, em 2018.

“Foi uma semana muito importante para ver aquilo que erramos, principalmente contra o Água Santa. [Nós, titulares] Não estivemos na Bolívia, mas torcemos pelos que foram para lá e sabemos que isso é do futebol. Estamos muito confiantes no que foi trabalhado, no que foi feito aqui, estamos motivados. Sabemos a força da nossa torcida. No ano passado, no mesmo Paulista, precisávamos também reverter um placar em nosso estádio e foi um dos jogos mais incríveis que joguei aqui, a festa mais linda que a torcida fez. Não tenho dúvidas de que estamos confiantes para reverter esse placar”, declarou o meia Raphael Veiga, relembrando o título sobre o São Paulo após derrota por 3 a 1 no duelo de ida.

Se teme uma nova “palmeirada”, a torcida que canta e vibra também canta a plenos pulmões que “o Palmeiras é o time da virada” — música que encantou Abel e embalou o Verdão no Estadual passado. O retrospecto no Allianz Parque também pode funcionar como água benta para exorcizar o fantasma da Inter de Limeira. Foram cinco finais desde que o estádio foi reformado, com cinco voltas olímpicas e apenas uma frustração — o tal dia do Paulistinha. Santos (Copa do Brasil de 2015), Grêmio (Copa do Brasil de 2020), Athletico-PR (Recopa Sul-Americana de 2022) e o próprio Corinthians (Campeonato Paulista de 2020) já sucumbiram em decisões no Allianz, além do já citado São Paulo, no Paulistão do ano passado. “Jogar no Allianz Parque com nosso estádio cheio é sempre um motivo de alegria. Sabemos como os torcedores são importantes para nós, como fazem a diferença”, destacou Veiga. “Sou suspeito para falar, já vi o que fizeram em outros momentos. Espero que, assim como a gente dentro de campo, eles façam a parte deles e juntos possamos comemorar após o jogo.”